Moradores de Tabatinga têm suas casas e plantações destruídas por funcionários de SUAPE.
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O Engenho Tabatinga, no município de Ipojuca, vem sendo palco de um intenso conflito fundiário entre famílias agricultoras (integrantes do movimento de luta pela terra Via do Trabalho) e a empresa pública SUAPE, que administra o Complexo Industrial e Portuário de Suape (CIPS).
Essa história tem início por volta de cinco anos atrás, quando as famílias que residiam em Tabatinga e em outros engenhos próximos, que formavam a Fazenda dos Trabalhadores (como Penderama, Arendepe e outros), se viram pressionadas a assinar acordos com SUAPE para deixar suas terras. O pretexto para remover as famílias foi a criação da estação ecológica de Bita e Utinga numa área de 2.467 hectares, além do fato de que o território do entorno foi definido como Zona de Preservação Ecológica (ZPEC), destinada a projetos de reflorestamento de mata atlântica para compensar a imensa supressão de vegetação nativa para as atividades do Complexo.
Contudo, as famílias que assinaram os acordos com SUAPE para saírem das áreas sentiram-se lesadas em face das condições reais que lhes foram impostas posteriormente, muito diferentes do que lhes havia sido prometido. Os assentamentos Ximenes e Sacambu (em Barreiros e no Cabo, respectivamente), segundo os agricultores, não oferecem condições dignas de moradia, trabalho e escoamento da produção. Quando se depararam com tal realidade, muitas famílias desistiram e foram tentar a vida de outra forma. Os que optaram por uma casa do prometido conjunto habitacional Nova Vila Claudete também se queixam do fato de serem pequenas demais e sem nenhuma área de plantio para a produção de alimentos
Em face dessa situação, muitas famílias removidas promoveram a reocupação de Tabatinga e dos demais engenhos, a fim de retomar seus antigos territórios, que sempre lhes proporcionaram uma fonte de sustento.
A retomada dos engenhos acende o debate sobre a inadequação das políticas de reassentamento voltadas para essas comunidades tradicionais e sobre a real necessidade de remoção de famílias agricultoras para a implementação de projetos de reflorestamento. O Fórum Suape e o conjunto de comunidades atingidas vêm alertando desde 2016 para o fato de que os projetos de reflorestamento de SUAPE são perfeitamente compatíveis com a permanência das famílias no local. Uma vez que seus modos de vida específicos favorecem a preservação dos ecossistemas e que é possível a adoção de técnicas agroflorestais, sua saída se mostra completamente desnecessária e só se justifica como um projeto de limpeza étnica e de especulação imobiliária.
Atualmente, após vários debates sobre a questão, a própria empresa reconhece que não há necessidade de remoção de tais comunidades das áreas instituídas como ZPECs, tendo chegado a comunicar em reunião no dia 13 de fevereiro deste ano sobre a sua resolução de manter as famílias nessas áreas (Edição n.º 26 deste Boletim).
Apesar disso, as famílias que moram no Engenho Tabatinga vêm sendo desde o ano passado alvo de violência constante por parte de seguranças armados da empresa SUAPE, como já noticiado na edição n.º 24 deste Boletim. Conflitos com arma de fogo, destruição de casas e plantações e roubo da produção agrícola, de equipamentos domésticos e até de dinheiro são algumas das situações narradas pelos agricultores.