O Fórum Suape-Espaço Socioambiental lamenta profundamente a morte prematura de Viviane Maria de Oliveira e de Paulo César de Oliveira da Silva, integrantes da comunidade quilombola Ilha de Mercês. Os dois, que eram primos, foram brutalmente assassinados a facadas no último domingo, dia 03 de junho de 2018.
O autor desse crime bárbaro, segundo testemunhas na comunidade, foi o ex-companheiro de Viviane, que, inconformado com o término do relacionamento e movido por ciúmes, desferiu inúmeras facadas na vítima e no seu primo.
Viviane era uma jovem mulher negra e quilombola, que animava a juventude de sua comunidade na luta pelo território e pela dignidade do povo quilombola. Era também uma das integrantes do projeto de reconstrução de casas que vem sendo executado junto ao Fórum Suape na comunidade. A partir de hoje, no entanto, passa a integrar as estatísticas assustadoras de feminicídio.
Em média, doze mulheres são assassinadas todos os dias, segundo dados do Atlas da Violência de 2017. Essa taxa coloca o Brasil na amarga posição de quinto país onde mais se matam mulheres no mundo. Além disso, são as mulheres negras que figuram como a maior parte das vítimas. Segundo o mesmo documento, a mortalidade de mulheres negras teve um aumento de 22% no período de 2005 e 2015, chegando à taxa de 5,2 mortes para cada 100 mil mulheres negras, enquanto que, em relação às não negras, a taxa é de 3,1 assassinatos para cada 100 mil não-negras.
O ódio que ceifou a vida de Viviane e de Paulo César é um ódio baseado na ideia de que a mulher não pode ser livre e dona de seu corpo e de sua vida. É um ódio fruto de um machismo arraigado na sociedade que, quando não mata, fere, humilha e tira a dignidade de milhares de mulheres cotidianamente, seja em casa, no trabalho ou na rua.
Não vamos nos silenciar. A luta do Fórum Suape ao lado das comunidades atingidas pelo Complexo Industrial Portuário de Suape não está dissociada da luta contra o machismo. O patriarcado, em última instância, é um elemento estruturante de um sistema predatório que avança não apenas sobre os corpos e subjetividades femininas, mas também sobre comunidades, sobre territórios e sobre os recursos naturais. Nossa luta, portanto, é feminista e não sossegaremos enquanto todas as mulheres não forem livres.
Exigimos justiça, por Viviane, por Paulo César e por todas as mulheres.
Viviane Maria de Oliveira e Paulo César de Oliveira da Silva: presente, presente, presente!