O diálogo entre pesquisadores, movimento social e comunidades atingidas pelo Complexo de Suape saiu fortalecido do Seminário realizado no dia 14 de novembro, no Auditório Frederico Simões Barbosa do Instituto Aggeu Magalhães, Fiocruz/UFPE, promovido pela Associação Fórum Suape Espaço Socioambiental e Laboratório de Saúde, Ambiente e Trabalho (LASAT)/Fiocruz-PE. O tema central dos painéis debatedores foi “Complexo Industrial Portuário de Suape (CIPS): Desenvolvimento e os Impactos Socioambientais”, já abordado na abertura dos trabalhos pelo coordenador do Fórum Suape, Heitor Scalambrini Costa (veja discurso anexo), que também teve a saudação de boas vindas de Constância Flávia Junqueira Ayres, vice diretora de Ensino e Informação Científica do Instituto Aggeu Magalhães-IAM/Fiocruz-PE.
Pela manhã tivemos um painel sobre a Saúde e modos de vida no território do CIPS, moderado por Aline do Monte Gurgel, pesquisadora do IAM/Fiocruz-PE, que chamou a atenção para o aspecto bioético relacionado aos relatórios de impactos ambientais apresentados pelo CIPS, que não levam em conta a situação de saúde das pessoas que vivem nas comunidades. Essa posição foi reforçada pela palestrante Idê Gurgel (LASAT/Fiocruz), que se referiu aos altos índices de distúrbios mentais, ansiedade, depressão, que passaram a fazer parte do cotidiano das pessoas, após a construção do Porto de Suape. “A região não reúne condições para o atendimento à saúde pública dentro do contexto de alto risco que Suape representa. A luta que muito se expressa no território atingido por Suape é o conflito entre capital e trabalho, que se replica em diversos conflitos estabelecidos no dia a dia”, enfatizou a pesquisadora.
A professora da UFRPE, Joanna Lessa que há três anos realiza um trabalho na comunidade de Nova Tatuoca trouxe várias interrogações sobre o destino dos saberes e memórias existentes na comunidade da Ilha de Tatuoca que foi obrigada a deixar suas terras e seu modo tradicional de vida, para viver em um conjunto habitacional completamente inóspito. Ela denunciou a existência de uma monocultura de casa e o que chamou de memoricídio, como processos implantados por Suape que configuram uma total desvalorização do saber local.
A representante do Fórum Suape na mesa, Rafaela Nicola se posicionou favorável ao diálogo entre saberes e criticou a postura do CIPS que o tempo todo busca projetar uma imagem positiva. Recordou um diálogo com um gestor do Governo do Estado Pernambuco em 2012, no qual ele se referiu a Suape como uma zona de sacrifício. “Qual o significado disso?”, questionou a integrante do Fórum Suape. “O discurso de Suape está embasado em um sistema que se encontra em profundo colapso”, afirmou Nicole apontando que talvez aí esteja a saída.
A parte da tarde teve início com projeções de vídeos e um painel com depoimentos de moradores e moradoras das comunidades do entorno do CIPS, que denunciaram as violações praticadas pelas empresas instaladas na região. Logo em seguida veio o segundo painel, desta vez com o tema Ecossistemas no território do CIPS, que teve como moderadora a pesquisadora da FUNDAJ, Edneida Rabêlo Cavalcanti e como palestrantes Clovis Cavalcanti, presidente da Sociedade Internacional de Economia Ecológica – ISEE e Maria das Graças e Silva, professora do Depto Serviço Social/UFPE. Foi convidado para esse painel o diretor de Meio Ambiente e Sustentabilidade do CIPS, Jorge Araújo, que não compareceu nem enviou qualquer justificativa à coordenação do Seminário.
O economista e ambientalista Clóvis Cavalcanti lembrou de um artigo e do manifesto que escreveu em 1975, publicado pelos grandes jornais de Recife, no qual de forma visionária previa a catástrofe que ocorreria na região do Cabo de Santo Agostinho e Ipojuca com a implantação do Porto de Suape. A professora Maria das Graças criticou o discurso governamental ufanista, “cinicamente Suape propaga que cuida das pessoas e do meio ambiente”. Na sua opinião, Suape é o Estado representado por uma empresa destinada a governar aquele território com mãos de ferro. Citou a pesquisadora Virginia Fontes ao se referir ao processo de expropriação contemporânea, onde a exploração capitalista atinge níveis sofisticados. “Em toda a história, às custas da exploração do trabalho o capitalismo produziu e produz imensas riquezas, mas produz também imensas misérias”, afirmou a professora. O dia de intensos debates foi concluído com um coquetel servido aos participantes.
Contato:Heitor Scalambrini (coordenador do Fórum Suape) = Tel. 99964.4366
Gerson Flávio (assessor de comunicação do Fórum Suape) = Tel.: 55-81-95093043 | 98122.0050 | 3132.2250
Gerson Flávio (assessor de comunicação do Fórum Suape) = Tel.: 55-81-95093043 | 98122.0050 | 3132.2250
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