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Desenvolvimento

TRISTE DESENVOLVIMENTO EM PERNAMBUCO

Por Clóvis Cavalcanti 
Economista ecológico e pesquisador social

A realidade do que se convencionou chamar de desenvolvimento econômico produz turbulências humanas e ecológicas que assustam. É como explica o cientista social suíço Gilbert Rist, professor em Genebra: “O ‘desenvolvimento’ consiste em uma série de práticas…que requerem – para reprodução da sociedade – transformação e destruição tanto do meio ambiente quanto de relações sociais. Seu propósito é aumentar a produção de mercadorias”. Tal ponto é reforçado pelo que proclamou um grupo de destacados pensadores, reunidos em Barcelona em março de 2010: “Uma elite internacional e uma ‘classe média global’ estão causando sofrimento ao meio ambiente através do consumo conspícuo e apropriação excessiva de recursos humanos e sociais”, com padrões de vida cuja imitação leva “a mais ruína ambiental e social…num círculo vicioso de busca de status através da acumulação de possessões materiais”.

O progresso material sem fim, como se busca, tende a ser excludente. Não extingue a miséria. E causa dor a pessoas marginalizadas e à ecologia. É óbvio que impactos ambientais de nossas ações sempre haverá. No entanto, o que clama é a forma desprovida de anteparos éticos com que se exploram os recursos insubstituíveis da mãe Terra. Pior: fazer isso e provocar ainda tormentos infindáveis a pessoas desprivilegiadas e indefesas da sociedade. Exatamente o que se vê hoje em Pernambuco, sobretudo em Suape e no novo pólo de Goiana. No dia 5 deste mês, a propósito, Nivete Azevedo, militante do Centro das Mulheres do Cabo, enviou desesperada mensagem de e-mail (que me chegou) sobre uma ação de despejo que se realizava naquele instante no sítio de um morador de Massangana, Sr. Cláudio Manoel. De maneira violenta e sem maior amparo legal, prepostos da Empresa Suape submetiam o sitiante e familiares a vexames e humilhações. Houve reação imediata de uma advogada da comunidade, que recorreu ao Tribunal de Justiça de Pernambuco, obtendo do desembargador Gabriel de Oliveira Cavalcanti, no dia 8, a intimação da Suape para que a ação fosse suspensa.

Situação parecida, que tem sido acompanhada de perto por pesquisadores da Fundação Joaquim Nabuco – pagos pela sociedade para ajudá-la a conceber como alcançar prosperidade genuína –, é observada no sítio de instalação da Fiat em Goiana. Realiza-se ali, neste momento, uma intervenção de vulto. Suas características levam a impactos sobre o regime hídrico e os ecossistemas da bacia fluvial local, em particular sobre estuários e manguezais. Consequentemente, sobre a atividade pesqueira e a vida dos pescadores dali. Tudo isso não foi previamente avaliado como ocorreria, antes da obra. Ora, o projeto se implanta em área de influência de uma Unidade de Conservação de Uso Sustentável (no caso, uma Resex, ou Reserva Extrativista), que, por lei, deveria ter sido consultada ainda no início do processo de licenciamento das obras. Tudo é feito às pressas, sem transparência, sem participação da sociedade. Ignora-se que ali há uma comunidade – como em Suape – que está sofrendo como se sua existência, invisível que é, não tivesse nenhum valor para os promotores do triste desenvolvimento.

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