Na ultima reunião com a presidência do Complexo Industrial e Portuário de Suape (CIPS) realizada no início de julho, mais uma vez foram relatados por representantes das comunidades os constantes casos de violência contra posseiros e moradores, conflitos, derrubada de casas, reintegração arbitrária dentre outros desmandos praticados na região.
O caso do Assentamento Ximenes, que a empresa considera modelo, na verdade não passa de um“depósito” de ex-moradores retirados pelo CIPS, uma área degradada pela cultura recorrente do plantio intensivo de cana de açúcar, sem assistência técnica, sem infraestrutura de transporte, sem energia elétrica, sem moradias dignas. Nos engenhos Jurissaca e Boa Vista I as pessoas que foram expulsas de suas terras, onde hipoteticamente seria implantada uma área de reflorestamento, há mais de três anos a maioria dessas pessoas não foi indenizada. Perderam suas terras, seus modos de vida, cultivos e, por derradeiro a sua renda e a soberania alimentar.
O mais novo presidente do CIPS, Marcos Baptista se defende alegando que ainda não está totalmente inteirado sobre os procedimentos, que ainda está levantando a situação e que estabeleceu internamente, para seus funcionários, um código de ética/conduta em relação às abordagens. Por sua vez, o coronel Pereira ora responsabiliza as próprias lideranças comunitárias, ora responsabiliza a Prefeitura do Cabo, mas foi categórico em afirmar que quem permanece na terra não foi impedido de reformar ou plantar.
De modo geral, a população que permanece na região está cotidianamente exposta à contaminação do solo e da água, a escassez de alimentos, resultado dos desmatamentos, dragagens/derrocagens, vazamentos de produtos químicos e esgotamentos sanitários. Além disso, as que foram realocadas convivem com a violência das periferias urbanas que não oferecem opção de trabalho e renda, e as que permanecem na área rural, carecem de infraestrutura, tais como esgotamento sanitário, água potável, energia elétrica, insumos agrícolas, assistência técnica, transportes e estradas de acesso para locomoção e escoamento da produção.
Sobre a proibição da pesca, coronel Pereira alega que estão apenas dependendo de uma pendência de cadastro, que já foi solicitada às lideranças pesqueiras, e que quando o processo for concluído, os cadastrados poderão exercê-la, exceto em áreas de segurança portuária. Suape se esquece que “o mar é um bem comum”, direito de todos, além disso, muitos agricultores também são pescadores, mesmo não sendo considerados pescadores artesanais. Faz mais de três anos que não são emitidas as carteiras da pesca.
O que se percebe de fato é que nesse
processo de retomada se estabeleceu apenas um diálogo e não a mesa de negociação, até mesmo porque nunca houve negociação.Não se pode estabelecer processos de negociação entre opressor e oprimido, quando o opressor tem o tamanho do Estado, ou é o próprio Estado.