No dia 27 de abril, o Fórum Suape realizou um Seminário sobre o tema “Petróleo: O que Suape tem a ver com isso?”. O objetivo foi debater sobre a sociedade do Petróleo e a lógica do desenvolvimento pautado em mega empreendimentos, como é o caso do Complexo de Suape, que inicialmente representou o boomdo crescimento de Pernambuco, porém a realidade nos mostra o quanto foi capaz de gerar grandes bolsões de frustração e depressão, de acentuar a desigualdade e a pobreza, além dos impactos sobre o meio ambiente. O Seminário aconteceu no Marante Plaza Hotel, em Boa Viagem, Recife, com 60 participantes.
No período da manhã, após a vivência coletiva de apresentação das pessoas presentes, o físico e professor Alexandre Araújo Costa, da Universidade Estadual do Ceará fez uma excelente abordagem do tema Mudanças Climáticas e Petróleo. Em seguida três outros temas foram abordados por militantes ambientalistas convidados: o primeiro sobre Investimentos dos Governos Estrangeiros no Petróleo, com o holandês Niels Hazekamp, representante da organização Both ENDS. O educador representante da FASE, que atua no estado do Espírito Santo e encabeça a campanha “Nem um Poço a Mais”, Marcelo Calazans falou sobre a Sociedade do Petróleo, trazendo importantes provocações. Por fim, o coordenador do Fórum Suape, Heitor Scalambrini Costa ajudou a aprofundar o tema sobre a opção pelo Petróleo, trazendo uma reflexão a partir do questionamento levantado pelo Seminário: “O que Suape tem a ver com isso?”
No segundo expediente, a problemática da opção pelo petróleo e suas consequências socioeconômicas e ambientais continuou a ser aprofundada. Uma contribuição importante foi a de Eliete Paraguassu, militante do Movimento dos Pescadores e Pescadoras Artesanais da Ilha de Maré, na Bahia. O ambientalista Marcelo Calazans também participou deste painel fazendo uma abordagem mais específica a partir da experiência da campanha Nem um Poço a Mais. O representante da Associação Homens e Mulheres do Mar, Alexandre Anderson de Souza apresentou a experiência de luta de pescadores e pescadoras no Rio de Janeiro. Sebastião Raulino, membro do Fórum dos Atingidos pela Indústria do Petróleo e Petroquímica nas Cercanias da Baía de Guanabara foi outro convidado que veio do Rio de Janeiro compartilhar sua experiência de luta. Ednaldo Rodrigues de Freitas, o Nal pescador, representando a Associação dos Pescadores e Pescadoras Profissionais em Atividades no Cabo de Santo Agostinho falou sobre as consequências socioeconômicas e ambientais a partir da existência do Complexo de Suape.
Como temos observado, na maioria dos discursos oficiais é ressaltada a importância socioeconômica do Complexo de Suape. Que o CIPS é maior do que muitas cidades, no tamanho e na participação do produto interno bruto do Estado de Pernambuco. Ocupa uma área de 13.500 hectares, com 28 comunidades (engenhos) e a presença de 7 mil famílias. Em sua página na internet destaca: “O Complexo Industrial Portuário de Suape desenvolve diversas ações no seu território, a fim de garantir que os três pilares da sustentabilidade (social, econômica e ambiental) coexistam e interajam, colaborando com o crescimento econômico de Pernambuco”. Porém, os debates no Seminário revelaram o inegável rastro de violência contra as comunidades nativas que já existiam no território e mantinham seus modos de vida integrados com o ambiente e com a natureza.
Ao longo dos anos, desde que este empreendimento foi implantado, agricultores e pescadores foram expulsos e perderam suas terras diante da violência praticada pelo CIPS. Efeitos da falta de transparência, falta de diálogo, da mentira e da violência foram e são constantes, deixando enorme passivo ambiental e frustrações. Verificou-se o aprofundamento das demandas sociais, com a favelização e o desemprego, da violência e da crise nas cidades do entorno do Complexo. Qual o preço a ser pago pela sociedade do petróleo? É possível pensar e aprofundar a busca por outras matrizes e fontes energéticas que não poluam nem destruam a natureza? Qual a saída ou quais as saídas?
O Seminário do Fórum Suape permitiu que essas questões fossem aprofundadas à luz de outras experiências de luta semelhantes, do Rio de Janeiro, Espírito Santo, Bahia mostrando que em todos esses lugares pescadores e agricultores sofrem e enfrentam situações muito parecidas com a de Suape. Ao final, foram elaboradas algumas propostas e encaminhamentos práticos que visam fortalecer a solidariedade e a atuação em rede entre as diversas organizações presentes.
Olá camaradas. Foi ótimo ter estado com vocês, e ter aprendido um pouco mais da forte resistência pernambucana à civilização petroleira. Que riqueza poder ouvir pescadores, mulheres, jovens, técnicos, ambientalistas, pesquisadores e principalmente do povo de Suape e sua luta contra esse complexo portuário e industrial devastador da vida humana e da natureza. Vamos barrar a expansão desse monstro e defender os lugares que amamos! (Marcelo Calazans, FASE/ES)
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