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Informe

EFEITO LAVA JATO: ESTALEIRO ATLANTICO SUL DEMITE 2.400

Efeito Lava Jato: estaleiro demite 2.400 em Pernambuco

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Um dos principais empreendimentos em Pernambuco, o Estaleiro Atlântico Sul (EAS), situado no Complexo Industrial Portuário de Suape, no Grande Recife, já sentiu os efeitos da Operação Lava Jato, que apura um esquema de corrupção na Petrobras, envolvendo políticos e empreiteiras. O estaleiro, sob responsabilidade da estatal, iniciou nesta sexta-feira (6), um programa de demissões em massa, que vai dispensar 2.400 pessoas, o que reduzirá o número de funcionário de 4.900 para 2.500.

A medida é decorrente do rompimento do contrato entre o empreendimento e a Sete Brasil, empresa formada pela Petrobras e sócios privados com o objetivo de administrar o aluguel de sondas para o pré-sal. Em grave crise financeira, a Sete está à beira da dissolução e é um dos alvos da Lava Jato.

O diretor operacional da empresa até 2013 era Pedro Barusco, um dos delatores do esquema de corrupção na Petrobras. Ele confessou ter cobrado, junto com o ex-presidente da Sete João Carlos Ferraz, propina de 1% por contrato de sonda. Dos estaleiros contratados pela Sete, cinco tem como sócias empreiteiras envolvidas no esquema, incluindo o Atlântico Sul, que tem como sócios a Queiroz Galvão e a Camargo Corrêa.

Não bastasse a demissão dos 2.400 funcionários, os efeitos do Petrolão na região do porto de Suape pode ser ainda maio. Para cada emprego direto, quatro outros são criados, segundo informações de Veja online, publicadas nesta sexta-feira. Também haverá ainda uma perda em equipamentos, pois os blocos para a montagem dos navios-sonda, com os respectivos equipamentos eletrônicos, estão prontos esperando o dinheiro para o final da montagem.

O estaleiro calcula ter gasto US$ 2 bilhões na obra. “Era inimaginável há até muito pouco tempo que a Petrobras e a Sete não teriam condições de pagar por esses blocos”, disse um executivo do Atlântico Sul. Das dez embarcações contratadas, quatro foram entregues e três devem ser finalizadas até dezembro deste ano.

O Atlântico Sul é o terceiro entre os grandes estaleiros a demitir funcionários e enxugar custo em consequência da crise na Sete. O Ecovix, do Rio Grande do Sul, e o Enseada de Paraguaçu, já realizaram demissões e cortes severos de gasto.

Fonte: Poral 247

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Ambiental Violações

CERCAMENTO DAS ÁGUAS BRASILEIRAS AMEAÇA PESCA ARTESANAL

Fonte: Conselho Pastoral dos Pescadores – CPP
 20 de fevereiro de 2015
Santiago Navarro F. e Renata Bessi
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Mulher guarda os peixes que pescou. Foto: Renata Bessi
Com 12% da água doce disponível do planeta, mais de 3,5 milhões de hectares de lâmina d’água em reservatório de usinas hidrelétricas, um litoral de mais de oito mil quilômetros e ainda uma faixa marítima equivalente ao tamanho da Amazônia, o Brasil possui enorme potencial para a produção da aquicultura. O governo brasileiro, que criou um ministério exclusivamente para o assunto, o Ministério da Pesca e da Aquicultura (MPA), está tratando de direcionar esforços para aumentar a produção de peixe em cativeiro nas águas brasileiras, com o incentivo da Organización de las Naciones Unidas para la Alimentación y la Agricultura (FAO). 
O ritmo de crescimento tem sido acelerado. De 2010 até 2013, a produção nacional de pescado mais que dobrou, saltando de 480 mil toneladas para aproximadamente 1 milhão de toneladas, de acordo com dados do MPA. Para o ano de 2014, a expectativa é que a produção aquícola nacional chegue a 1,3 milhão de toneladas.
O objetivo do governo de transformar os espelhos d’água em parques aquícolas é visto pelo Movimento dos Pescadores e Pescadoras Artesanais como um risco para as áreas de pesca tradicional. “O loteamento das águas doces e salgados que está em processo agora em todo território brasileiro se assemelha ao processo de exploração das terras no Brasil. As terras foram se concentrando nas mãos de poucos proprietários e os pequenos agricultores foram sendo expulsos. Também estamos sendo expulsos para dar lugar a empresas e não vamos demorar a ver também latifúndios nas águas”, afirma Maria das Neves, pescadora em Pernambuco e integrante do movimento.
A aquicultura se instala em grandes áreas e suprime os espaços de pesca artesanal. Seguranças são contratados para garantir que pescadores não se aproximem a uma distância de pelo menos 50 metros do empreendimento. “Além disso, estes empreendimentos prejudicam a piracema e contaminam a água com remédios dados aos peixes. Sem contar a ração que altera a cadeia alimentária dos peixes nativos”, afirma Maria José Pacheco, secretária executiva do Conselho Pastoral dos Pescadores (CPP).
O secretário executivo do CPP no nordeste, Severino Santos, afirma que, para que não haja impacto na pesca artesanal é necessário um ordenamento pesqueiro sério. Para isso, propõe um levantamento da produção pesqueira, identificação das espécies e o zoneamento das áreas de pesca, levando-se em consideração o conhecimento das comunidades pesqueiras.
Invisíveis?
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Local utilizado por pescadores para descanso. Ilha de Itaparica. Foto: Renata Bessi
Questionado, o MPA, por meio de seu departamento de imprensa, afirma que as políticas públicas de fomento da aquicultura não comprometem as políticas públicas de fomento da pesca artesanal. “Uma não inviabiliza a outra porque são linhas de atuação diferentes e que se complementam com o objetivo de aumentar a produção e a qualidade do pescado no país, tanto por meio da aquicultura como por meio da pesca”.
O secretário executivo do CPP, por outro lado, sustenta que não há dúvida de que ações do  MPA invisibilizam a atividade pesqueira artesanal. “O discurso e as ações do MPA estão voltados para o hidronegócio, no início a carcinicultura, e agora a cessão de águas para desenvolver projetos de maricultura e piscicultura para cultivar de forma intensiva, principalmente, a tilápia e o bejupirá”, afirma. “Na região do São Francisco, por exemplo, o governo tem incentivado pescadores artesanais a fazerem investimentos na aquicultura”, critica.
O que existe hoje voltado para o pescador artesanal é o seguro desemprego no período da piracema (novembro a fevereiro), já que são impedidos de pescar nesta época do ano, e empréstimos específicos que chegam ao valor de R$ 2.500.
Contradições nas estatísticas
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Igreja submersa para a construção do Lago de Itaparica aparece devido à seca no sertão brasileiro. Foto: Renata Bessi.
Existem hoje 970 mil pescadores registrados no MPA, sendo que 957 mil são artesanais. De acordo com o ministério, 45% do pescado produzido no país, 1,240 milhão de toneladas, é resultado da pesca artesanal. “Há certa incongruência nestes dados. Como é possível que 96% dos pescadores pesquem menos da metade dos peixes”, afirma Tarciso Quinamo, pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj). O movimento dos pescadores estima que 70% do pescado venha da pesca artesanal.
Qualidade duvidosa
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Pescadores artesanais têm acesso limitado à água em áreas onde há presença crescente de empresas da Aquicultura. Foto: Renata Bessi.
O espelho de água do Lago de Itaparica, nordeste do Brasil, represa as águas do Rio São Francisco e é o terceiro maior espelho do país com uma área de 834 Km2. O lago abarca cinco municípios no estado de Pernambuco – Floresta, Belém São Francisco, Petrolândia, Itacuruba -, e no estado da Bahia os municípios de Glória, Chorrochó e Rodelas. A represa foi feita em função da hidroelétrica de Itaparica, em atividade desde 1988. Para sua construção foram inundadas as cidades de Petrolândia, Itacuruba, Rodelas e o povoado de Barra do Tarrachil.
As Associações dos Pescadores e Pescadoras de Peixe do Lago do Papagaio e a Associação Agropesca São Francisco mantêm seus criadores em uma das ilhas do lago de Itaparica, na região que os pescadores chamam de Serra do Papagaio. Não há como desembarcar na ilha sem submergir pelo menos metade do corpo na água, aparentemente limpa e cristalina. A equipe de reportagem desembarcou a alguns metros dos tanques onde os peixes são criados. Ao chegar à terra era possível ver larvas grudadas nos pés e nas pernas da equipe.
O membro da Colônia de Pescadores de Petrolândia, Pedro de Souza, relata denúncias dos pescadores em relação aos peixes criados em cativeiro. “Sabemos que desenvolvem inúmeras doenças que atacam os animais como fungos e larvas. Vemos até mesmo aberrações como peixes vivos, mas com metade do corpo necrosado”, afirma.
A piscicultora Maria José, que trabalha na ilha, relata que suas atividades são basicamente alimentar os peixes e tirar dos tanques os animais mortos. “Às vezes estufam os olhos. Outros perdem a escama”, disse. Para combater as doenças, os criadores acabam fazendo uso abusivo de antibióticos, pesticidas, antifólio, altamente tóxicos e poluidores.
Nelson de Souza, outro trabalhador da cooperativa, admite que os peixes mortos se tornam um problema. “Não podemos jogar na água, pois polui. Então a saída é enterrar estes peixes”, afirma.
No mesmo dia, a reportagem, navegando pelo lago de Itaparica, encontrou em uma das ilhas contêineres cheios de um resíduo composto por restos de peixe. “Coloca-se algum produto para o peixe se desmanchar. Nem urubu nem mosca chegam perto destes restos”, afirma Pedro.
Questionado sobre o controle sanitário da atividade, o secretário de  Desenvolvimento Econômico e Turismo do município de Petrolândia, Marcos Rogério Viana, disse que engenheiros agrônomos da prefeitura fazem a cada 60 dias monitoramento e até o momento não houve problema nenhum em relação à qualidade da água e do peixe.
Revolução Azul
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Em uma das Ilhas do Lago, encontra-se recipientes com vestígios de peixes dissolvidos com algum produto químico. Foto: Renata Bessi
O redimensionamento da produtividade dos oceanos, rios e outros ambientes aquáticos, com tecnologia que permite um maior extrativismo aquático, foi chamado de Revolução Azul que, segundo a FAO, aliviaria a pobreza em resposta à segurança alimentar e geração de emprego assim como um maior crescimento econômico, projetando o que a organização denominada como Crescimento Azul, retomado no documento, “O Futuro que Queremos” Rio + 20.
Segundo os últimos dados registrados pela FAO, no ano de 2012, a produção mundial pesqueira alcançou um nível de 158 milhões de toneladas, sendo que 15 países foram responsáveis por 92,7% de toda a produção de peixes comestíveis cultivados em 2012. Entre eles, Chile e Egito tornaram-se produtores de milhões de toneladas em 2012. O Brasil é considerado um país potencial no ranking mundial na área de aquicultura.
No entanto, de acordo com dados da FAO, as importações de pescado aumentaram 108% desde 2012, tendo como principais destino países que não sofrem com a fome, ou seja, países desenvolvidos como os Estados Unidos , Alemanha, Japão e França. A expectativa é que em 2030, o Brasil passe a contribuir com a projeção da FAO para produzir 20 milhões de toneladas de peixe por ano.
Margens em disputa
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Pescadores chegam da pescaria para limpar os peixes. Foto: Renata Bessi
A disputa pelas terras às margens das águas do Lago de Itaparica é outro fator que ameaça a pesca artesanal nesta região do Brasil. Território tradicionalmente utilizado pela pesca artesanal, os pescadores têm convivido com novos apetrechos na paisagem de beleza cênica rara do semiárido nordestino. Nas praias de água doce, nas ilhotas e nas terras que margeiam o lago tornou-se comum deparar-se com cancelas, cercas, estacas, arames e placas que proíbem a passagem dentro e fora das águas.
Os pescadores têm convivido com práticas violentas. “Tem uma garoba aí que a gente se arranchou dias atrás e quando saímos tacaram fogo na garoba pra gente não voltar. É de não acreditar, mas derrubaram o mato para a gente não voltar”, conta Gilda Henrique, 29 anos, pescadora do lago de Itaparica, em Petrolândia.
A pesca artesanal tem sua dinâmica própria. O pescador se move de acordo com os tempos de reprodução do peixe, de maneira que os espaços de sua atividade variam. “O peixe desaparece em um canto e temos que ir pra outro lado atrás dele”, explica Gilda. Os pescadores costumam alojar-se ao longo de dias ou até mesmo semanas nos chamados “ranchos”, abrigos de uso comum dos pescadores que ficam às margens do rio e nas ilhotas que compõem a represa de Itaparica. É o espaço de apoio e de convivência dos pescadores, de troca de experiências e de saberes nos dias de trabalho nas águas.
Deixam suas casas geralmente na segunda-feira e permanecem por cinco ou seis dias nas águas do rio São Francisco, até durar o gelo que conserva o peixe. Nas ilhas soltam a rede e utilizam o rancho para limpar, salgar e gelar o peixe, dormir, cozinhar e fazer suas refeições. “E assim vamos de rancho em rancho atrás do nosso peixe”, explica Gilda.
O movimento que demanda a atividade tradicional pesqueira contrasta com a dinâmica dos ‘donos’ das terras que vem surgindo sem ordenamento ao longo do lago, seja para criação de peixe, plantio, criação de animais, turismo aquático ou casas de veraneio. Navegando pela represa percebe-se os contrastes entre ranchos dos pescadores, casas de luxo e praia com bares e restaurantes. Encontra-se até mesmo cercas dentro da água. “Aqui você chega com sua embarcação para pescar, encosta nas margens do lago e já chega logo o ‘dono’ e diz que não quer ninguém ali. Uns resistem e ficam, mesmo com medo de chegar alguém na noite para matar. Já têm outros que se vão”, conta José Ilton, 40 anos, pescador da represa. “A gente vai ficando cercado”.
Quem são os responsáveis pelas terras?
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Pescador retorna à noite para uma das Ilhas do Lago para jantar e dormir.
As terras nas bordas do lago estão sob administração da Companhia Hidroelétrica do São Francisco (Chesf), ligada ao Ministério de Minas e Energia. O secretário de Desenvolvimento Econômico e Turismo do município de Petrolândia, Marcos Rogério Viana, admite haver conflito nestes espaços. “Muitas pessoas estão invadindo e a Chesf não toma uma providência para despejar estas pessoas. É um conflito que existe e precisam encontrar alternativa para resolver”, afirma.
A Chesf afirmou, por meio de sua assessoria de imprensa, que não é responsável pelas margens do reservatório mas, contraditoriamente, admite ter controle sobre Áreas de Preservação Permanente (APP). De acordo com a Lei 12.651, artigo 3, da Constituição Federal do Brasil, as APPs são “área protegida, coberta ou não por vegetação nativa, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica e a biodiversidade, facilitar o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas”. E são, de acordo com seu artigo 4, “as faixas marginais de qualquer curso d’água natural perene e intermitente”.
O Conselho Pastoral da Pesca (CPP) sustenta que as terras de domínio da União, tanto APPs quanto as delimitadas para segurança, estão sendo ocupadas por posseiros. O secretário executivo do CPP no nordeste, Severino Antônio dos Santos, cita o exemplo das terras entre os município de Petrolândia e Jatobá que margeiam o lago. “As terras que ficam entre a BR 316 e o lago, que são da União, seja APPs ou área de segurança, estão sendo invadidas por posseiros, casas de veraneio, empresas. É só caminhar pela estrada e é possível ver”.
De acordo com Alzení Tomaz, do Núcleo de Pesquisa e Estudo em Povos e Comunidades Tradicionais e Ações Socioambientais (Nectas), da Universidade do Estado da Bahia, não há dúvida de que as bordas do lago estão sob responsabilidade da Chesf. “O que acontece é que a empresa distribui estas terras de acordo com critérios não transparentes. Sabemos que isso acontece, mas não temos o mapa destas terras. Já fizemos várias solicitações, inclusive via Ministério Público, para saber o que de fato foi transferido ou não, e como isso é feito, mas a Chesf se exime da sua responsabilidade de informar”, afirma a pesquisadora. “Esta situação acaba gerando invasões ilegais e depredação da vegetação e das águas. O que se deve levar em conta é que esta situação precisa ser resolvida para que os promotores das invasões sejam responsabilizados e que as áreas sejam realmente preservadas”.
Alzení lembra que os pescadores artesanais não foram considerados pelo governo, foram atingidos pela construção da represa e acabaram sem acesso a muitos dos seus territórios tradicionais. “E infelizmente situações como esta se repetem em todo o Brasil”, avalia.
A Chesf, questionada se possui conhecimento das invasões nas margens, limitou-se a responder que não possui responsabilidade pelas áreas.
Mobilização pelo Território Pesqueiro 
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Foto: Renata Bessi
5 horas da manhã em uma das Ilhas do lago de Itaparica, chamada pelos pescadores de Porto Serra do Mocó. Ainda escuro, Rosalvo Ferreira da Silva chega trazendo na canoa a rede que havia deixado nas águas no final do dia anterior. Para lançar a rede ao rio, o ideal é que os pescadores estejam pelo menos em dois. Um para segurar o barco e outro para arremessar a rede. Mas Rosalvo joga sozinho. “O vento vai levando o barco enquanto jogo. Se me leva para o lado errado, fico bravo”. Na rede predominam a tilápia, curvina e a piaba. Aproxima a canoa da terra e começa a lidar com os peixes”, justifica.  
Rosalvo, 64 anos, começou a pescar com 12 anos, na Barreira Velha, que está agora debaixo das águas represadas. Naquela época pescava no São Fracisco velho, o de águas correntes. Ali tinha também uma roça. Com a represa foi deslocado para uma agrovila em Petrolândia. “Fiquei um tempo parado, mas tava ficando doente. Aí caí fora, sou do rio … desabei para as águas”, lembra.
Enquanto abre o dorso de uma piaba, o pescador se dá conta de que naquele dia a pesca não foi tão boa. “A lua está clara [lua cheia]. Para anzol tanto faz lua clara ou escura. Peixe de anzol, como o tucunaré, não come à noite mesmo, quando escurece ele acama. Mas para peixe de rede esta lua clara não serve. A rede brilha e eles fogem”, explica.
Rosalvo gosta da solidão das águas. Está protegido. “Não sei vocês, mas todo dia às 6 horas vejo a Maria das Águas. Eu estou sozinho e me concentro. Conheço gente que também vê. As águas dos rios têm muito segredo, assim como os astros no céu e o mato”.
O uso que os pescadores fazem do rio São Francisco vai além da relação objetiva de garantir o sustento de suas famílias. Há uma relação ancestral e mística. “A afinidade entre essas comunidades e o rio se apresenta como algo tão íntimo que soa como uma relação de parentesco ou familiar. O rio com seus mitos, suas águas e seus ciclos está impregnado no modo de ser das pessoas”, afirma Neusa Francisca Nascimento, da CPP do estado de Minas Gerais.
Existe um conhecimento popular sobre as águas, o peixe, o tempo, os astros, construído ao longo de gerações. Esse conhecimento composto coletivamente nas comunidades não é passado a partir do ensino escolar, mas transmitido de pai para filho. É em defesa desse modo de vida construído em torno da pesca que estão sendo desenvolvidos esforços pela regulamentação do território das comunidades tradicionais pesqueiras.
O movimento dos pescadores está em campanha pela aprovação do projeto de lei de iniciativa popular para regularizar o Território das Comunidades Tradicionais Pesqueiras. “Hoje não existem procedimentos para regularizar os territórios das comunidades tradicionais pesqueiras”, explica Maria José. O objetivo, de acordo com ela, é regulamentar o espaço utilizado pelos pescadores, assim como acontece com as demarcações de terras indígenas e quilombolas.
Para ser aprovado, o projeto necessita do apoio de 1% do eleitorado brasileiro, ou seja, 1.406.466 assinaturas. Para saber mais sobre a Campanha acesse: http://peloterritoriopesqueiro.blogspot.com.br/
Ameaçada
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Funcionários da AAT International Ltd., empresa de aquicultura brasileira, foram enviados para destruir este “rancho”, um lugar onde os pescadores tradicionalmente guardam seus materiais. Foto: Renata Bessi
A pesca é uma atividade milenar. Há sambaquis (depósito de conchas, cascas de ostras e outros restos de cozinha) na costa litorânea brasileira que remontam a mais de 8 mil anos, lembra Tarcisio Quinamo, pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj). “A atividade da pesca tradicional se mantém, claro com renovações, até hoje. E a ameaça nunca esteve tão viva”, afirma.
Para Maria José, o que há no país é um modelo de desenvolvimento que não inclui o povo brasileiro. “Os territórios onde os pescadores estão em todo o Brasil são bonitos, valorizados, cheio de recursos hídricos, bosques, manguezais. Por isso é terra em disputa. Mas estas áreas só existem porque estas comunidades as preservam”, afirma Maria Pacheco.
 ”Que diabo de desenvolvimento é esse, que destrói casa, que tira pessoas que não têm dinheiro dos seus lugares? Tira a vontade da gente, o direito, o desejo. Está faltando o pessoal estudar o que é fazer desenvolvimento sem esmagar o povo”, reclama Maria das Neves.
Acesse as versões em espanhol e inglês da reportagem: 
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Relatórios SUAPE

MAIS DESEMPREGO EM SUAPE

Mais desemprego em Suape. Estaleiro rompe contrato com Sete Brasil

Publicado em 21/02/2015 Blog do JamildoPETROBRAS-NAVIO-CIDADE-DE-ANCHIETA-2-c-size-598

A Sete Brasil, empresa formada pela Petrobras e sócios privados para administrar o aluguel de sondas para o pré-sal, acaba de sofrer mais um abalo que a colocou no rumo da dissolução. O Estaleiro Atlântico Sul, de Pernambuco, rescindiu ontem unilateralmente seu contrato com a companhia. A Sete deve 125 milhões de dólares ao estaleiro, que deveria fornecer as primeiras sete sondas para a exploração do pré-sal. Na prática, a iniciativa do Atlântico Sul, que tem como sócios as empreiteiras Queiroz Galvão e Camargo Correia, inviabiliza a Sete, que precisa do contrato e das sondas para garantir a sobrevivência. A empresa, em que a Petrobras tem uma participação minoritária, mas indica o presidente, tem ainda como sócios bancos como BTG, Santander e Bradesco, além de fundos de pensão e investidores estrangeiros. Outros grandes bancos, como o Itaú, são credores. No total, a dívida já é de 4 bilhões de dólares, mas o dinheiro para financiar a construção dos estaleiros e das sondas acabou em novembro. Desde então, a Sete não paga nem os bancos, nem os fornecedores.
A Sete foi criada com base na crença de que a política do conteúdo nacional, que exige que pelo menos 60% dos equipamentos para a indústria de petróleo sejam fabricados no Brasil, impulsionaria o setor naval brasileiro. Sua derrocada em pleno escândalo do petrolão é um sinal de fracasso dessa política, que elevou os custos dos equipamentos e não produziu um parque industrial naval forte. Dos estaleiros contratados pela Sete, cinco tem como sócias empreiteiras acusadas na Operação Lava Jato, e um sexto, o da Keppel, também está sendo investigado. Em sua delação premiada, o ex-diretor operacional da Sete, Pedro Barusco, declarou que ele e o ex-presidente da companhia, João Carlos Ferraz, cobravam propina de 1% do valor das sondas – cerca de 800 milhões de dólares cada – pelos contratos.
A esta altura, a única chance de a Sete escapar da falência é fechar o empréstimo de 3,1 bilhões do BNDES que vem sendo negociado desde o ano passado. O empréstimo, porém, é praticamente inviável. A cada nova revelação da Lava Jato, porem, o banco de fomento aumenta as exigências para conceder o aporte e torna mais difícil o negócio sair. Internamente, no banco, a intenção é não liberar o dinheiro. Mas nenhum dos técnicos e nem dos diretores dirá isso à presidente Dilma Rousseff, que ainda quer a Sete de pé. A presidente inclusive deu ao novo presidente da Petrobras, Aldemir Bendine, a missão de reavivar a companhia. Mas agora, sem sondas para alugar, a tarefa de Bendine se torna praticamente impossível. A tendência, agora, é que se iniciem diversas ações judiciais e arbitragens no Brasil e no exterior entre a Sete e os fornecedores, e entre os bancos e a Sete. Uma briga longa e custosa que pode durar muitos anos e certamente causará rombos significativos nas finanças das instituições financeiras envolvidas.
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SUAPE

SUAPE PERDE VERBAS DO GOVERNO FEDERAL

Suape perde verba de 50 milhões de reais para o porto de Santos
Publicado no Blog do Jamildo
19/02/2015
Vista do Porto de Suape. Foto: Helia Scheppa/JC Imagem.

Vista do Porto de Suape. Foto: Helia Scheppa/JC Imagem.
O escândalo envolvendo o esquema de corrupção na Petrobras acabou respingando no Porto de Suape, em Pernambuco. Por causa das investigações na Operação Lava Jato, a Secretaria de Portos cancelou o investimento de R$ 50,5 milhões para o Complexo Industrial de Suape. Ao mesmo tempo, a pasta liberou R$ 378 milhões para o Porto de Santos. Atualmente, a secretaria tem à frente Edinho Araújo (PMDB), deputado eleito por São Paulo, e aliado de Michel Temer, vice-presidente de Dilma. As informações foram publicadas na Revista IstoÉ.
Segundo a publicação, a transferência dos recursos para Santos foi uma consequência da maré ruim do empreendimento pernambucano, arrastado pelo escândalo da Operação Lava Jato. O titular da pasta, Edinho Araújo, pode ter se valido da situação complicada da obra no litoral nordestino para levar os investimentos para São Paulo, reduto eleitoral do parlamentar.
Procurado, Suape não se pronunciou e pediu que o Blog entrasse em contato com a Secretaria Especial de Portos.
A Secretaria Especial de Portos (SEP), porém, enviou uma nota em que afirma que o Termo de Compromisso feito com Suape expirou em 2011 (dragagem do Canal Interno) e 2013 (dragagem do Canal Externo).
Negando retaliações, a SEP explica que não houve repasse de recursos entre os dois empreendimentos (Santos e Suape). “Os cancelamentos dos Restos a Pagar (RAP) não impactaram o Porto de Suape já que não poderiam ser utilizados nos instrumentos vencidos ou em qualquer outra obra portuária”, diz a nota.
Mas, ao voltar um pouco no tempo, a celeuma entre o governo de Pernambuco e o governo federal remonta ao ano de 2013, antes de o governador Eduardo Campos, que faleceu em um trágico acidente aéreo, lançar a candidatura para presidência. No período, às vésperas do rompimento entre Campos e Dilma, a União e o governo de Pernambuco travaram uma batalha sobre o pagamento de uma dívida de R$b 150 milhões à empresa holandesa responsável pela dragagem do Porto.
Criado há 36 anos, o Complexo Industrial Portuário de Suape é a âncora e a locomotiva do desenvolvimento econômico de Pernambuco. Seu território de 13,5 mil hectares, que tem 59% da área dedicada à preservação ambiental, abriga um dos melhores portos públicos do País, e 150 empresas, sendo 105 empresas em operação e 45 em implantação. Juntos, os empreendimentos somam mais de R$ 50 bilhões e geram 25 mil empregos diretos.
Veja a íntegra da nota encaminhada pela Secretaria de Portos:
1. O valor cancelado de R$ 50,5 milhões refere-se a recursos que estavam destinados a dois empreendimentos no Complexo Industrial de Suape-PE – dragagem do canal interno (concluída) e dragagem do canal externo -, que não foram utilizados, tendo sido lançados desde 2010/2011 em Restos a Pagar-RAP, termo técnico de orçamento público. Os Termos de Compromisso-TC celebrados entre a SEP/PR e Suape expiraram em 2011 (dragagem do Canal Interno) e 2013 (dragagem do Canal Externo).
2. Os cancelamentos dos Restos a Pagar-RAP não impactaram o Porto de Suape-PE já que não poderiam ser utilizados nos instrumentos vencidos ou em qualquer outra obra portuária.
3. Constam da Carteira do PAC e do Projeto de Lei Orçamentária Anual-PLOA 2015 recursos destinados à obra do Canal Externo do Porto de Suape. A obra encontra-se em fase de estudos para elaboração de anteprojeto e posterior licitação.
4. Quanto ao valor de R$ 378 milhões destinado à dragagem de manutenção do Porto de Santos-SP, o recurso é originário do Programa Nacional de Dragagem, do total de R$ 4,7 bilhões a ser investido nos portos brasileiros.
5. Esclarecemos que os recursos constam das dotações orçamentárias específicas, sendo viável sua utilização apenas na obra e porto especificado. Não há qualquer relação entre o cancelamento dos recursos de antigos convênios com Suape e a obra de dragagem de Santos.
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Petróleo Preservação SUAPE

AINDA SOBRE OS DESMANDO NA REFINARIA DO COMPLEXO DE SUAPE

Petrobras responsabiliza ex-diretor por explosão de custos em refinaria

RAQUEL LANDIM
Folha de São Paulo
18/01/2015
A Petrobras responsabilizou neste domingo (18) o ex-diretor de Abastecimento, Paulo Roberto Costa, pela explosão de custos na refinaria de Abreu e Lima, cujos investimentos previstos saíram de US$ 2,4 bilhões em 2005 para os atuais US$ 18,5 bilhões. Costa é um dos principais delatores do esquema de corrupção na estatal, investigado pela Operação Lava Jato.
Segundo nota divulgada à imprensa, Costa propôs ainda em 2007 “a antecipação de diversas obras da refinaria, alterações do projeto e na estratégia de contratação, o que levou a um grande número de aditamentos contratuais”. Costa já admitiu que cobrava propina das empreiteiras envolvidas na obra, ficando com uma parte e repassando o restante a políticos.
A estatal divulgou a nota por conta de matéria publicada pela Folha que mostrou, com base em relatório da auditoria interna da própria estatal, que a refinaria de Abreu e Lima vai gerar uma perda de US$ 3,2 bilhões para a Petrobras. Os gastos com a construção subiram tanto que as receitas geradas pela refinaria ao longo de sua vida útil, trazidas a valores atuais, não serão capazes de pagar o investimento.
Pedro Ladeira-2.dez.2014/Folhapress
Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras, durante sessão da CPI mista que investigou a estatal
Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras, durante sessão da CPI mista que investigou a estatal
Na nota, a Petrobras não nega o valor do prejuízo, nem que seus administradores tinham conhecimento. A diretoria aprovou a fase de execução de Abreu e Lima em novembro de 2009 e o conselho de administração deu aval para a continuidade das obras em junho de 2012 dentro do seu plano de negócios.
Segundo a nota, “testes realizados pela companhia até 2013 não indicaram a necessidade de reconhecimento de perdas de investimentos realizados na refinaria de Abreu e Lima”. A própria nota esclarece, no entanto, que esses testes são realizados para todas as operações de refinarias, oleodutos e terminais da Petrobras, que teriam resultado positivo no conjunto. A nota não esclarece se foi feito ou qual seria o resultado de um teste apenas para a refinaria de Abreu e Lima.
De acordo com a estatal, a diretoria executiva autorizou as obras da refinaria em novembro de 2009 com base em um estudo que apontava que a refinaria geraria um retorno positivo, “que considerou análises complementares, como desoneração tributária e perda de mercado evitada”.
A reportagem mostrou que pareceres internos da companhia – das áreas de estratégia e tributária – mostravam que essas análises complementares eram de “difícil realização”. Segundo fontes ligadas à empresa, houve “maquiagem” dos dados na época, para transformar um prejuízo de quase US$ 2 bilhões em um ganho de US$ 76 milhões.
Segundo a Petrobras, “o projeto foi apresentado ao conselho de administração, que orientou a diretoria executivo a envidar esforços para elevar a rentabilidade do projeto”. No entanto, a rentabilidade do projeto ficou cada vez mais comprometida, chegando a perda de US$ 3,2 bilhões nos estudos técnicos realizados em junho de 2012.
A estatal afirma ainda que “é competência da diretoria executiva aprovar os projetos que compõem o plano de negócios e que cabe ao conselho de administração a aprovação de toda a carteira de investimentos”. A nota ressalta, no entanto, “que os conselheiros recebem desde 27 de abril de 2012 os relatórios mensais de acompanhamento dos principais projetos, com os avanços físicos e financeiros, incluindo a refinaria de Abreu e Lima “.
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SUAPE

O TRABALHADOR DE SUAPE “PAGA O PATO” PELOS DESMANDOS

Empresas envolvidas na Lava Jato já demitiram mais de 12 mil em 2 meses

Estadão

RENÉE PEREIRA
18/1/2015

Em menos de dois meses, consórcios formados por empresas envolvidas na operação Lava Jato, que investiga denúncias de corrupção em contratos da Petrobrás, demitiram mais de 12 mil trabalhadores em todo o Brasil, segundo balanços das centrais sindicais. Para as próximas semanas, são esperadas novas rescisões, especialmente por causa da deterioração financeira de muitas empresas que caminham para a recuperação judicial – ou já entraram nesse processo.

A situação é grave. De um dia para o outro, centenas de trabalhadores ficaram sem emprego e sem dinheiro – muitos deles ainda não receberam a indenização da rescisão e estão em sérias dificuldades financeiras. Os piores casos são verificados na Refinaria Abreu e Lima e no Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), dois mega empreendimentos da Petrobrás que envolvem centenas de contratos com empreiteiras. Mas, segundo os sindicatos, as demissões também atingem projetos no Rio Grande do Sul e Bahia.
Os problemas surgiram com a sétima fase da operação Lava Jato, da Polícia Federal, desencadeada na primeira quinzena de novembro e que prendeu executivos de várias construtoras, como Camargo Corrêa, OAS, Mendes Júnior, UTC, Engevix, Iesa, Galvão Engenharia e Queiroz Galvão. No fim de dezembro, a situação se complicou ainda mais com a lista de 23 empresas proibidas de participar de novas licitações da Petrobrás.
Sem crédito no mercado e com o caixa debilitado pela falta de pagamento da estatal, que também não tem reconhecido aditivos bilionários das contratadas, as construtoras começaram a atrasar salários e a demitir. A campeã de desligamentos é a Alumini (ex-Alusa), que pediu recuperação judicial na quinta-feira. Na Refinaria Abreu e Lima, demitiu 5 mil funcionários, mas pagou apenas 58% do valor da rescisão, afirma o diretor do Sindicato das Indústrias de Construção de Pernambuco (Sintepav), Leodelson Bastos.
Segundo ele, a irregularidade no pagamento das rescisões tem sido geral nas obras da Abreu e Lima. “Na Engevix, 700 funcionários foram demitidos e, por enquanto, eles só receberam o FGTS. Na Galvão, apenas 60% dos mil demitidos receberam.” No consórcio Coeg, formado pelas empresas Conduto e Egesa, 500 funcionários foram mandados embora e 337 ainda não receberam a indenização, completou ele. “Aqueles que continuam trabalhando para o consórcio estão com os salários atrasados.” A Engevix afirmou que, como as demissões ocorreram em dezembro, nem todos os processos foram concluídos.
Férias. Na Bahia, a crise afetou o Estaleiro Enseada do Paraguaçu, formado por Odebrecht, OAS, UTC e Kawasaki. A empresa demitiu 970 trabalhadores entre dezembro e janeiro, afirmou o vice-presidente do Sintepav-BA, Irailson Warneaux. Segundo ele, para evitar um número maior de demissões, já que a Sete Brasil (companhia que faz a contratação das sondas de perfuração) interrompeu os repasses para o estaleiro, a forma encontrada entre o sindicato e a empresa foi dar férias para mil funcionários até 31 de janeiro.
Além disso, diz o sindicalista, ficou estabelecido que os demitidos terão prioridade na contratação quando as obras voltarem ao ritmo normal. Em nota, a companhia afirmou que, com 82% do projeto concluído, foi orientada a fazer um ajuste no quadro de funcionários para readequar o planejamento da construção. “Apesar de reconhecer o período de dificuldade enfrentando pela indústria naval brasileira, a empresa mantém sua operação industrial na Bahia para fabricação das seis sondas de perfuração para exploração do pré-sal.”
No Comperj, as demissões também estão se alastrando. A maior dor de cabeça dos sindicalistas é a Alumini, que não paga nem os salários dos 2,5 mil trabalhadores ativos nem a terceira parcela da rescisão dos 469 demitidos. Como não cumpriu um acordo com o sindicato de Pernambuco, um juiz de Ipojuca (PE) bloqueou a conta da empresa.
O balanço de trabalhadores demitidos no Comperj aponta para 4,1 mil funcionários, segundo o Sindicato dos Trabalhadores Empregados nas Empresas de Montagem e Manutenção Industrial da Cidade de Itaboraí (Sintramon).
Segundo o vice-presidente da central sindical, Marcos Hartung, outros consórcios como o TE-AG (da Techint e Andrade Gutierrez), CPPR (Odebrecht, Mendes Junior e UTC) e a empresa GDK também demitiram nos últimos dias. Alguns alegam que as demissões ocorreram por causa do fim das obras.
Na avaliação do economista Gesner Oliveira, sócio da GO Associados, em outra circunstância, essa mão de obra seria rapidamente absorvida. Mas ele lembra que o País vive um cenário de diminuição do nível de emprego. “A gente já vem observando uma geração negativa no setor da construção.”
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CARTA ABERTA A PRESIDENTE DILMA

44 entidades e especialistas subscrevem carta aberta à Presidenta Dilma Rousseff, que apresenta propostas para restabelecer estoques marinhos; redução ameaça paralisar o setor pesqueiro
A presidenta Dilma Rousseff recebeu, nessa quarta-feira (14), carta aberta assinada por 16 entidades ligadas à pesca e 28 especialistas, na maioria cientistas pesqueiros dedicados ao estudo e conservação de recursos marinhos, com propostas de mudanças estruturais para a política pesqueira nacional. Apoiada tanto por cientistas, organizações de proteção ao meio ambiente, lideranças da pesca industrial e da pesca artesanal, a carta representa um consenso inédito no setor e defende a adoção de uma política qualificada de pesca para o Brasil, baseada em dados e diagnósticos confiáveis, que garanta a sustentabilidade da atividade pesqueira no longo prazo.
Para enfrentar os problemas do setor, as entidades e especialistas propõe na carta aberta um conjunto de cinco ações necessárias para um adequado ordenamento pesqueiro: a regulamentação e implantação imediata do Sistema Nacional de Informações de Pesca e Aquicultura (SINPESQ), aprovado há 20 anos e até hoje não regulamentado; investimentos em pesquisa; adequação do marco legal; elaboração de planos de manejo para as pescarias e planos de recuperação de estoques de espécies capturadas em excesso; e investimentos em fiscalização e combate à pesca ilegal.
Articulada pela organização não governamental Oceana Brasil, a carta é divulgada no momento em que o setor da pesca atravessa uma grave crise: a recente divulgação da listade espécies brasileiras ameaçadas de extinção revelou que 97 espécies de peixes marinhos, muitas delas exploradas comercialmente, estão em risco e podem ter sua captura proibida; em decorrência, vários incidentes foram registrados, como o fechamento de portos na Região Sul por pescadores. “O problema não é apenas ambiental, mas também econômico e social. Somente o ordenamento pesqueiro eficiente, baseado em dados científicos, pode oferecer uma solução viável e definitiva”, defendeu Mônica Brick Peres, diretora geral da Oceana Brasil e vice-presidente da Oceana Internacional.
Pesca no Brasil
A carta destaca que o Brasil está entre os 30 maiores produtores de pescado no mundo; a atividade reúne cerca de um milhão de pescadores profissionais e 42 mil embarcações, gerando mais de 3,5 milhões de empregos diretos e indiretos. A pesca artesanal é responsável por, pelo menos, 50% da produção de pescado nacional e é fundamental para a geração de renda e a segurança alimentar do país.
Apesar de sua importância, a maioria das pescarias não tem qualquer controle ou normatização no Brasil: apesar do contínuo aumento da capacidade, da expansão das áreas de pesca e da substituição de espécies, a produção da pesca marinha caiu desde meados da década de1980 e está estável há mais de 20 anos, devido à pesca excessiva e mal ordenada. A atividade ainda enfrenta ameaças como a pesca ilegal e irregular, praticada por barcos piratas ou realizada em áreas, épocas e com aparelhos de pesca proibidos, entre outros.
(Oceana Brasil)
Veja a íntegra da carta aberta abaixo

Carta aberta à Presidenta Dilma Rousseff

Excelentíssima Presidenta da República
Senhora Dilma Vana Rousseff
Neste momento em que Vossa Excelência dá início ao seu segundo mandato, entidades e pesquisadores dedicados ao estudo e conservação de recursos marinhos, assim como sindicatos e representações do setor pesqueiro nacional vêm respeitosamente apresentar suas percepções e demandas para as mudanças estruturais necessárias à política pesqueira nacional.
A importância socioeconômica e cultural da pesca no Brasil é inquestionável. O país está entre os 30 maiores produtores de pescado no mundo. A atividade reúne cerca de um milhão de pescadores profissionais e 42 mil embarcações, gerando mais de 3,5 milhões de empregos diretos e indiretos. A pesca de pequena escala é responsável por, pelo menos, 50% da produção de pescado nacional e é muito importante para a renda, a segurança alimentar e a manutenção do modo de vida de milhares de comunidades pesqueiras do país. As histórias de pescadores, do mar e suas fascinantes criaturas estão profundamente arraigadas na cultura, valores e religião do nosso povo. A manutenção de todos esses bens e serviços tem baixo custo para o país, mas a perda de empregos, renda e alimentos ligados à atividade não pode ser substituída.
Como é de seu conhecimento, os recursos pesqueiros são patrimônio público sob tutela do Estado e o direito de explorá-los economicamente é uma concessão do Poder Público, que deve proteger os direitos da coletividade. É obrigação constitucional do Estado brasileiro garantir a gestão adequada e a repartição justa dos benefícios socioeconômicos decorrentes da exploração desse patrimônio, em harmonia com a conservação do meio ambiente e da biodiversidade. A manutenção dos benefícios da pesca deveria ser considerada da mais alta prioridade para o Estado brasileiro.
Infelizmente, nossas pescarias têm sido mal manejadas ou simplesmente ignoradas, causando enorme prejuízo socioeconômico e ambiental. A produção anual da pesca extrativa marinha nacional atingiu um máximo de 750 mil toneladas em meados da década de 1980, caindo para 400 mil toneladas nos anos subsequentes. Desde 1990, apesar do contínuo aumento da capacidade de pesca, do número de barcos, da expansão das áreas de pesca tradicionais e da substituição continua de uma espécie-alvo por outra, a produção da pesca marinha nacional tem se mantido entre 400 e 550 mil toneladas ao ano. Essa aparente estabilidade significa, na verdade, uma sucessão de pescarias colapsadas por exploração acima da capacidade de suporte dos estoques, ou seja, por pesca excessiva e mal ordenada. Isso tem gerado enormes prejuízos econômicos para o setor pesqueiro e também prejuízos sociais e ambientais de difícil recuperação. Outro problema grave que contribui para as perdas socioeconômicas e ambientais é a pesca ilegal e irregular. Barcos piratas, pescarias em áreas, épocas e com aparelhos de pesca proibidos, captura de espécies proibidas e ainda a descaracterização e venda de pescado fraudado são muito comuns no Brasil.
No Brasil, a maioria das pescarias não tem qualquer controle ou normatização. Para aquelas consideradas “manejadas”, as medidas restringem-se a tamanhos mínimos de captura ou restrições de épocas e de aparelhos de pesca, que são mundialmente reconhecidas como insuficientes para a efetiva gestão e garantia de sustentabilidade dos recursos pesqueiros. Dada a fragilidade histórica da gestão pesqueira, o país enfrenta hoje enormes lacunas em termos de monitoramento, avaliação de estoques e fiscalização da pesca, com um claro retrocesso nos últimos anos. A situação da pesca é bastante grave e precisa ser urgentemente revertida.
A produtividade biológica da pesca extrativa depende diretamente da capacidade de reposição natural dos estoques pesqueiros explorados. Por isso, é imprescindível manter um sistema eficiente e contínuo de coleta e análise de dados técnico-científicos e avaliações de estoque para subsidiar o adequado ordenamento da pesca. As informações essenciais, previstas no Sistema Nacional de Informações de Pesca e Aquicultura (SINPESQ), devem ser obtidas através de: (1) monitoramento de desembarques da pesca artesanal e industrial; (2) mapas de bordo; (3) observadores de bordo; (4) rastreamento via satélite de embarcações pesqueiras; (5) monitoramento da biodiversidade marinha independentemente da pesca comercial, por meio de cruzeiros de pesquisa e; (6) informações socioeconômicas. Apesar da sua importância, o SINPESQ foi criado por decreto presidencial em 1995 e nunca foi devidamente regulamentado e implantado. Essas informações são absolutamente fundamentais para estabelecer medidas de ordenamento e políticas de desenvolvimento adequadas à manutenção dos rendimentos da atividade econômica, dos benefícios sociais, da biodiversidade e da saúde dos oceanos no longo prazo.
É consenso absoluto entre os setores ligados à pesca que precisamos urgentemente qualificar a política pesqueira e estruturar o país para a implementação de um sistema de gestão pesqueira adequado. Nos últimos anos, diversas cartas, manifestos e moções sobre a necessidade de se produzir informações e melhorar a gestão pesqueira têm sido enviados à Casa Civil e aos Ministérios da Pesca e Meio Ambiente, mas infelizmente nenhuma dessas demandas recebeu qualquer resposta até o momento.
Impressiona o fato de que todos aqui subscritos – cientistas, organizações de proteção ao meio ambiente, lideranças da pesca industrial e da pesca artesanal – concordem e defendam a mesma posição: a pesca tem enorme importância e o Brasil precisa deuma política pesqueira qualificada, baseada em dados e diagnósticos confiáveis,que garanta a sua sustentabilidade em longo prazo.
Certos de que esta é uma demanda do conjunto da sociedade brasileira, através das organizações e especialistas abaixo assinados, vem respeitosamente, pedir à Vossa Excelência:
1)    A regulamentação e implantação imediata do SINPESQ, garantindo um monitoramento pesqueiro eficiente, que inclua a coleta sistemática e contínua de dados de desembarques, das capturas e do esforço de pesca, além da obtenção de informações biológicas, econômicas e sociais;
2)    Investimentos em pesquisa aplicada, em estreita parceria com os setores acadêmico e pesqueiro, para a avaliação periódica do estado dos estoques pesqueiros brasileiros;
3)    Adequação do marco legal nacional, com a definição de critérios, diretrizes e objetivos claros para o processo de gestão do uso dos recursos pesqueiros;
4)    Elaboração de planos de manejo para cada pescaria e planos de recuperação de estoques sobrepescados, com a participação de representantes da sociedade e da academia; sempre considerando a proteção da biodiversidade e a garantia dos benefícios socioeconômicos de longo prazo;
5)    Investimentos em fiscalização e combate à pesca ilegal.
            As organizações e especialistas abaixo assinados colocam-se à disposição para dialogar sobre essas propostas.
Organizações, por ordem de adesão:
1. Dra. Mônica Brick Peres, Diretora Geral da OCEANA Brasil, Vice-Presidente da OCEANA Internacional
2. Gabriel Calzavara de Araújo, Presidente da Atlântico Tuna
3. Tatiana Neves, Coordenadora Geral do Projeto Albatroz
4. Maria Ângela Marcovaldi, Coordenadora Nacional de Pesquisa e Conservação, Projeto Tamar/ Fundação Pró-Tamar
5. João Thadeu de Menezes, Presidente, e Marco Aurélio Bailon, Conselheiro da Associação Brasileira de Oceanografia – AOCEANO
6. Dr. Kleber Grübel da Silva, Diretor, MSc. Danielle da Silveira Monteiro, e Biólogo e Ecólogo Sérgio Curi Estima, Núcleo de Educação e Monitoramento Ambiental NEMA
7. José Ciaglia, Presidente do Sindicato dos Armadores de Pesca do Estado de SãoPaulo  SAPESP
8. Comte. Flavio de Moraes Leme, Presidente da Comissão Nacional da Pesca daConfederação da Agricultura e Pecuária do Brasil  CNA
9. Alexandre Guerra Espogeiro, Presidente do Sindicato dos Armadores de Pesca doEstado do Rio de Janeiro  SAPERJ
10. Dr. Sergio Schwarz da Rocha, Presidente da Sociedade Brasileira deCarcinologia – SBC
11. Carlos Alberto Pinto dos Santos, Secretário Executivo da Comissão Nacional de Fortalecimento das Reservas Extrativistas Costeiras e Marinhas – Confrem
12. Dr. Ricardo de Souza Rosa, Presidente da Sociedade Brasileira para o Estudo de Elasmobrânquios – SBEEL
13. Dr. Luis Tadeu Assad, Diretor Presidente, e André M. Brugger, Presidente do Conselho Deliberativo do Instituto Brasileiro de Desenvolvimento e Sustentabilidade – IABS
14. Georgia Pessoa, Diretora de Programa da Rare Brasil
15. Dr. Leopoldo Gerhardinger, Coletivo Memórias do Mar
16. Rodrigo Medeiros, Vice-Presidente do Programa Brasil, Conservação Internacional
Especialistas, por ordem de adesão:
1. Prof. Dr. Jorge Pablo Castello, Instituto de Oceanografia, Universidade Federal de Rio Grande – FURG
2. Prof. Dr. Fábio Hissa Vieira Hazin, Departamento de Pesca e Aquicultura, Universidades Federal Rural de Pernambuco – UFRPE
3. Prof. Dra. Carmen Lúcia Del Bianco Rossi-Wongtschowski, Instituto Oceanográfico, Universidade de São Paulo – USP
4. Prof. MSc. Roberto Wahrlich, Grupo de Estudos Pesqueiros, Centro de Ciências Tecnológicas da Terra e do Mar, Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI
5. Dr. Antônio Olinto Ávila da Silva, Centro APTA Pescado Marinho, Instituto de Pesca
6. Prof. Dra. Beatrice Padovani Ferreira, Departamento de Oceanografia, Universidade Federal de Pernambuco – UFRPE
7. MSc. Mauro Luis Ruffino, GSA Consultoria em Meio Ambiente Ltda.
8. Prof. Dr. Paul Gerhard Kinas, Instituto de Matemática Estatística e Física- Universidade Federal de Rio Grande – FURG
9. Prof. Dr. Otto Bismarck Fazzano Gadig, Laboratório de Pesquisa de Elasmobrânquios, Universidade Estadual de São Paulo – UNESP
10. Prof. Dr. Lauro Saint Pastous Madureira, Instituto de Oceanografia, Universidade Federal de Rio Grande – FURG
11. Prof. Dr. Marcelo Vianna, Departamento de Biologia Marinha, Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ.
12. Prof. Dr. Paulo Ricardo Pezzuto, Grupo de Estudos Pesqueiros, Centro de Ciências Tecnológicas da Terra e do Mar, Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI
13. Prof. Dra. Patrízia Raggi Abdallah, Unidade de Pesquisa em Economia Costeira e Marinha, Programa de Pós-Graduação em Economia do Mar, Instituto de Economia, Universidade Federal do Rio Grande, FURG.
14. Prof. Dr. Paulo de Tarso Chaves, Universidade Federal do Paraná – UFPR
15. Prof. Dr. Agnaldo Silva Martins, Departamento de Oceanografia e Ecologia, Universidade Federal do Espírito Santo – UFES
16. Prof. Dr. Jose Angel Alvarez Perez, Centro de Ciências Tecnológicas da Terra e do Mar, Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI
17. Prof. Dr. Eduardo R. Secchi, Laboratório de Ecologia e Conservação da Megafauna Marinha – EcoMega, Instituto de Oceanografia, Universidade Federal do Rio Grande – FURG
18. Prof. Dra. Rosangela Paula Teixeira Lessa, Departamento de Pesca e Aquicultura, Universidade Federal Rural de Pernambuco – UFRPE.
19. Prof. Paulo A. S. Costa, Departamento de Ecologia e Recursos Marinhos, Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – UNIRIO
20. Prof. Dr. Marcelo Antonio Amaro Pinheiro, Laboratório de Biologia de Crustáceos, Universidade Estadual de São Paulo – UNESP
21. Prof. Dr. Alexander Turra, Departamento de Oceanografia Biológica, Instituto Oceanográfico, Universidade de São Paulo – IO-USP
22. Prof. Dr. Eduardo Tavares Paes, Laboratório de Ecologia Marinha e Oceanografia Pesqueira da Amazônia, Universidade Federal Rural da Amazônia – UFRA
23. Prof. Fabio dos Santos Motta, Departamento de Ciências do Mar, Universidade Federal de São Paulo
24. Prof. Dra. Maria Lúcia Goes de Araújo, Departamento de Pesca e Aquicultura, Universidade Federal Rural de Pernambuco – UFRPE
25. Prof. Dr. Cláudio Luis Santos Sampaio, Universidade Federal de Alagoas
26. Prof. Dr. Rodrigo Leão de Moura, Instituto de Biologia, Departamento de Biologia Marinha, Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ
27. Luis Henrique de Lima, Oficial de Meio Ambiente do Setor de Ciências Naturais da UNESCO – Representação do Brasil
28. Aristides Pereira Lima Green, analista da Coordenação de Agropecuária, Diretoria de Pesquisas, Departamento de Agropecuária, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE
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Petróleo SUAPE Violações

COMPLEXO DE SUAPE, REFINARIA E CORRUPÇÃO

Refinaria de Abreu e Lima dará prejuízo de US$ 3,2 bi

RAQUEL LANDIM
DE SÃO PAULO
18/01/2015
Alvo da Operação Lava Jato, que investiga um esquema de corrupção na Petrobras, a refinaria de Abreu e Lima, em Pernambuco, dará um prejuízo de ao menos US$ 3,2 bilhões à estatal, segundo relatório de auditoria interna obtido pela Folha.
Estudos técnicos da empresa já apontavam as perdas quando integrantes do Conselho de Administração da Petrobras, entre eles a atual presidente da estatal, Graça Foster, aprovaram a continuidade das obras da refinaria, em junho de 2012.
A CVM (Comissão de Valores Mobiliários), que monitora o mercado financeiro, investiga o caso a pedido de acionistas minoritários.
Se for comprovado que os administradores agiram de má-fé ou se omitiram, eles podem ser multados ou impedidos de gerir empresas com ações na Bolsa.
O prejuízo decorre do aumento dos investimentos para construir a refinaria. Os gastos subiram tanto que as receitas previstas para o projeto gerar ao longo do tempo, corrigidas para valores atuais, são insuficientes para pagar o que foi investido.
A obra de Abreu e Lima é a mais cara em curso no Brasil: deve chegar aos US$ 18,5 bilhões. O custo inicial estimado era de US$ 2,4 bilhões.
A continuidade da obra foi aprovada pelo conselho de administração da estatal, em junho de 2012, junto ao plano de negócios da empresa de 2012 a 2016. Os investimentos em Abreu e Lima chegavam então a US$ 17 bilhões.
Em conversas reservadas, membros do conselho da Petrobras na ocasião afirmam que, na discussão sobre a refinaria, a diretoria da estatal apresentou a explosão de custos da obra mas não deixou claro o valor estimado do prejuízo, então em US$ 3,2 bilhões.
Os conselheiros, segundo a Folha apurou, chegaram a questionar se não seria melhor reduzir o valor pelo qual se registraria a refinaria no balanço. A área financeira disse que não era preciso.
Segundo especialistas em petróleo, naquele ponto, seria difícil para o conselho desistir da obra, que já estava 57% concluída. Mas os conselheiros, ponderam, poderiam ter determinado uma revisão para reduzir o potencial prejuízo, além de levar adiante a punição dos responsáveis.
Na auditoria feita pela estatal, os técnicos concluem que o projeto “não passou por reavaliação econômica e aprovação de novos custos, mesmo apresentando todas as situações para isso”.
A Petrobras só criou uma comissão interna para investigar Abreu e Lima em abril de 2014, depois que a Operação Lava Jato expôs a corrupção na estatal. Graça já reconheceu publicamente que a refinaria era uma “lição a ser aprendida e não repetida”. Mas nunca admitiu que ela geraria perda à empresa.
Um dos principais delatores do esquema de corrupção na Petrobras, Paulo Roberto Costa foi diretor de Abastecimento da estatal quando Abreu e Lima começou a ser construída. Ele foi acusado de ter superfaturado contratos da obra. O valor pago a mais teria retornado ao ex-diretor como propina. Há suspeita de que parte destes desvios tenha sido repassada a políticos.
A gênese de Abreu e Lima remonta a 2005, quando o ex-presidente Lula firmou um acordo com Hugo Chávez, da Venezuela, para que a Petrobras e a petroleira venezuelana PDVSA construíssem uma refinaria no Nordeste.
A escalada de gastos, segundo a auditoria, foi provocada por erros de gestão, variação cambial, e mudanças no escopo do projeto, após a saída da PDVSA. Com a Operação Lava Jato, surgiram fortes indícios de superfaturamento da obra por um cartel de empreiteiras.
MAQUIAGEM
Em 2009, auditoria interna já apontava que as contas de Abreu e Lima não fechavam. Na época, os investimentos alcançavam os US$ 13,4 bilhões e o retorno se tornou negativo em quase US$ 2 bilhões.
Segundo pessoas próximas à estatal, os dados foram “maquiados” para a diretoria executiva aprovar a execução da obra naquela etapa. Pareceres internos mostram que a diretoria da Petrobras apostou em cenários de “difícil realização” para zerar o prejuízo, como créditos fiscais e evitar que concorrentes instalassem refinarias no local.
Procurados, a Petrobras e os membros do conselho de administração não responderam às tentativas de contato.
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FUNCIONÁRIOS DO CONSORCIO COEG PARALIZAM EM SUAPE

Funcionários do consórcio Coeg realizam uma paralisação na Refinaria Abreu e Lima

Cerca de 500 trabalhadores foram demitidos e grande parte ainda não recebeu a rescisão do contrato

Publicado em 13/01/2015,

Do JC Online

Os funcionários do consórcio Coeg realizam uma paralisação na Refinaria Abreu e Lima, no Complexo Industrial de Suape, na manhã desta terça-feira (13). Formado pelas empresas Conduto e Egesa, o consórcio demitiu cerca de 500 trabalhadores e, destes, 337 ainda não receberam a rescisão do contrato. A crise financeira também afetou alguns funcionários que ainda estão em atividade. Eles estão sem receber o salário de dezembro, a segunda parcela do décimo terceiro salário e a cesta básica. O plano de saúde desses operários também foi cortado.
Por volta das 7h, cerca de 300 trabalhadores do consórcio que continuam trabalhando em Suape deflagram greve até que a situação seja regularizada, em solidariedade aos colegas demitidos. “Os funcionários demitidos deveriam ter recebido no dia 14 de dezembro. O pagamento foi adiado para o dia 18, 28, e por fim 15 de janeiro. Mas, ontem [segunda-feira], o gerente disse que não tinha como pagar porque a Petrobras não repassou a verba”, explica Leodelson Bastos, assessor de crise do Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias de Construção de Estradas, Pavimentação e Obras de Terraplenagem em Geral no Estado de Pernambuco (Sintepav-PE).
Em nota, a Petrobras informou “estar adimplente quanto a todas as suas obrigações contratuais com o Consórcio COEG” e disse estar atenta aos atrasos no pagamento dos trabalhadores desligados, mas reafirma que a responsabilidade pelas obrigações trabalhistas é das empresas contratadas para execução dos serviços. A estatal informa ainda que “o carregamento de nafta petroquímica da Refinaria Abreu e Lima (RNEST) no Porto de Suape está ocorrendo conforme programado, sem interrupções”.
Está marcada para essa quarta-feira (14) uma passeata da Refinaria até o centro do município de Ipojuca. “ Vamos nos deslocar até Ipojuca sem bloquear a via, mas isso deve gerar algum engarrafamento”, conta  Leodelson. A caminhada deve ser realizada no início da manhã e passar pela Rota do Atlântico.
A redação do JC Online tentou entrar em contato com o Consórcio Coeg, mas, até o momento, não obteve resposta. O mesmo aconteceu nas tentativas de entrar em contato com a Egesa.
O Sintepav-PE ainda luta na justiça pelos trabalhadores das empresas Engevix, Alusa e consorciados, que continuam com salários atrasados.
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