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ADVOGADA DE POSSEIROS EM SUAPE COBRA POSIÇÃO DA OAB

Advogada de posseiros em Suape cobra posição da OAB sobre supostas irregularidades com reintegrações de posse

BLOG DO JAMILDO
Publicado em 30/04/2015
Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem
A advogada Conceição Lacerda, que defende um grupo de mais de 100 posseiros na região de Suape, cobrou, nesta quinta-feira, em visita ao Blog de Jamildo, uma posição oficial da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) em Pernambuco sobre a polêmica envolvendo ações de reintegrações de posse ajuizadas pela empresa Suape.
A confusão é antiga e bastante complexa.
Em novembro do ano passado, a OAB chegou a realizar uma audiência pública com os moradores das áreas de Suape, que foram justamente pedir apoio da OAB-PE para os casos de desapropriação suspeitos de irregularidade. No evento, um dos conselheiros da OAB, ; o presidente da Comissão de Direitos Humanos da Casa, João Olímpio Mendonça, chegou a afirmar publicamente que estaria ocorrendo violações dos direitos humanos. Veja aqui.
Em 26 de fevereiro deste ano, quatro entidades, capitaneadas pelo Fórum Suape Sócio-Ambiental, Comissão Pastoral da Terra e MST, divulgaram uma carta aberta cobrando uma posição oficial do presidente da Ordem, Pedro Henrique Reynaldo Alves, depois da audiência pública.
“Reconhecemos que o porto é um mal necessário. O que nos brigamos é para que haja o reconhecimento de que a escritura usada por Suape para repassar as terras dos posseiros para as empresas do complexo foi obtida de forma espúria. Todo o dinheiro que Suape recebeu tem que ir para os verdadeiros donos das terras, que é o Incra. Um dos problemas desta luta é que Suape não fez licitações para dar essas terras e não se conhece o valor”, afirma a advogada. “No caso da OAB, o problema de Pedro Henrique é que ele está agindo mais como procurador do Estado e menos como presidente da entidade, que tem como uma de suas missões defender os interesses difusos, defender o interesse público”, acredita.
O principal pleito do grupo de militantes é pedir que a OAB entre, em Brasília, com uma ação declaratória de nulidade, considerando que, apesar de passado tanto tempo desde os primeiros atos de desapropriação, o caso não prescreve.
“O bem público é indisponível. Não se pode abrir mão dele. O porto de Suape contou, durante anos, com a cumplicidade do poder judiciário de Pernambuco, mas a Justiça Federal acabou de reconhecer que o Incra tem direito a ser discutido na causa. O TRF5 mandou o processo para a primeira instância e por distribuição o processo foi parar na 3ª Vara Federal julgar o caso. O juiz federal reconheceu a competência da Justiça Federal para julgar o feito, em razão do interesse do Incra. Se o nosso bom direito for confirmado, na Justiça Federal, isto significa que as mais de mil e duzentas reintegrações de posse feitas no plano estadual são nulas”, diz.
“Eles (Suape) e o Incra local mentem descaradamente. Quando são questionados, afirmam que os decretos de desapropriação do Incra perderam a validade com um decreto de Geisel de 1978 (82.899). Só que também este decreto foi revogado em 15 de fevereiro de 1991. Além disto, há documentos internos de Suape, com timbre oficial, reconhecendo a propriedade do Incra”, diz.
A base de toda polêmica é um título de propriedade expedido pelo Incra em 22 de julho de 1980, assinado pelo presidente da entidade e o agricultor Manoel Alves da Silva, então presidente da cooperativa Tiriri. Com o ato oficial, o governo Federal repassava para os posseiros o título de propriedade em uma época que a pressão no campo era bastante elevada. O projeto era ajudado pela Sudene, que fez o levantamento da área e dos beneficiários. O documento do Incra previa que o domínio ou a posse dos imóveis seriam revertidos ao órgão, em caso de descumprimento do uso, previsto numa clásula resolutiva. Em 24 de julho de 1980, curiosamente, já havia uma escritura pública assinada pela cooperativa Tiriri vendendo as terras dos agricultores para o porto de Suape, sem a interveniência do Incra. Na peça, o tabelionato do Cabo tem o cuidado de registrar que não foi apresentada certidões do Incra sobre a propriedade.
Na avaliação da advogada dos posseiros, a cláusula buscou livrar o cartório de responsabilidade, uma vez que o titulo original que outorgava a propriedade das terras dizia claramente que, sem o uso previsto para reforma agrária, seria anulado e a propriedade voltaria ao Incra.
Manoel Alves da Silva já morreu. A cooperativa ainda existe e funciona legalmente. Padre Melo, um dos agentes com ascendência sobre a entidade na época da ditadura e era tido como um dos mentores de Manoel Alves da Silva, também já morreu, mas já não morava nem mais no Estado de Pernambuco. A depender das marchas e contramarchas, netos e bisnetos dos posseiros podem receber alguma indenização pela posse da terra no passado.
Com a palavra, a OAB, Incra e Suape.
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Petróleo Preservação SUAPE

AINDA SOBRE OS DESMANDO NA REFINARIA DO COMPLEXO DE SUAPE

Petrobras responsabiliza ex-diretor por explosão de custos em refinaria

RAQUEL LANDIM
Folha de São Paulo
18/01/2015
A Petrobras responsabilizou neste domingo (18) o ex-diretor de Abastecimento, Paulo Roberto Costa, pela explosão de custos na refinaria de Abreu e Lima, cujos investimentos previstos saíram de US$ 2,4 bilhões em 2005 para os atuais US$ 18,5 bilhões. Costa é um dos principais delatores do esquema de corrupção na estatal, investigado pela Operação Lava Jato.
Segundo nota divulgada à imprensa, Costa propôs ainda em 2007 “a antecipação de diversas obras da refinaria, alterações do projeto e na estratégia de contratação, o que levou a um grande número de aditamentos contratuais”. Costa já admitiu que cobrava propina das empreiteiras envolvidas na obra, ficando com uma parte e repassando o restante a políticos.
A estatal divulgou a nota por conta de matéria publicada pela Folha que mostrou, com base em relatório da auditoria interna da própria estatal, que a refinaria de Abreu e Lima vai gerar uma perda de US$ 3,2 bilhões para a Petrobras. Os gastos com a construção subiram tanto que as receitas geradas pela refinaria ao longo de sua vida útil, trazidas a valores atuais, não serão capazes de pagar o investimento.
Pedro Ladeira-2.dez.2014/Folhapress
Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras, durante sessão da CPI mista que investigou a estatal
Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras, durante sessão da CPI mista que investigou a estatal
Na nota, a Petrobras não nega o valor do prejuízo, nem que seus administradores tinham conhecimento. A diretoria aprovou a fase de execução de Abreu e Lima em novembro de 2009 e o conselho de administração deu aval para a continuidade das obras em junho de 2012 dentro do seu plano de negócios.
Segundo a nota, “testes realizados pela companhia até 2013 não indicaram a necessidade de reconhecimento de perdas de investimentos realizados na refinaria de Abreu e Lima”. A própria nota esclarece, no entanto, que esses testes são realizados para todas as operações de refinarias, oleodutos e terminais da Petrobras, que teriam resultado positivo no conjunto. A nota não esclarece se foi feito ou qual seria o resultado de um teste apenas para a refinaria de Abreu e Lima.
De acordo com a estatal, a diretoria executiva autorizou as obras da refinaria em novembro de 2009 com base em um estudo que apontava que a refinaria geraria um retorno positivo, “que considerou análises complementares, como desoneração tributária e perda de mercado evitada”.
A reportagem mostrou que pareceres internos da companhia – das áreas de estratégia e tributária – mostravam que essas análises complementares eram de “difícil realização”. Segundo fontes ligadas à empresa, houve “maquiagem” dos dados na época, para transformar um prejuízo de quase US$ 2 bilhões em um ganho de US$ 76 milhões.
Segundo a Petrobras, “o projeto foi apresentado ao conselho de administração, que orientou a diretoria executivo a envidar esforços para elevar a rentabilidade do projeto”. No entanto, a rentabilidade do projeto ficou cada vez mais comprometida, chegando a perda de US$ 3,2 bilhões nos estudos técnicos realizados em junho de 2012.
A estatal afirma ainda que “é competência da diretoria executiva aprovar os projetos que compõem o plano de negócios e que cabe ao conselho de administração a aprovação de toda a carteira de investimentos”. A nota ressalta, no entanto, “que os conselheiros recebem desde 27 de abril de 2012 os relatórios mensais de acompanhamento dos principais projetos, com os avanços físicos e financeiros, incluindo a refinaria de Abreu e Lima “.
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COMPLEXO DE SUAPE, REFINARIA E CORRUPÇÃO

Refinaria de Abreu e Lima dará prejuízo de US$ 3,2 bi

RAQUEL LANDIM
DE SÃO PAULO
18/01/2015
Alvo da Operação Lava Jato, que investiga um esquema de corrupção na Petrobras, a refinaria de Abreu e Lima, em Pernambuco, dará um prejuízo de ao menos US$ 3,2 bilhões à estatal, segundo relatório de auditoria interna obtido pela Folha.
Estudos técnicos da empresa já apontavam as perdas quando integrantes do Conselho de Administração da Petrobras, entre eles a atual presidente da estatal, Graça Foster, aprovaram a continuidade das obras da refinaria, em junho de 2012.
A CVM (Comissão de Valores Mobiliários), que monitora o mercado financeiro, investiga o caso a pedido de acionistas minoritários.
Se for comprovado que os administradores agiram de má-fé ou se omitiram, eles podem ser multados ou impedidos de gerir empresas com ações na Bolsa.
O prejuízo decorre do aumento dos investimentos para construir a refinaria. Os gastos subiram tanto que as receitas previstas para o projeto gerar ao longo do tempo, corrigidas para valores atuais, são insuficientes para pagar o que foi investido.
A obra de Abreu e Lima é a mais cara em curso no Brasil: deve chegar aos US$ 18,5 bilhões. O custo inicial estimado era de US$ 2,4 bilhões.
A continuidade da obra foi aprovada pelo conselho de administração da estatal, em junho de 2012, junto ao plano de negócios da empresa de 2012 a 2016. Os investimentos em Abreu e Lima chegavam então a US$ 17 bilhões.
Em conversas reservadas, membros do conselho da Petrobras na ocasião afirmam que, na discussão sobre a refinaria, a diretoria da estatal apresentou a explosão de custos da obra mas não deixou claro o valor estimado do prejuízo, então em US$ 3,2 bilhões.
Os conselheiros, segundo a Folha apurou, chegaram a questionar se não seria melhor reduzir o valor pelo qual se registraria a refinaria no balanço. A área financeira disse que não era preciso.
Segundo especialistas em petróleo, naquele ponto, seria difícil para o conselho desistir da obra, que já estava 57% concluída. Mas os conselheiros, ponderam, poderiam ter determinado uma revisão para reduzir o potencial prejuízo, além de levar adiante a punição dos responsáveis.
Na auditoria feita pela estatal, os técnicos concluem que o projeto “não passou por reavaliação econômica e aprovação de novos custos, mesmo apresentando todas as situações para isso”.
A Petrobras só criou uma comissão interna para investigar Abreu e Lima em abril de 2014, depois que a Operação Lava Jato expôs a corrupção na estatal. Graça já reconheceu publicamente que a refinaria era uma “lição a ser aprendida e não repetida”. Mas nunca admitiu que ela geraria perda à empresa.
Um dos principais delatores do esquema de corrupção na Petrobras, Paulo Roberto Costa foi diretor de Abastecimento da estatal quando Abreu e Lima começou a ser construída. Ele foi acusado de ter superfaturado contratos da obra. O valor pago a mais teria retornado ao ex-diretor como propina. Há suspeita de que parte destes desvios tenha sido repassada a políticos.
A gênese de Abreu e Lima remonta a 2005, quando o ex-presidente Lula firmou um acordo com Hugo Chávez, da Venezuela, para que a Petrobras e a petroleira venezuelana PDVSA construíssem uma refinaria no Nordeste.
A escalada de gastos, segundo a auditoria, foi provocada por erros de gestão, variação cambial, e mudanças no escopo do projeto, após a saída da PDVSA. Com a Operação Lava Jato, surgiram fortes indícios de superfaturamento da obra por um cartel de empreiteiras.
MAQUIAGEM
Em 2009, auditoria interna já apontava que as contas de Abreu e Lima não fechavam. Na época, os investimentos alcançavam os US$ 13,4 bilhões e o retorno se tornou negativo em quase US$ 2 bilhões.
Segundo pessoas próximas à estatal, os dados foram “maquiados” para a diretoria executiva aprovar a execução da obra naquela etapa. Pareceres internos mostram que a diretoria da Petrobras apostou em cenários de “difícil realização” para zerar o prejuízo, como créditos fiscais e evitar que concorrentes instalassem refinarias no local.
Procurados, a Petrobras e os membros do conselho de administração não responderam às tentativas de contato.
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ANP AUTORIZA FUNCIONAMENTO DA REFINARIA ABREU E LIMA

A noticia abaixo nos deixa apreensivos diante das denuncias que as tubulações usadas na refinaria tiveram seus certificados de garantia falsificados. Quem comprou os tubos foi o Consorcio liderado pela Camargo Correa, e quem forneceu foi a empresa Sanko Sider (que nega a denúncia). Os tubos devem ter certificação da API/USA que garante seu uso contra risco de vazamentos e explosões.

ANP autoriza Petrobras a operar primeira etapa da Refinaria Abreu e Lima

Com a medida tomada pela ANP, a empresa fica autorizada a produzir diesel

Jornal do Commercio/PE -Publicado em 05/12/2014

Agência Brasil

 / Foto: Heudes Regis/JC Imagem

Foto: Heudes Regis/JC Imagem

A Petrobras informou nesta sexta-feira (5) ter recebido autorização da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) para operação de todas as unidades do Trem 1 de refino da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco. Com a medida tomada pela ANP, a empresa fica autorizada a produzir diesel na refinaria.
De acordo com a nota da Petrobras, a autorização foi publicada na edição dessa quinta-feira (4) do Diário Oficial da União. As permissões da ANP contemplam as unidades de destilação atmosférica, coqueamento retardado, tratamento cáustico, hidrotratamento de diesel, hidrotratamento de nafta, geração de hidrogênio e tratamento de águas ácidas da refinaria.

Além dessas sete unidades, a ANP também concedeu à Petrobras permissão para operar 36 tanques e quatro esferas da primeira etapa da refinaria. Os tanques e esferas têm capacidade total de armazenamento de aproximadamente 1 milhão de metros cúbicos, e irão estocar petróleo, diesel, nafta, resíduos e outros produtos.

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JULGAMENTO CONTRA POSSEIRO MARCIANO JUSTO DA SILVA


TJPE JULGARÁ RECURSO DE APELAÇÃO DA SUAPE E DA FUNCEF CONTRA O POSSEIRO MARCIANO JUSTO DA SILVA
No dia 25 de fevereiro – próxima terça-feira – às 14 horas,  a 1ª Câmara de Direito Público do TJPE julgará recurso de apelação interposto pela FUNCEF e pela SUAPE em ação de REINTEGRAÇÃO DE POSSE ajuizada contra o posseiro MARCIANO JUSTO DA SILVA e sua esposa, agricultores, ele com 94 anos,  ela com 83 anos, que estão ameaçados de serem expulsos de suas terras, onde vivem e trabalham há mais de 60 anos.
Para entregar as terras do posseiro Marciano Justo da Silva para a  FUNCEF – FUNDAÇÃO DOS ECONOMIÁRIOS FEDERAIS, um fundo de pensão brasileiro que gerencia a previdência complementar dos funcionários da Caixa Econômica Federal, a SUAPE COMPLEXO INDUSTRIAL PORTUÁRIO se habilitou no polo ativo de uma ação judicial aforada, inicialmente em uma Vara Cível,  transferindo, assim, a competência para a Vara da Fazenda Pública da Comarca do Cabo de Santo Agostinho.

A FUNCEF, autora da ação de reintegração de posse, ” é o terceiro maior fundo de pensão do Brasil e um dos maiores  da América Latina. Entidade fechada de previdência privada, sem fins lucrativos e com autonomia administrativa e financeira, foi criada com base na Lei nº 6.435, de 15 de julho de 1977. Hoje tem patrimônio ativo total superior a R$ 40 bilhões e mais de 111 mil participantes”, como informa o site http://pt.wikipedia.org/wiki/Funda%C3%A7%C3%A3o_dos_Economi%C3%A1ri… .

O senhor Marciano Justo da Silva, réu,  é MAIS UM AGRICULTOR ameaçado de expulsão das  terras que fazem parte das áreas desapropriadas à USINA SANTO INÁCIO,  através de ação de desapropriação com fundamento no ESTATUTO DA TERRA, para fins de REFORMA AGRÁRIA, e que foram integradas ao patrimônio do INCRA – Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária.

 Depois de haver se manifestado  pela  INCOMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL para julgar o processo, em razão da existência de INTERESSE DO INCRA, o que transfere a competência para a Justiça Federal, um novo parecer do Ministério Público foi acostado aos autos,  desta feita firmado pelo Dr. Clênio Valença de Andrade, Procurador designado,  cuja conclusão tem o seguinte teor: “não havendo qualquer circunstância que exija a intervenção do Ministério Público, deixo de me pronunciar sobre o mérito da causa, devendo o feito seguir a sua tramitação”.

De toda evidência, a omissão do Ministério Público de Pernambuco em face da expulsão de milhares de famílias das áreas rurais desapropriadas para fins de REFORMA AGRÁRIA,  com a condescendência – para não dizer conivência – do Tribunal de Justiça de Pernambuco,  é assunto a ser levado ao conhecimento do Conselho Nacional do Ministério Público e ao Conselho Nacional de Justiça, a fim de apurar responsabilidades e punir aqueles que, fugindo ao dever de exercer com independência as suas atribuições legais, passaram a defender os interesses do poder econômico,  representado em  Pernambuco  pela empresa estatal Suape Complexo Industrial Portuário, violando não só os  DIREITOS FUNDAMENTAIS de homens e mulheres  simples, agricultores e pescadores, mas traindo a própria história desse Estado, que fica enxovalhada com um progresso construído sobre o sofrimento e a miséria do trabalhador rural e dos pescadores das áreas do entorno do Porto de Suape.”

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LEILÃO DO PETRÓLEO: MUITOS MOTIVOS PARA QUESTIONAR

Lívia Duarte, jornalista da FASE – Solidariedade e Educação

http://www.fase.org.br
13/05/2013

Diante da 11ª rodada dos leilões do petróleo, a sociedade tem elementos para questionar se há mais valor no que vai vivo sobre a terra ou na matéria orgânica morta há milhares de anos, depositada no subsolo. O tema foi parte do debate realizado nos dias 9 e 10 de maio em encontro sobre a exploração do petróleo no Brasil, que reuniu membros da sociedade civil – ONGs, sindicatos de petroleiros e suas duas federações, além de atingidos pelas atividades da indústria em diversas regiões do Brasil. Os relatos repetem cenários de expropriação da terra e da água e de territórios marítimos, já que os pescadores têm sido impedidos de trabalhar pelo aumento de plataformas e consequente área de exclusão, além dos impactos da poluição, seja por vazamentos ou dragagens. Já os petroleiros questionam a inequalidade de direitos entre trabalhadores da Petrobras, de empresas privadas e terceirizados, além do crescimento exponencial aos riscos de acidentes. A sobreposição – de empresas, cadeias logísticas e impactos – é outra constante.

Apesar das distintas visões sobre a questão – que vão do nacionalismo da campanha O Petróleo Tem que ser Nosso! ao clamor por Nenhum poço a mais! – o debate entre estes setores da sociedade civil aponta para algum nível de compreensão comum. É preciso mudar o modo e a velocidade da indústria petrolífera estrangeira – e brasileira -, considerando o estratégico debate sobre fontes de energia no contexto dos motivos para o aumento da produção, a diversidade de tipos de fontes possíveis e quem são os reais beneficiados pelos investimentos feitos nesta área. Os grupos também concluíram que é preciso criar territórios livres da atividade petroleira, como afirma a carta Contra o 11º leilão e seus impactos socioambientais nos territórios.

[“Todos somos afetados onde não há correlação entre o crescimento econômico e o bem da maioria”, leia entrevista com Sergio Calundungo, da Ajuda da Igreja Norueguesa, sobre o petróleo no país dele, que participou do encontro no Rio]

Pernambuco – Na região metropolitana do Recife, o Fórum Suape – Espaço Socioambiental, fundado em março, não se organiza especificamente em relação à indústria do petróleo. Mas identifica os múltiplos impactos negativos impostos pelas 114 empresas já instaladas (e as 50 que serão em breve construídas) no Complexo Industrial Portuário de Suape.

Por solicitação do governo daquele estado, foram incluídos no leilão dos dias 14 e 15 de maio mais três blocos para exploração de gás e petróleo na bacia Pernambuco-Paraíba. O ofício enviado ao governo federal lembra que os blocos “deverão atrair investimentos e trazer conhecimentos a essa nova área de fronteira exploratória”. A bacia a ser explorada no sul do estado ‘coincide’ com o projeto Suape Global – Pólo Provedor de Bens e Serviços para Indústria de Petróleo, Gás e Naval – que receberá, até o ano que vem, investimentos em obras de infraestrutura no valor de R$ 3 bilhões com a construção de refinaria, complexo petroquímico e estaleiros. Ou seja: mesmo se os poços não forem viáveis economicamente, já terão sido feitos grandes investimentos públicos e privados.

Na região, formada por antigos engenhos, já foram expropriadas mais de 13 mil pessoas desde o início da obra, na década de 70. Outras 25 mil devem ser expulsas até 2020, quando o governo estadual, que administra a área, espera não haver mais moradores. O processo indenizatório, segundo nos conta Mercedes Solá Perez, do Fórum Suape, é realizado sem critérios claros, de maneiras muito diversas de acordo com a pessoa ou o poder de organização de cada comunidade. “Vemos famílias indenizadas com R$ 48 mil, sendo que no Cabo (município onde está Suape) uma casa pequena custa R$ 150 mil, no mínimo”, comenta, evidenciando os impactos do porto sobre a especulação imobiliária nas cidades ao redor. O trânsito virou um problema, assim como os altos índices de poluição, o crescimento da criminalidade, a dificuldade de acesso aos serviços públicos. Tudo isso também fica evidente no vídeo Suape – um caminho sinuoso, produzido pelo Fórum e disponível em sua página na internet, que mostra até os efeitos sobre o acesso a alimentos por parte dos pescadores (assista a seguir). Eles contabilizam que no período de uma semana, quando costumavam pescar cerca de uma tonelada, hoje não tiram do mar mais que 30kg de pescado. São quilômetros de manguezais já desmatados e aterrados, além de ameaças a enormes barreias de corais. As mudanças econômicas tiraram o trabalho da pesca, corroeram seus modos de vida e sobrevivência. Como sintetiza no vídeo um dos pescadores da região: “No passado, eu tinha futuro”.

Rumo ao Norte – Os impactos de um polo econômico como Suape, que está conectado a 160 outros portos no mundo, não podem ser medidos apenas pela região próxima. O complexo inclui uma ampla rede de dutos, ferrovias e estradas, que agora vai sendo ampliada para conectar-se aos portos de Pecém, no Ceará, e Itaqui, no Maranhão, e a empreendimentos no interior do Piauí, por exemplo. O mapa dos blocos de petróleo a serem leiloados no nordeste nesta rodada ajuda a enxergar as proximidades: serão pesquisadas áreas no mar no Maranhão, no Ceará-Rio Grande do Norte, em Pernambuco-Paraíba. E áreas mais ao norte, como a bacia Pará-Maranhão e a região da Foz do Amazonas. Em terra, Alagoas, Recôncavo Baiano, Maranhão e Rio Grande do Norte estão na mira da exploração.

O mapa dos blocos, como destacou Nilo D´Ávila, do Greenpeace, não revela o que está na superfície: terras indígenas e quilombolas muito próximas, assentamentos e outras propriedades camponesas, cidades, importantes barreiras de corais, manguezais e estuários fundamentais à reprodução da vida marinha e dos pescadores. “Falamos de uma ampliação da área de exploração para mais 150 mil km² de território brasileiro e temos mais informação sobre o que vai abaixo do solo – as sísmicas, etc – do que o que está acima, como os modos de vida”, calcula. O desenho dos blocos “evita” claramente áreas de preservação ambiental – como é o caso dos Lençóis Maranhenses, para ficarmos em apenas um caso – e reservas indígenas. Mas a proximidade impressionante deve nos fazer questionar sobre os riscos socioambientais – inclusive porque 14 anos depois da primeira rodada, o Brasil ainda não tem plano de contingência para o caso de acidentes.

Enquanto o debate nacional se limita a distribuição dos royalties, o exemplo do Rio Grande do Norte, que já reveza com o Amazonas o posto de maior produtor de petróleo em terra no Brasil, pareceu emblemático. Leandro Freitas, da Diaconia, lembrou que desde a década de 1970 foram furados mais de 11 mil poços no estado e que estes poços – assim como a infraestrutura necessária ao funcionamento da indústria – estão agora em crise de produção, gerando problemas como desemprego. A perfuração de novos poços está no horizonte com o leilão. Sua localização coincide com as duas bacias hidrográficas mais importantes do estado e a região da Chapada do Apodi, maior polo de produção da agricultura agroecológica do estado, que abastece a região com alimentos. Seguindo a lógica de que um projeto não chega sozinho, a agricultura familiar também está ameaçada por um enorme projeto de perímetro irrigado voltado ao agronegócio. “A base da economia aqui é a agricultura. E vemos que em períodos como o atual, com os problemas causados pela seca, os royalties não são usados para aquilo que deveria – usados em serviços”, destaca, lembrando que cidades como Macau e Mamoré, recordistas no recebimento de royalties do petróleo, têm baixos Índices de Desenvolvimento Humano. Aliás, o Ministério Público denunciou desvio de mais de R$ 13 milhões da receita dos royalties nestas localidades no período entre 2008 e 2012, ação que flagrou também a falta de transparência, debate e participação públicos no que diz respeito à divisão das receitas provenientes da exploração de recursos naturais.

Seguindo ao sul – No debate sobre royalties, Marcelo Calazans, da FASE Espírito Santo, lembrou que os “lucros” do petróleo não têm se convertido em melhorias na qualidade de vida da população na maioria dos casos. Presidente Kannedy, no Espírito Santo, é um caso emblemático visto que ter o segundo maior PIB per capta do estado (mais de R$ 97 mil por habitante) não garante melhoria da qualidade de vida ou diminuição da desigualdade. Quem visita o pequeno município de 11 mil habitantes encontra um verdadeiro caos ao invés de serviços públicos de qualidade, como a Saúde. Marcelo defende que o debate não se concentre nas compensações – que são sim muito importantes já que os impactos afetam a vida de milhares de pessoas –, mas abarque também o uso que “esta sociedade petroleira” dá ao petróleo. “Precisamos barrar a expansão deste modelo. Considerando o petróleo como um bem tão valioso, é fundamental que seja usado com parcimônia ao invés de ser queimado, irracionalmente, nos congestionamentos das nossas metrópoles. Não podemos perder o horizonte de alguma transição para outro uso da energia”, destacou, argumentando que o petróleo pode ser mais valioso (e nosso) sob a terra, já que depois da extração, diante do capital, não controlamos mais esta riqueza.

Paulo Henrique de Oliveira, da FASE e do Fórum de Afetados por Petróleo e Gás no Espírito Santo, ironizou: “se o petróleo é nosso, decidi que não vou explorar minha parte”. Ele refletiu sobre os impactos que mapeou com um grupo de cicloativistas no Pedal Contra o Pré-sal, que seguiu por quase 400km entre Vitória e a fronteira com a Bahia. Na região, há áreas exploradas em terra desde a década de 70, onde os cicloativistas presenciaram contaminação e “uma compensação que não compensa”, na fala de pessoas e comunidades afetadas. A área tende a aumentar com os novos blocos exploratórios que serão leiloados pela ANP.

Também no sul do Espírito Santo serão vendidos novos blocos, que se aproximam de cidades como Anchieta, já pressionada pela antiga presença de empreendimentos no ramo da mineração. Adilson Ramos, o Russo, pescador de uma associação local, teme o aumento do número de plataformas: seja pela diminuição das áreas de pesca, consequência das áreas de exclusão ao redor das embarcações, seja pela poluição que mata cardumes. “Dizem que compensação é aula de preservação ambiental. Olha, pescador não precisa de aula de preservação ambiental. Os royalties são pagos, mas não para o pescador que tomou prejuízo. Não vemos isso em nada, não sabemos pra onde vai. De que forma alimentamos nossos filhos?”, questionou.

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Petróleo Pina

PETRÓLEO CONTAMINA ESTUÁRIO DO PINA

Publicado no Jornal do Commercio, 
22 de março de 2013.

O estuário da Bacia do Pina, confluência de quatro rios que cortam o Recife, está contaminado por derivados de petróleo. Pesquisadores da Universidade Federal de Pernambuco encontraram no local hidrocarbonetos aromáticos, substâncias que podem provocar câncer, em quantidades até sete vezes acima do permitido. Um alerta, segundo eles, para as agências de controle ambiental, hoje, Dia Mundial da Água.

O Rio Tejipió é o que apresenta índices mais elevados de compostos aromáticos, de acordo com o levantamento, feito por equipe dos Departamentos de Zoologia e Oceanografia da UFPE. O valor aceitável desse tipo de hidrocarbonetos, segundo a literatura científica, é de um micrograma por litro. Na desembocadura do Tejipió, a quantidade chegou a 7,41 microgramas por litro.

A coordenadora da pesquisa, a química Eliete Zanardi Lamardo (foto), lembra que o Tejipió corta o Distrito Industrial do Curado, em Jaboatão dos Guararapes, município vizinho ao Recife. Segundo ela, hidrocarbonetos aromáticos são provenientes de efluentes de indústrias e também domésticos. Lava-jatos, limpeza de motores, troca de óleo de automóveis e máquinas estão entre as fontes poluidoras.

As amostras foram recolhidas em nove estações, no período seco e no chuvoso, sempre na maré vazante. Dessa forma, os pesquisadores evitaram que a diluição provocada pela água do mar, que entra no estuário na maré alta, interferisse no levantamento. Os resultados fazem parte do trabalho de conclusão do curso da bióloga Nicole Favrod, ano passado.

Os pontos de coleta diretamente relacionados aos rios são a foz do braço do Capibaribe, do Tejipió, do Jordão e do Pina. Os outros estão na altura do descarte da Estação de Tratamento de Esgoto da Companhia Pernambucana de Saneamento (Compesa) na Cabanga, numa das marinas de Brasília Teimosa, na foz do Capibaribe e Beberibe, nos armazéns do Porto do Recife e na boca da barra, por onde os navios entram e saem.

Para surpresa dos pesquisadores, a análise da amostra coletada no porto não indicou índices elevados de hidrocarbonetos de petróleo dissolvidos na água. “Isso não quer dizer que a movimentação dos navios não contribua, mas que os índices desses compostos aromáticos nos efluentes industriais e domésticos dos rios é maior”, explica Eliete, coordenadora do Laboratório de Compostos Orgânicos em Ecossistemas Costeiros e Marinhos (OrganoMAR), do Departamento de Oceanografia da UFPE.

Os resultados, na opinião da pesquisadora, devem ser levados em consideração pela Agência Estadual de de Meio Ambiente (CPRH) e Compesa. “É necessária a realização de estudos sobre a ecotoxicidade em animais aquáticos”, sugere Eliete, “além do monitoramento sistemático desses compostos na região”.

EFEITOS

Hidrocarbonetos aromáticos, além de indicadores de poluição por petróleo, têm reconhecida ação carcinogênica. Resultados preliminares de estudos feitos com peixes na UFPE mostram que esses compostos influenciam ainda no comportamento dos animais. A substância, afirma Eliete, interfere na natação dos peixes, causando uma espécie de desorientação.

Outro efeito observado está relacionado ao sistema visual. “Se não enxerga direito, o animal não é capaz de identificar suas presas, o que dificulta a alimentação, e também seus predadores, o que o torna mais suscetível à predação”, detalha. Nos testes, realizados no Laboratório de Ecotoxicologia Aquática da UFPE, vinculado ao Departamento de Zoologia, o composto é colocado na água. A absorção pelos peixes se dá pela respiração, feita nas brânquias.

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