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Petróleo Preservação SUAPE

AINDA SOBRE OS DESMANDO NA REFINARIA DO COMPLEXO DE SUAPE

Petrobras responsabiliza ex-diretor por explosão de custos em refinaria

RAQUEL LANDIM
Folha de São Paulo
18/01/2015
A Petrobras responsabilizou neste domingo (18) o ex-diretor de Abastecimento, Paulo Roberto Costa, pela explosão de custos na refinaria de Abreu e Lima, cujos investimentos previstos saíram de US$ 2,4 bilhões em 2005 para os atuais US$ 18,5 bilhões. Costa é um dos principais delatores do esquema de corrupção na estatal, investigado pela Operação Lava Jato.
Segundo nota divulgada à imprensa, Costa propôs ainda em 2007 “a antecipação de diversas obras da refinaria, alterações do projeto e na estratégia de contratação, o que levou a um grande número de aditamentos contratuais”. Costa já admitiu que cobrava propina das empreiteiras envolvidas na obra, ficando com uma parte e repassando o restante a políticos.
A estatal divulgou a nota por conta de matéria publicada pela Folha que mostrou, com base em relatório da auditoria interna da própria estatal, que a refinaria de Abreu e Lima vai gerar uma perda de US$ 3,2 bilhões para a Petrobras. Os gastos com a construção subiram tanto que as receitas geradas pela refinaria ao longo de sua vida útil, trazidas a valores atuais, não serão capazes de pagar o investimento.
Pedro Ladeira-2.dez.2014/Folhapress
Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras, durante sessão da CPI mista que investigou a estatal
Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras, durante sessão da CPI mista que investigou a estatal
Na nota, a Petrobras não nega o valor do prejuízo, nem que seus administradores tinham conhecimento. A diretoria aprovou a fase de execução de Abreu e Lima em novembro de 2009 e o conselho de administração deu aval para a continuidade das obras em junho de 2012 dentro do seu plano de negócios.
Segundo a nota, “testes realizados pela companhia até 2013 não indicaram a necessidade de reconhecimento de perdas de investimentos realizados na refinaria de Abreu e Lima”. A própria nota esclarece, no entanto, que esses testes são realizados para todas as operações de refinarias, oleodutos e terminais da Petrobras, que teriam resultado positivo no conjunto. A nota não esclarece se foi feito ou qual seria o resultado de um teste apenas para a refinaria de Abreu e Lima.
De acordo com a estatal, a diretoria executiva autorizou as obras da refinaria em novembro de 2009 com base em um estudo que apontava que a refinaria geraria um retorno positivo, “que considerou análises complementares, como desoneração tributária e perda de mercado evitada”.
A reportagem mostrou que pareceres internos da companhia – das áreas de estratégia e tributária – mostravam que essas análises complementares eram de “difícil realização”. Segundo fontes ligadas à empresa, houve “maquiagem” dos dados na época, para transformar um prejuízo de quase US$ 2 bilhões em um ganho de US$ 76 milhões.
Segundo a Petrobras, “o projeto foi apresentado ao conselho de administração, que orientou a diretoria executivo a envidar esforços para elevar a rentabilidade do projeto”. No entanto, a rentabilidade do projeto ficou cada vez mais comprometida, chegando a perda de US$ 3,2 bilhões nos estudos técnicos realizados em junho de 2012.
A estatal afirma ainda que “é competência da diretoria executiva aprovar os projetos que compõem o plano de negócios e que cabe ao conselho de administração a aprovação de toda a carteira de investimentos”. A nota ressalta, no entanto, “que os conselheiros recebem desde 27 de abril de 2012 os relatórios mensais de acompanhamento dos principais projetos, com os avanços físicos e financeiros, incluindo a refinaria de Abreu e Lima “.
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SUAPE

O TRABALHADOR DE SUAPE “PAGA O PATO” PELOS DESMANDOS

Empresas envolvidas na Lava Jato já demitiram mais de 12 mil em 2 meses

Estadão

RENÉE PEREIRA
18/1/2015

Em menos de dois meses, consórcios formados por empresas envolvidas na operação Lava Jato, que investiga denúncias de corrupção em contratos da Petrobrás, demitiram mais de 12 mil trabalhadores em todo o Brasil, segundo balanços das centrais sindicais. Para as próximas semanas, são esperadas novas rescisões, especialmente por causa da deterioração financeira de muitas empresas que caminham para a recuperação judicial – ou já entraram nesse processo.

A situação é grave. De um dia para o outro, centenas de trabalhadores ficaram sem emprego e sem dinheiro – muitos deles ainda não receberam a indenização da rescisão e estão em sérias dificuldades financeiras. Os piores casos são verificados na Refinaria Abreu e Lima e no Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), dois mega empreendimentos da Petrobrás que envolvem centenas de contratos com empreiteiras. Mas, segundo os sindicatos, as demissões também atingem projetos no Rio Grande do Sul e Bahia.
Os problemas surgiram com a sétima fase da operação Lava Jato, da Polícia Federal, desencadeada na primeira quinzena de novembro e que prendeu executivos de várias construtoras, como Camargo Corrêa, OAS, Mendes Júnior, UTC, Engevix, Iesa, Galvão Engenharia e Queiroz Galvão. No fim de dezembro, a situação se complicou ainda mais com a lista de 23 empresas proibidas de participar de novas licitações da Petrobrás.
Sem crédito no mercado e com o caixa debilitado pela falta de pagamento da estatal, que também não tem reconhecido aditivos bilionários das contratadas, as construtoras começaram a atrasar salários e a demitir. A campeã de desligamentos é a Alumini (ex-Alusa), que pediu recuperação judicial na quinta-feira. Na Refinaria Abreu e Lima, demitiu 5 mil funcionários, mas pagou apenas 58% do valor da rescisão, afirma o diretor do Sindicato das Indústrias de Construção de Pernambuco (Sintepav), Leodelson Bastos.
Segundo ele, a irregularidade no pagamento das rescisões tem sido geral nas obras da Abreu e Lima. “Na Engevix, 700 funcionários foram demitidos e, por enquanto, eles só receberam o FGTS. Na Galvão, apenas 60% dos mil demitidos receberam.” No consórcio Coeg, formado pelas empresas Conduto e Egesa, 500 funcionários foram mandados embora e 337 ainda não receberam a indenização, completou ele. “Aqueles que continuam trabalhando para o consórcio estão com os salários atrasados.” A Engevix afirmou que, como as demissões ocorreram em dezembro, nem todos os processos foram concluídos.
Férias. Na Bahia, a crise afetou o Estaleiro Enseada do Paraguaçu, formado por Odebrecht, OAS, UTC e Kawasaki. A empresa demitiu 970 trabalhadores entre dezembro e janeiro, afirmou o vice-presidente do Sintepav-BA, Irailson Warneaux. Segundo ele, para evitar um número maior de demissões, já que a Sete Brasil (companhia que faz a contratação das sondas de perfuração) interrompeu os repasses para o estaleiro, a forma encontrada entre o sindicato e a empresa foi dar férias para mil funcionários até 31 de janeiro.
Além disso, diz o sindicalista, ficou estabelecido que os demitidos terão prioridade na contratação quando as obras voltarem ao ritmo normal. Em nota, a companhia afirmou que, com 82% do projeto concluído, foi orientada a fazer um ajuste no quadro de funcionários para readequar o planejamento da construção. “Apesar de reconhecer o período de dificuldade enfrentando pela indústria naval brasileira, a empresa mantém sua operação industrial na Bahia para fabricação das seis sondas de perfuração para exploração do pré-sal.”
No Comperj, as demissões também estão se alastrando. A maior dor de cabeça dos sindicalistas é a Alumini, que não paga nem os salários dos 2,5 mil trabalhadores ativos nem a terceira parcela da rescisão dos 469 demitidos. Como não cumpriu um acordo com o sindicato de Pernambuco, um juiz de Ipojuca (PE) bloqueou a conta da empresa.
O balanço de trabalhadores demitidos no Comperj aponta para 4,1 mil funcionários, segundo o Sindicato dos Trabalhadores Empregados nas Empresas de Montagem e Manutenção Industrial da Cidade de Itaboraí (Sintramon).
Segundo o vice-presidente da central sindical, Marcos Hartung, outros consórcios como o TE-AG (da Techint e Andrade Gutierrez), CPPR (Odebrecht, Mendes Junior e UTC) e a empresa GDK também demitiram nos últimos dias. Alguns alegam que as demissões ocorreram por causa do fim das obras.
Na avaliação do economista Gesner Oliveira, sócio da GO Associados, em outra circunstância, essa mão de obra seria rapidamente absorvida. Mas ele lembra que o País vive um cenário de diminuição do nível de emprego. “A gente já vem observando uma geração negativa no setor da construção.”
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Fórum Suape SUAPE

CARTA ABERTA A PRESIDENTE DILMA

44 entidades e especialistas subscrevem carta aberta à Presidenta Dilma Rousseff, que apresenta propostas para restabelecer estoques marinhos; redução ameaça paralisar o setor pesqueiro
A presidenta Dilma Rousseff recebeu, nessa quarta-feira (14), carta aberta assinada por 16 entidades ligadas à pesca e 28 especialistas, na maioria cientistas pesqueiros dedicados ao estudo e conservação de recursos marinhos, com propostas de mudanças estruturais para a política pesqueira nacional. Apoiada tanto por cientistas, organizações de proteção ao meio ambiente, lideranças da pesca industrial e da pesca artesanal, a carta representa um consenso inédito no setor e defende a adoção de uma política qualificada de pesca para o Brasil, baseada em dados e diagnósticos confiáveis, que garanta a sustentabilidade da atividade pesqueira no longo prazo.
Para enfrentar os problemas do setor, as entidades e especialistas propõe na carta aberta um conjunto de cinco ações necessárias para um adequado ordenamento pesqueiro: a regulamentação e implantação imediata do Sistema Nacional de Informações de Pesca e Aquicultura (SINPESQ), aprovado há 20 anos e até hoje não regulamentado; investimentos em pesquisa; adequação do marco legal; elaboração de planos de manejo para as pescarias e planos de recuperação de estoques de espécies capturadas em excesso; e investimentos em fiscalização e combate à pesca ilegal.
Articulada pela organização não governamental Oceana Brasil, a carta é divulgada no momento em que o setor da pesca atravessa uma grave crise: a recente divulgação da listade espécies brasileiras ameaçadas de extinção revelou que 97 espécies de peixes marinhos, muitas delas exploradas comercialmente, estão em risco e podem ter sua captura proibida; em decorrência, vários incidentes foram registrados, como o fechamento de portos na Região Sul por pescadores. “O problema não é apenas ambiental, mas também econômico e social. Somente o ordenamento pesqueiro eficiente, baseado em dados científicos, pode oferecer uma solução viável e definitiva”, defendeu Mônica Brick Peres, diretora geral da Oceana Brasil e vice-presidente da Oceana Internacional.
Pesca no Brasil
A carta destaca que o Brasil está entre os 30 maiores produtores de pescado no mundo; a atividade reúne cerca de um milhão de pescadores profissionais e 42 mil embarcações, gerando mais de 3,5 milhões de empregos diretos e indiretos. A pesca artesanal é responsável por, pelo menos, 50% da produção de pescado nacional e é fundamental para a geração de renda e a segurança alimentar do país.
Apesar de sua importância, a maioria das pescarias não tem qualquer controle ou normatização no Brasil: apesar do contínuo aumento da capacidade, da expansão das áreas de pesca e da substituição de espécies, a produção da pesca marinha caiu desde meados da década de1980 e está estável há mais de 20 anos, devido à pesca excessiva e mal ordenada. A atividade ainda enfrenta ameaças como a pesca ilegal e irregular, praticada por barcos piratas ou realizada em áreas, épocas e com aparelhos de pesca proibidos, entre outros.
(Oceana Brasil)
Veja a íntegra da carta aberta abaixo

Carta aberta à Presidenta Dilma Rousseff

Excelentíssima Presidenta da República
Senhora Dilma Vana Rousseff
Neste momento em que Vossa Excelência dá início ao seu segundo mandato, entidades e pesquisadores dedicados ao estudo e conservação de recursos marinhos, assim como sindicatos e representações do setor pesqueiro nacional vêm respeitosamente apresentar suas percepções e demandas para as mudanças estruturais necessárias à política pesqueira nacional.
A importância socioeconômica e cultural da pesca no Brasil é inquestionável. O país está entre os 30 maiores produtores de pescado no mundo. A atividade reúne cerca de um milhão de pescadores profissionais e 42 mil embarcações, gerando mais de 3,5 milhões de empregos diretos e indiretos. A pesca de pequena escala é responsável por, pelo menos, 50% da produção de pescado nacional e é muito importante para a renda, a segurança alimentar e a manutenção do modo de vida de milhares de comunidades pesqueiras do país. As histórias de pescadores, do mar e suas fascinantes criaturas estão profundamente arraigadas na cultura, valores e religião do nosso povo. A manutenção de todos esses bens e serviços tem baixo custo para o país, mas a perda de empregos, renda e alimentos ligados à atividade não pode ser substituída.
Como é de seu conhecimento, os recursos pesqueiros são patrimônio público sob tutela do Estado e o direito de explorá-los economicamente é uma concessão do Poder Público, que deve proteger os direitos da coletividade. É obrigação constitucional do Estado brasileiro garantir a gestão adequada e a repartição justa dos benefícios socioeconômicos decorrentes da exploração desse patrimônio, em harmonia com a conservação do meio ambiente e da biodiversidade. A manutenção dos benefícios da pesca deveria ser considerada da mais alta prioridade para o Estado brasileiro.
Infelizmente, nossas pescarias têm sido mal manejadas ou simplesmente ignoradas, causando enorme prejuízo socioeconômico e ambiental. A produção anual da pesca extrativa marinha nacional atingiu um máximo de 750 mil toneladas em meados da década de 1980, caindo para 400 mil toneladas nos anos subsequentes. Desde 1990, apesar do contínuo aumento da capacidade de pesca, do número de barcos, da expansão das áreas de pesca tradicionais e da substituição continua de uma espécie-alvo por outra, a produção da pesca marinha nacional tem se mantido entre 400 e 550 mil toneladas ao ano. Essa aparente estabilidade significa, na verdade, uma sucessão de pescarias colapsadas por exploração acima da capacidade de suporte dos estoques, ou seja, por pesca excessiva e mal ordenada. Isso tem gerado enormes prejuízos econômicos para o setor pesqueiro e também prejuízos sociais e ambientais de difícil recuperação. Outro problema grave que contribui para as perdas socioeconômicas e ambientais é a pesca ilegal e irregular. Barcos piratas, pescarias em áreas, épocas e com aparelhos de pesca proibidos, captura de espécies proibidas e ainda a descaracterização e venda de pescado fraudado são muito comuns no Brasil.
No Brasil, a maioria das pescarias não tem qualquer controle ou normatização. Para aquelas consideradas “manejadas”, as medidas restringem-se a tamanhos mínimos de captura ou restrições de épocas e de aparelhos de pesca, que são mundialmente reconhecidas como insuficientes para a efetiva gestão e garantia de sustentabilidade dos recursos pesqueiros. Dada a fragilidade histórica da gestão pesqueira, o país enfrenta hoje enormes lacunas em termos de monitoramento, avaliação de estoques e fiscalização da pesca, com um claro retrocesso nos últimos anos. A situação da pesca é bastante grave e precisa ser urgentemente revertida.
A produtividade biológica da pesca extrativa depende diretamente da capacidade de reposição natural dos estoques pesqueiros explorados. Por isso, é imprescindível manter um sistema eficiente e contínuo de coleta e análise de dados técnico-científicos e avaliações de estoque para subsidiar o adequado ordenamento da pesca. As informações essenciais, previstas no Sistema Nacional de Informações de Pesca e Aquicultura (SINPESQ), devem ser obtidas através de: (1) monitoramento de desembarques da pesca artesanal e industrial; (2) mapas de bordo; (3) observadores de bordo; (4) rastreamento via satélite de embarcações pesqueiras; (5) monitoramento da biodiversidade marinha independentemente da pesca comercial, por meio de cruzeiros de pesquisa e; (6) informações socioeconômicas. Apesar da sua importância, o SINPESQ foi criado por decreto presidencial em 1995 e nunca foi devidamente regulamentado e implantado. Essas informações são absolutamente fundamentais para estabelecer medidas de ordenamento e políticas de desenvolvimento adequadas à manutenção dos rendimentos da atividade econômica, dos benefícios sociais, da biodiversidade e da saúde dos oceanos no longo prazo.
É consenso absoluto entre os setores ligados à pesca que precisamos urgentemente qualificar a política pesqueira e estruturar o país para a implementação de um sistema de gestão pesqueira adequado. Nos últimos anos, diversas cartas, manifestos e moções sobre a necessidade de se produzir informações e melhorar a gestão pesqueira têm sido enviados à Casa Civil e aos Ministérios da Pesca e Meio Ambiente, mas infelizmente nenhuma dessas demandas recebeu qualquer resposta até o momento.
Impressiona o fato de que todos aqui subscritos – cientistas, organizações de proteção ao meio ambiente, lideranças da pesca industrial e da pesca artesanal – concordem e defendam a mesma posição: a pesca tem enorme importância e o Brasil precisa deuma política pesqueira qualificada, baseada em dados e diagnósticos confiáveis,que garanta a sua sustentabilidade em longo prazo.
Certos de que esta é uma demanda do conjunto da sociedade brasileira, através das organizações e especialistas abaixo assinados, vem respeitosamente, pedir à Vossa Excelência:
1)    A regulamentação e implantação imediata do SINPESQ, garantindo um monitoramento pesqueiro eficiente, que inclua a coleta sistemática e contínua de dados de desembarques, das capturas e do esforço de pesca, além da obtenção de informações biológicas, econômicas e sociais;
2)    Investimentos em pesquisa aplicada, em estreita parceria com os setores acadêmico e pesqueiro, para a avaliação periódica do estado dos estoques pesqueiros brasileiros;
3)    Adequação do marco legal nacional, com a definição de critérios, diretrizes e objetivos claros para o processo de gestão do uso dos recursos pesqueiros;
4)    Elaboração de planos de manejo para cada pescaria e planos de recuperação de estoques sobrepescados, com a participação de representantes da sociedade e da academia; sempre considerando a proteção da biodiversidade e a garantia dos benefícios socioeconômicos de longo prazo;
5)    Investimentos em fiscalização e combate à pesca ilegal.
            As organizações e especialistas abaixo assinados colocam-se à disposição para dialogar sobre essas propostas.
Organizações, por ordem de adesão:
1. Dra. Mônica Brick Peres, Diretora Geral da OCEANA Brasil, Vice-Presidente da OCEANA Internacional
2. Gabriel Calzavara de Araújo, Presidente da Atlântico Tuna
3. Tatiana Neves, Coordenadora Geral do Projeto Albatroz
4. Maria Ângela Marcovaldi, Coordenadora Nacional de Pesquisa e Conservação, Projeto Tamar/ Fundação Pró-Tamar
5. João Thadeu de Menezes, Presidente, e Marco Aurélio Bailon, Conselheiro da Associação Brasileira de Oceanografia – AOCEANO
6. Dr. Kleber Grübel da Silva, Diretor, MSc. Danielle da Silveira Monteiro, e Biólogo e Ecólogo Sérgio Curi Estima, Núcleo de Educação e Monitoramento Ambiental NEMA
7. José Ciaglia, Presidente do Sindicato dos Armadores de Pesca do Estado de SãoPaulo  SAPESP
8. Comte. Flavio de Moraes Leme, Presidente da Comissão Nacional da Pesca daConfederação da Agricultura e Pecuária do Brasil  CNA
9. Alexandre Guerra Espogeiro, Presidente do Sindicato dos Armadores de Pesca doEstado do Rio de Janeiro  SAPERJ
10. Dr. Sergio Schwarz da Rocha, Presidente da Sociedade Brasileira deCarcinologia – SBC
11. Carlos Alberto Pinto dos Santos, Secretário Executivo da Comissão Nacional de Fortalecimento das Reservas Extrativistas Costeiras e Marinhas – Confrem
12. Dr. Ricardo de Souza Rosa, Presidente da Sociedade Brasileira para o Estudo de Elasmobrânquios – SBEEL
13. Dr. Luis Tadeu Assad, Diretor Presidente, e André M. Brugger, Presidente do Conselho Deliberativo do Instituto Brasileiro de Desenvolvimento e Sustentabilidade – IABS
14. Georgia Pessoa, Diretora de Programa da Rare Brasil
15. Dr. Leopoldo Gerhardinger, Coletivo Memórias do Mar
16. Rodrigo Medeiros, Vice-Presidente do Programa Brasil, Conservação Internacional
Especialistas, por ordem de adesão:
1. Prof. Dr. Jorge Pablo Castello, Instituto de Oceanografia, Universidade Federal de Rio Grande – FURG
2. Prof. Dr. Fábio Hissa Vieira Hazin, Departamento de Pesca e Aquicultura, Universidades Federal Rural de Pernambuco – UFRPE
3. Prof. Dra. Carmen Lúcia Del Bianco Rossi-Wongtschowski, Instituto Oceanográfico, Universidade de São Paulo – USP
4. Prof. MSc. Roberto Wahrlich, Grupo de Estudos Pesqueiros, Centro de Ciências Tecnológicas da Terra e do Mar, Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI
5. Dr. Antônio Olinto Ávila da Silva, Centro APTA Pescado Marinho, Instituto de Pesca
6. Prof. Dra. Beatrice Padovani Ferreira, Departamento de Oceanografia, Universidade Federal de Pernambuco – UFRPE
7. MSc. Mauro Luis Ruffino, GSA Consultoria em Meio Ambiente Ltda.
8. Prof. Dr. Paul Gerhard Kinas, Instituto de Matemática Estatística e Física- Universidade Federal de Rio Grande – FURG
9. Prof. Dr. Otto Bismarck Fazzano Gadig, Laboratório de Pesquisa de Elasmobrânquios, Universidade Estadual de São Paulo – UNESP
10. Prof. Dr. Lauro Saint Pastous Madureira, Instituto de Oceanografia, Universidade Federal de Rio Grande – FURG
11. Prof. Dr. Marcelo Vianna, Departamento de Biologia Marinha, Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ.
12. Prof. Dr. Paulo Ricardo Pezzuto, Grupo de Estudos Pesqueiros, Centro de Ciências Tecnológicas da Terra e do Mar, Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI
13. Prof. Dra. Patrízia Raggi Abdallah, Unidade de Pesquisa em Economia Costeira e Marinha, Programa de Pós-Graduação em Economia do Mar, Instituto de Economia, Universidade Federal do Rio Grande, FURG.
14. Prof. Dr. Paulo de Tarso Chaves, Universidade Federal do Paraná – UFPR
15. Prof. Dr. Agnaldo Silva Martins, Departamento de Oceanografia e Ecologia, Universidade Federal do Espírito Santo – UFES
16. Prof. Dr. Jose Angel Alvarez Perez, Centro de Ciências Tecnológicas da Terra e do Mar, Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI
17. Prof. Dr. Eduardo R. Secchi, Laboratório de Ecologia e Conservação da Megafauna Marinha – EcoMega, Instituto de Oceanografia, Universidade Federal do Rio Grande – FURG
18. Prof. Dra. Rosangela Paula Teixeira Lessa, Departamento de Pesca e Aquicultura, Universidade Federal Rural de Pernambuco – UFRPE.
19. Prof. Paulo A. S. Costa, Departamento de Ecologia e Recursos Marinhos, Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – UNIRIO
20. Prof. Dr. Marcelo Antonio Amaro Pinheiro, Laboratório de Biologia de Crustáceos, Universidade Estadual de São Paulo – UNESP
21. Prof. Dr. Alexander Turra, Departamento de Oceanografia Biológica, Instituto Oceanográfico, Universidade de São Paulo – IO-USP
22. Prof. Dr. Eduardo Tavares Paes, Laboratório de Ecologia Marinha e Oceanografia Pesqueira da Amazônia, Universidade Federal Rural da Amazônia – UFRA
23. Prof. Fabio dos Santos Motta, Departamento de Ciências do Mar, Universidade Federal de São Paulo
24. Prof. Dra. Maria Lúcia Goes de Araújo, Departamento de Pesca e Aquicultura, Universidade Federal Rural de Pernambuco – UFRPE
25. Prof. Dr. Cláudio Luis Santos Sampaio, Universidade Federal de Alagoas
26. Prof. Dr. Rodrigo Leão de Moura, Instituto de Biologia, Departamento de Biologia Marinha, Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ
27. Luis Henrique de Lima, Oficial de Meio Ambiente do Setor de Ciências Naturais da UNESCO – Representação do Brasil
28. Aristides Pereira Lima Green, analista da Coordenação de Agropecuária, Diretoria de Pesquisas, Departamento de Agropecuária, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE
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Petróleo SUAPE Violações

COMPLEXO DE SUAPE, REFINARIA E CORRUPÇÃO

Refinaria de Abreu e Lima dará prejuízo de US$ 3,2 bi

RAQUEL LANDIM
DE SÃO PAULO
18/01/2015
Alvo da Operação Lava Jato, que investiga um esquema de corrupção na Petrobras, a refinaria de Abreu e Lima, em Pernambuco, dará um prejuízo de ao menos US$ 3,2 bilhões à estatal, segundo relatório de auditoria interna obtido pela Folha.
Estudos técnicos da empresa já apontavam as perdas quando integrantes do Conselho de Administração da Petrobras, entre eles a atual presidente da estatal, Graça Foster, aprovaram a continuidade das obras da refinaria, em junho de 2012.
A CVM (Comissão de Valores Mobiliários), que monitora o mercado financeiro, investiga o caso a pedido de acionistas minoritários.
Se for comprovado que os administradores agiram de má-fé ou se omitiram, eles podem ser multados ou impedidos de gerir empresas com ações na Bolsa.
O prejuízo decorre do aumento dos investimentos para construir a refinaria. Os gastos subiram tanto que as receitas previstas para o projeto gerar ao longo do tempo, corrigidas para valores atuais, são insuficientes para pagar o que foi investido.
A obra de Abreu e Lima é a mais cara em curso no Brasil: deve chegar aos US$ 18,5 bilhões. O custo inicial estimado era de US$ 2,4 bilhões.
A continuidade da obra foi aprovada pelo conselho de administração da estatal, em junho de 2012, junto ao plano de negócios da empresa de 2012 a 2016. Os investimentos em Abreu e Lima chegavam então a US$ 17 bilhões.
Em conversas reservadas, membros do conselho da Petrobras na ocasião afirmam que, na discussão sobre a refinaria, a diretoria da estatal apresentou a explosão de custos da obra mas não deixou claro o valor estimado do prejuízo, então em US$ 3,2 bilhões.
Os conselheiros, segundo a Folha apurou, chegaram a questionar se não seria melhor reduzir o valor pelo qual se registraria a refinaria no balanço. A área financeira disse que não era preciso.
Segundo especialistas em petróleo, naquele ponto, seria difícil para o conselho desistir da obra, que já estava 57% concluída. Mas os conselheiros, ponderam, poderiam ter determinado uma revisão para reduzir o potencial prejuízo, além de levar adiante a punição dos responsáveis.
Na auditoria feita pela estatal, os técnicos concluem que o projeto “não passou por reavaliação econômica e aprovação de novos custos, mesmo apresentando todas as situações para isso”.
A Petrobras só criou uma comissão interna para investigar Abreu e Lima em abril de 2014, depois que a Operação Lava Jato expôs a corrupção na estatal. Graça já reconheceu publicamente que a refinaria era uma “lição a ser aprendida e não repetida”. Mas nunca admitiu que ela geraria perda à empresa.
Um dos principais delatores do esquema de corrupção na Petrobras, Paulo Roberto Costa foi diretor de Abastecimento da estatal quando Abreu e Lima começou a ser construída. Ele foi acusado de ter superfaturado contratos da obra. O valor pago a mais teria retornado ao ex-diretor como propina. Há suspeita de que parte destes desvios tenha sido repassada a políticos.
A gênese de Abreu e Lima remonta a 2005, quando o ex-presidente Lula firmou um acordo com Hugo Chávez, da Venezuela, para que a Petrobras e a petroleira venezuelana PDVSA construíssem uma refinaria no Nordeste.
A escalada de gastos, segundo a auditoria, foi provocada por erros de gestão, variação cambial, e mudanças no escopo do projeto, após a saída da PDVSA. Com a Operação Lava Jato, surgiram fortes indícios de superfaturamento da obra por um cartel de empreiteiras.
MAQUIAGEM
Em 2009, auditoria interna já apontava que as contas de Abreu e Lima não fechavam. Na época, os investimentos alcançavam os US$ 13,4 bilhões e o retorno se tornou negativo em quase US$ 2 bilhões.
Segundo pessoas próximas à estatal, os dados foram “maquiados” para a diretoria executiva aprovar a execução da obra naquela etapa. Pareceres internos mostram que a diretoria da Petrobras apostou em cenários de “difícil realização” para zerar o prejuízo, como créditos fiscais e evitar que concorrentes instalassem refinarias no local.
Procurados, a Petrobras e os membros do conselho de administração não responderam às tentativas de contato.
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FUNCIONÁRIOS DO CONSORCIO COEG PARALIZAM EM SUAPE

Funcionários do consórcio Coeg realizam uma paralisação na Refinaria Abreu e Lima

Cerca de 500 trabalhadores foram demitidos e grande parte ainda não recebeu a rescisão do contrato

Publicado em 13/01/2015,

Do JC Online

Os funcionários do consórcio Coeg realizam uma paralisação na Refinaria Abreu e Lima, no Complexo Industrial de Suape, na manhã desta terça-feira (13). Formado pelas empresas Conduto e Egesa, o consórcio demitiu cerca de 500 trabalhadores e, destes, 337 ainda não receberam a rescisão do contrato. A crise financeira também afetou alguns funcionários que ainda estão em atividade. Eles estão sem receber o salário de dezembro, a segunda parcela do décimo terceiro salário e a cesta básica. O plano de saúde desses operários também foi cortado.
Por volta das 7h, cerca de 300 trabalhadores do consórcio que continuam trabalhando em Suape deflagram greve até que a situação seja regularizada, em solidariedade aos colegas demitidos. “Os funcionários demitidos deveriam ter recebido no dia 14 de dezembro. O pagamento foi adiado para o dia 18, 28, e por fim 15 de janeiro. Mas, ontem [segunda-feira], o gerente disse que não tinha como pagar porque a Petrobras não repassou a verba”, explica Leodelson Bastos, assessor de crise do Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias de Construção de Estradas, Pavimentação e Obras de Terraplenagem em Geral no Estado de Pernambuco (Sintepav-PE).
Em nota, a Petrobras informou “estar adimplente quanto a todas as suas obrigações contratuais com o Consórcio COEG” e disse estar atenta aos atrasos no pagamento dos trabalhadores desligados, mas reafirma que a responsabilidade pelas obrigações trabalhistas é das empresas contratadas para execução dos serviços. A estatal informa ainda que “o carregamento de nafta petroquímica da Refinaria Abreu e Lima (RNEST) no Porto de Suape está ocorrendo conforme programado, sem interrupções”.
Está marcada para essa quarta-feira (14) uma passeata da Refinaria até o centro do município de Ipojuca. “ Vamos nos deslocar até Ipojuca sem bloquear a via, mas isso deve gerar algum engarrafamento”, conta  Leodelson. A caminhada deve ser realizada no início da manhã e passar pela Rota do Atlântico.
A redação do JC Online tentou entrar em contato com o Consórcio Coeg, mas, até o momento, não obteve resposta. O mesmo aconteceu nas tentativas de entrar em contato com a Egesa.
O Sintepav-PE ainda luta na justiça pelos trabalhadores das empresas Engevix, Alusa e consorciados, que continuam com salários atrasados.
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Ambiental SUAPE Violações

DESTRUIÇÃO POR TODA PARTE: SUAPE, PORTO SUL, PECEM

Por , 06/12/2014
Vista área da cidade de Ilhéus. Foto: Instituto Nossa Ilhéus

Vista área da cidade de Ilhéus. Foto: Instituto Nossa Ilhéus
Fabíola Ortiz, O Eco
O sul da Bahia é palco de uma obra de infraestrutura que tira o sono de muitos baianos e também causa dor de cabeça a autoridades públicas e a empresários pelo volume de batalhas judiciais que promete gerar nos próximos meses.
O cerne é o Porto Sul, um terminal portuário que pode ser construído no litoral norte de Ilhéus, na Costa do Cacau, entre as localidades de Aritaguá, Sambaituba e Ponta da Tulha. O empreendimento está orçado em R$ 5,6 bilhões e, no pico das obras, deverá empregar 2.560 trabalhadores. Do outro lado, já suscitou pelo menos quatro pedidos de liminar para impedir o início das obras, além de uma nova ação ajuizada pelo Ministério Público Federal.
O complexo portuário está inserido no planejamento estratégico do estado da Bahia e corresponde ao extremo leste da Ferrovia de Integração Oeste-Leste (FIOL), que ligará o porto marítimo às regiões do oeste da Bahia e o Brasil Central.
O Porto Sul terá um terminal de uso público e outro privado. O primeiro tem previsão de operar com uma capacidade de exportação de 75 milhões de toneladas por ano e de importação de 5 milhões de cargas como – minério de ferro, clínquer, soja, etanol e fertilizantes. O terminal de uso privado será destinado à exportação exclusivamente do minério de ferro extraído pela Bahia Mineração (BAMIN).
Segundo o Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) do projeto, “O Porto Sul foi concebido como um moderno porto em mar aberto (…) o que confere mais flexibilidade para aproximação das embarcações e para implantação de modernos equipamentos de carga e descarga ocupando o mínimo da faixa da orla“. Outro trecho exalta que o porto exercerá o papel de um dos mais importantes pólos logísticos do leste do Brasil.
“Belo Monte da Bahia”
A resistência contra o projeto decorre de que as obras impactarão diretamente um corredor ecológico de remanescentes da Mata Atlântica numa área de vocação turística e agrícola – especialmente pela cultura do cacau através da cabruca, técnica agroflorestal em que o cacau é cultivado sombreado por espécies arbóreas. O corredor liga o Parque Estadual da Serra do Conduru (criado em 1997 e com uma área de 9.275 hectares) e o Parque Municipal Boa Esperança, um hotspot de biodiversidade de 437 hectares localizado na zona urbana de Ilhéus, refúgio de espécies raras e santuário de água doce. Críticos já chamam o Porto Sul de “Belo Monte da Bahia”
Parque Estadual da Serra do Conduru

Parque Estadual da Serra do Conduru
“Estamos falando do que resta da reserva da biosfera da Mata Atlântica, de um local que é considerado a pérola. Lá tem um corredor que liga duas Unidades de Conservação integrais, uma municipal e outra estadual. Seria um desrespeito à vocação natural da região”, disse Maria do Socorro Mendonça, presidente do Instituto Nossa Ilhéus, uma ONG que luta contra a instalação do Porto Sul.
Segundo ela, a sociedade civil junto com o Ministério Público, desde 2008, exerce pressão e tenta provar a inviabilidade do projeto. O Nossa Ilhéus tem um levantamento de mais de 200 impactos que serão causados com a construção do porto.
Segundo o RIMA, identificou-se 36 impactos negativos para o meio biótico, dos quais 42 não são mitigáveis como, durante as obras de dragagem, afugentar e matar peixes e outros animais que vivem no fundo do mar, em especial os de baixa mobilidade. Além disso, consta também nesta lista perda de habitat da fauna, de habitat marinho de fundo consolidado, mortandade de crustáceos e larvas de insetos e peixes, e o risco de interferir no comportamento de golfinhos e baleias.
Na categoria de impactos sócio-econômicos, cerca de um terço dos impactos não é mitigável como é o caso da interferência na atividade pesqueira.
No entorno do empreendimento existem 9 Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPN), 3 Áreas de Preservação Ambiental (APAs), 2 Parques Municipais e uma Reserva Ecológica. Entre as unidades no perímetro de 10 km do Porto Sul, destaca-se o Parque Estadual da Serra do Conduru e a RPPN Salto do Apepique. De acordo com o RIMA, “a parte terrestre do empreendimento está totalmente inserida na área da APA da Lagoa Encantada e APA Rio Almada. A região está inserida no Corredor Central da Mata Atlântica, no mini-corredor do Conduru”.
lista porto sul“O porto está no maior ponto pesqueiro da região, onde existem cerca de 10 mil pescadores que vivem da atividade artesanal. No continente, só numa área de 437 hectares, existem 32 nascentes de água límpida brotando do solo”, afirmou Mendonça.
O Instituto Nossa Ilhéus foi uma das organizações convidadas para participar, em novembro no Rio de Janeiro, de um treinamento de líderes ambientais e climáticos promovido pelo Prêmio Nobel e ex-vice presidente americano Al Gore, o Climate Reality Leadership Corps Training.
Mega projeto
O Porto Sul será construído numa área de 1.865 hectares, 15 km ao norte de Ilhéus, e é divulgado como o maior investimento portuário em andamento no país. O empreendimento conjunto do estado da Bahia com a empresa Bahia Mineração (BAMIN ) dividirá as obras e as concessões do porto e conta com uma projeção de operar 100 milhões de toneladas anuais até seu 25º ano de funcionamento. A imprensa da Bahia publicou que os investimentos devem alcançar R$ 12,5 bilhões em 25 anos, somando o potencial de atividades do porto e o impacto na economia local.
Além de ser uma área turística, a região de influência do porto é bastante biodiversa. Segundo o RIMA, são encontrados remanescentes de florestas ombrófilas da Mata Atlântica, alguns dentro de UCs da região, como a APA da Lagoa Encantada e Rio Almada. Entre a flora desses fragmentos, destaca-se a sucupira, a maçaranduba, o arapati, a gindiba, os louros, o embiruçu, a juerana, a sapucaia e o jatobá. Nas áreas litorâneas, encontram-se estuários, manguezais, áreas úmidas e restingas.
O RIMA identificou 46 espécies de mamíferos nas áreas de influência do empreendimento, sem contar as 141 espécies de aves; 47 espécies de anfíbios em Aritaguá e; entre os mamíferos marinhos, as 5 espécies mais relatadas foram o boto, a baleia-jubarte, a orca, o golfinho-pintado-pantropical e a baleia-bicuda-de-Layardii.
“Mal poderíamos imaginar que alguns anos depois estaríamos do mesmo lado dos resorts aqui na região lutando contra um projeto em comum”, admitiu Gabriel Siqueira, gestor de projetos do Instituto Nossa Ilhéus, ao relembrar que um dos primeiros embates de ambientalistas no sul da Bahia foi contra a instalação de grandes hotéis na faixa costeira.
Ilustração do futuro Porto Sul. Crédito: Governo da Bahia

Ilustração do futuro Porto Sul. Crédito: Governo da Bahia
A BAMIN e o Pedra de Ferro
O Porto Sul se insere no Projeto Pedra de Ferro, um empreendimento mineral da Bahia Mineração (BAMIN), uma empresa com capital pertencente à Eurasian Natural Resources Company (ENRC), uma controversa empresa do Cazaquistão, com sede em Londres, e à suíça Zamin Ferrous, que tem atuação na África Ocidental, em países como República do Congo, Moçambique, Zâmbia e África do Sul.
Em novembro de 2012, a BAMIN obteve a licença ambiental para a instalação de uma mina de minério de ferro no município de Caetité, no sudoeste baiano. A concessão corresponde a uma Licença de Localização para o projeto batizado de Pedra de Ferro.
Caetité é um pequeno município de 46 mil habitantes localizado no sudoeste baiano, a 757 km de Salvador. A mina tem previsão para produzir cerca de 20 milhões de toneladas de minério de ferro por ano.
A jazida mineral localizada no sertão baiano será interligada ao Porto Sul por trem, ao longo de mais de 400 km. Na chegada, será embarcada em um terminal privativo offshore. Os investimentos na construção do projeto mineral chegam a US$ 1,5 bilhão (cerca de R$4 bilhões). A execução do Projeto Pedra de Ferro tornaria a Bahia o terceiro estado do país em produção de minério de ferro – atrás de Carajás, no Pará, e do Quadrilátero Ferrífero de Minas Gerais.
“O minério de ferro é poluente e espalha o pó de ferro, altamente tóxico e capaz de viajar com o vento quase 100 km. Faz mal à respiração, contamina a água e a agricultura, e pode, assim, prejudicar a produção de cacau”, disse Gabriel Siqueira. Os impactos tanto para a saúde da população quanto para o meio ambiente podem ser maiores do que a vida útil da própria mina de ferro, estimada em 15 anos.
Maria do Socorro Mendonça diz que o minério de ferro desta mina tem apenas 32% de pureza. “Ele é pobre, significa que de 1 bilhão de toneladas extraídas, só 320 milhões serão aproveitadas. O potencial da mina não é sustentável, sem contar que para transportar de ferrovia da mina para o porto fizeram um trajeto cortando tudo, sem se importar com as APAs, as cavernas e o povo, que estão no caminho”.
Vista de floresta de Mata Atlântica no litural sul da Bahia. Foto: Fábio Coppola

Vista de floresta de Mata Atlântica no litural sul da Bahia. Foto: Fábio Coppola
Realocação de moradores
“A área onde moro vai desaparecer do mapa porque o mar vai invadir”, lamentou o paulista Ismail Abéde, de 46 anos, que há cinco anos se mudou para o sul da Bahia e vive numa comunidade chamada Vila Juerana, litoral norte de Ilhéus. Ele e as cerca de 800 pessoas que vivem na vila serão desalojadas. “Segundo o próprio RIMA, uma erosão vai atingir 10 km ao norte do porto e o mar vai entrar para dentro do continente até 100 metros. Vai ser uma catástrofe”, disse Ismail.
Preocupado com os impactos sociais e ambientais deste complexo portuário, ele se tornou um ativista da associação de moradores da Vila Juerana contra as obras. A Licença de Instalação do porto foi emitida em 19 setembro deste ano, às vésperas das eleições presidenciais. O prazo para início das obras será de um ano e o limite para conclusão e operação comercial do empreendimento é 31 de dezembro de 2019.
Ismail lista os impactos à natureza: “A 4 km ao norte do porto tem um manguezal e uma boca de rio. A água do rio Almada vai ser usada para lavar minério, e esse rio liga a Lagoa Encantada ao mar. Também não vai sobrar nada do mangue que é um berço de vida. Estão simplesmente desconsiderando tudo isso”.
Em outubro deste ano, um grupo de ONGs publicou a “Carta de Ilhéus sobre o Porto Sul“, pedindo que se cancele o licenciamento.
Ismail continua: “Até onde entendo, o Estado pode desapropriar quando é para um bem maior coletivo e não em benefício de uma empresa privada internacional do Cazaquistão que foi expulsa da Bolsa de Valores de Londres por acusações de fraudes”. O diário inglês The Guardian, a Rede de Mineração Londrina (London Mining Network) e sites como Eurasianet escreveram sobre a expulsão da ENRC da Bolsa de Valores de Londres, em novembro de 2013, sob alegações de “fraude, suborno e corrupção”. O inquérito foi conduzido pelo Escritório de Fraudes Graves do Reino Unido (Serious Fraud Office).
Em setembro de 2012, a Rede de Mineração Londrina já havia publicado artigo “Pode a ENRC salvar a BAMIN?” (em inglês).
O outro lado
Através de sua assessoria de imprensa, a BAMIN informou a ((o))eco que a empresa não falaria á reportagem em razão de ausência do país de José Francisco Vieiro, seu presidente e único porta-voz.
A assessoria se limitou a enviar por email um comunicado sobre a concessão da licença de operação da mina em Caetité em 13 de junho de 2014 e sobre a sua operação atual, com capacidade reduzida de um milhão de toneladas/ano, até a conclusão das obras do Porto Sul. ((o))eco perguntou se a expulsão da ENRC da Bolsa de Valores de Londres impactará os empreendimentos da BAMIN no Brasil. A empresa não respondeu.
Segue a nota da companhia:
“A Bahia Mineração é uma empresa brasileira que, por meio de sua operação, contribuirá para o desenvolvimento social e econômico da Bahia e de sua gente. Para extrair, beneficiar, escoar e comercializar 20 milhões de toneladas por ano de minério de ferro, serão criados 6,6 mil vagas de empregos em Caetité – cidade do semi-árido – e em Ilhéus, município que há 20 anos vive contínuo declínio econômico por conta da crise da lavoura cacaueira.
A Bamin prevê investimento total de US$ 3 bilhões no Projeto Pedra de Ferro, que consiste na extração e beneficiamento de minério de ferro em jazidas nas cidades de Caetité, transporte desta carga pela Ferrovia de Integração Oeste – Leste (Fiol) e escoamento do produto via Terminal de Uso Privativo a ser construído no Complexo Porto Sul, em Ilhéus.”
Sobre o Porto Sul, a Secretaria de Estado da Casa Civil da Bahia informou a ((o))eco que foram estabelecidos 38 programas ambientais básicos para diminuir ou mitigar os impactos do empreendimento:
“Os estudos de impacto ambiental (EIA/RIMA) foram intensamente discutidos com a sociedade e o órgão ambiental responsável, o Ibama, em cerca de 10 audiências públicas voltadas à informação e esclarecimentos quanto aos impactos. A maior compensação ambiental é a destinação de uma área de 1.702 hectares para uma unidade de proteção integral, a de Ponta da Tulha. Também há um programa de recuperação de áreas degradadas e matas ciliares e nascentes.”
O Programa de Compensação da Atividade Pesqueira foi apresentado às comunidades de pescadores da região. Estima-se que para a execução dos programas básicos ambientais o montante de recursos será da ordem de R$ 300 milhões.
Segundo o governo da Bahia, todas as famílias que serão impactadas diretamente estão no programa de desapropriação e reassentamento. O comunicado informa que as indenizações deverão começar a partir do 1º trimestre de 2015.
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COMPLEXO DE SUAPE: 36 ANOS DE UMA TRISTE HISTÓRIA

Complexo de Suape: 36 anos de uma triste história

Publicado em: http://www.portosenavios.com.br/artigos1/27268-complexo-de-suape-36…

Escrito por: Heitor Scalambrini Costa é professor da Universidade Federal de Pernambuco e membro do Forum Suape Espaço Socioambiental

A idéia de construir um porto que impulsionasse o crescimento econômico de Pernambuco já tem mais de cinqüenta anos. Foi durante a década de 1960, durante o governo de Nilo Coelho (1967-1971), que se iniciaram as primeiras sondagens para a viabilização desse projeto. 
No governo de Eraldo Gueiros, em 1974, foi lançada a Pedra Fundamental do porto de Suape. No entanto, apenas em 1978, já durante o governo de Moura Cavalcanti (1975-1979), através da Lei no 7.763/78, foi criada a empresa Suape Complexo Industrial e Portuário (CIPS), para administrar o distrito industrial, o desenvolvimento das obras e a implantação e exploração das atividades portuárias. Portanto, em novembro de 2014, o CIPS completou 36 anos de uma triste história.
Não houve nenhuma comemoração ou lembrança específica desta data por parte do governo do estado, cuja empresa pública de economia mista gerencia o Complexo de Suape, exceto por um informe publicitário ufanista em um dos jornais pernambucanos, enaltecendo as realizações e fazendo autoelogios, destacando os aspectos econômicos e o numero e diversidade de empresas que se agregaram à sua área industrial-portuária.
Com certeza este não é momento de se festejar. Por uma única razão, o empreendimento que foi mostrado como redentor da economia pernambucana, “a joia da coroa”, também chamado de “Eldorado”, está hoje presente nas páginas policiais da mídia nacional, pela corrupção comprovada na construção da Refinaria do Nordeste (RNEST), e pelos desdobramentos dos conflitos sociais e trabalhistas gerados com a desmobilização de mais de 40 mil trabalhadores, entre 2014 e 2016.
Para a implantação das empresas no Complexo houve a expulsão de comunidades inteiras de moradores que residiam naquele local há décadas, sem que uma alternativa adequada de moradia lhes fosse oferecida. Houve também uma devastação ambiental nunca vista no estado em tão pouco tempo. Para as pessoas diretamente atingidas, invés do progresso tão propalado pela propaganda oficial, a empresa Suape só tem deixado ônus.
Não é de hoje as críticas a este modelo concentrador e predador de desenvolvimento, encampadas pelo Fórum Suape Espaço Socioambiental (www.forumsuape.ning.com) e pelas organizações e pessoas físicas que o compõem. Suape foi, desde o seu início, objeto de polêmicas delimitadoras de fronteiras políticas. Como exemplo, em abril de 1975, economistas, sociólogos, ecologistas, historiadores e geógrafos publicaram um manifesto contra o projeto do porto de Suape, chamado pela imprensa como o “Manifesto dos Cientistas”, idealizado pelo economista-ecólogo Clovis Cavalcanti, também primeiro signatário do referido manifesto. Cabe destacar o caráter revolucionário e atual do manifesto, que tinha o objetivo de denunciar os impactos sociais e ambientais do empreendimento.
Expansão sem planejamento, crescimento econômico baseado em um “modelo predador”, não inclusivo, com devastação ambiental, com indústrias sujas, continua sendo a marca do complexo de Suape. A atração por indústrias altamente agressoras ao meio ambiente, aliado a perdas e injustiças cometidas (prejuízos, danos físicos e morais, expulsões, expropriações, privações, desgraças, destruições de vidas e de bens), muitas delas permanentes e irreversíveis, enseja uma ampla discussão sobre que tipo de desenvolvimento que queremos.
Afinal, por mais que a propaganda oficial tente esconder, nos 13.500 ha de área circunscrita do Complexo de Suape habitavam mais de 15 mil famílias nativas, que foram tratadas como “invasoras”, sendo a maioria expulsa com truculência dos seus lares, dos sítios onde viviam muito antes das indústrias chegarem por aquelas bandas.
Direitos foram negados. Promessas não foram cumpridas. Indenizações (quando pagas) foram desprezíveis diante da impressionante valorização das terras (atualmente, em média, um ha vale em torno de um milhão de reais).
Mas não foram atingidas somente as populações nativas (pescadores, agricultores familiares, trabalhadores). Os moradores das cidades do entorno do Complexo sofrem as conseqüências decorrentes da falta de planejamento daquele empreendimento. Problemas com transporte, saúde, aumento da violência e do uso das drogas, gravidez precoce de meninas e adolescentes, carência de saneamento e moradia são algumas das mazelas com as quais convivem os habitantes desses municípios. Enquanto isso, as prometidas melhorias das condições de vida ainda estão no campo das promessas, conforme atestam os indicadores locais de desenvolvimento humano. O crescimento dos indicadores econômicos ocorreu, mas foi insuficiente, e não se refletiu em desenvolvimento sustentável da região.
Já passou do tempo de utilizar a estratégia de somente contar vantagens sobre este empreendimento, e impedir a discussão crítica do modelo adotado, impondo esse modelo, pela força, como opção única.
É inadmissível fechar os olhos para a grande devastação ambiental causada com a derrubada de florestas, o soterramento de manguezais – necessários para manter a vida de muitas espécies – e a poluição de rios e riachos, que permitiam a manutenção do modo de vida de populações inteiras. Além dos trágicos e graves problemas sociais induzidos por uma estratégia que deve ser revista – faz tempo!
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PROCURADOR FAZ DOAÇÃO ILEGAL DE TERRENO EM SUAPE

Procurador-geral teria feito doação ilegal de terreno
(www,blogdomagno.com.br)
Demitido pelo governador João Lyra Neto na última terça-feira, o ex-procurador-geral do Estado, Thiago Norões, assinou pelo ex-governador Eduardo Campos (PSB), três meses após a morte deste, a escritura de doação definitiva de um terreno doado inicialmente à Companhia Siderúrgica Suape S.A (CSS).
De fato, Eduardo deu poderes para ele representar o Estado em 14 de janeiro de 2014, mas o ex-governador morreu em 13 de agosto e o procurador teria que ter nova autorização do novo governador, no caso João Lyra, que sucedeu Eduardo com a sua renúncia para disputar à Presidência da República.
Mas Norões ignorou o prazo e a morte do ex-governador e assinou a doação. No documento, há ainda outro agravante: foi incluída uma segunda contratante, a Cone SPA Ltda, aceita pelo Governo como integrante do mesmo grupo empresarial que controla a CSS, liderado pela construtora Moura Dubeux.
Norões é marido da advogada Sandra de Azevedo Norões, que lidera o Escritório Norões, Azevedo & Associados, detentores de uma série de contratos com instituições do Governo e empresas com interesses em projetos sob a responsabilidade do Governo de Pernambuco, como a Construtora Moura Dubeux.
A assinatura se deu no dia 3 de setembro passado, no cartório de Timbaúba, mesmo o terreno estando localizado no Cabo. Com 111,8 hectares, o terreno foi doado pelo então governador Eduardo Campos à CSS no dia 29 de dezembro de 2010, para construção de uma planta de processamento de aço com capacidade de 125 mil toneladas ao ano, conforme documentação em poder deste blog.
As terras desapropriadas pertenciam a dois engenhos, cujo valor está avaliado em R$ 35,2 milhões, segundo o Complexo Industrial Portuário de Suape. O decreto, que teve o aval de Eduardo, se referia expressamente à Companhia Siderúrgica de Suape, determinando que, em caso de não atendimento no previsto documento, o terreno deveria ser devolvido ao patrimônio de Suape.
Na escritura, entretanto, a empresa Cone ZPA Ltda já se apresenta como integrante do projeto e passa a ser detentora legal da área. O Governo do Estado, segundo o blog apurou, aceitou na escritura que a empresa passasse a deter a propriedade que também, no documento, tem o direito de uso.
O que chama a atenção também é que o Governo de Pernambuco foi representado pelo procurador Thiago Norões, que estava de férias do cargo de procurador-geral do Estado, além do fato da escritura ter sido registrada no Registro Geral de Imóveis de Timbaúba e só depois registrada no Registro Geral de Imóveis do Cabo.
Além do terreno, o Governo pagou as taxas de desapropriação, entre elas R$ 14 milhões referentes ao engenho Cedro, que fez parte do terreno da CSS, que é uma companhia formada pelas empresas CSPAR Ltda, Placa S.A e Posto Engenharia e Construção S.A, que é a subsidiária coreana Pohang Iron and Steel Company, no Brasil com sede no Ceará.
Ouvido pelo blog, o procurador Thiago Norões negou que sua assinatura, mesmo após a morte de Eduardo, tenha algum tipo de ilegalidade. “Assinei por delegação do governador”, disse, adiantando que, como a procuração não estava vencida, não precisaria de nova autorização de João Lyra. “O atual governador sabia de tudo”, afirmou.
Quanto à transferência da CSS para a Cone, Norões afirma que não ocorreu, tendo havido apenas uma espécie de terceirização da área, o que, no seu entender, não é ilegal porque a Cone é integrante também da Siderúrgica de propriedade da Moura Dubeux. Sobre o registro da escritura num cartório de Timbaúba e não no Cabo, onde está localizado o terreno, Norões afirma que no primeiro, no caso Timbaúba, se deu apenas a lavratura da escritura, registrada, segundo ele, num cartório do Cabo.
Perguntado se estava de férias em setembro, mês em que deu autorização para doação definitiva do terreno em Suape, o procurador disse que não se lembrava porque suas férias também coincidiram com uma licença requerida para participar da campanha do governador eleito Paulo Câmara.
Fac-símile do documento que o procurador assinou autorizado por Eduardo Campos em 14 de janeiro de 2014. 
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COMPLEXO DE SUAPE: 36 ANOS DE UMA TRISTE HISTÓRIA

Complexo de Suape: 36 anos de uma triste história 
Heitor Scalambrini Costa
Professor da Universidade Federal de Pernambuco
A ideia de construir um porto que impulsionasse o crescimento econômico de Pernambuco já tem mais de cinqüenta anos. Foi durante a década de 1960, durante o governo de Nilo Coelho (1967-1971), que se iniciaram as primeiras sondagens para a viabilização desse projeto.
No governo de Eraldo Gueiros, em 1974, foi lançada a Pedra Fundamental do Porto de Suape. No entanto, apenas em 1978, já durante o governo de Moura Cavalcanti (1975-1979), através da Lei no 7.763/78, foi criada a empresa Suape Complexo Industrial e Portuário (CIPS), para administrar o distrito industrial, o desenvolvimento das obras e a implantação e exploração das atividades portuárias. Portanto, em novembro de 2014, o CIPS completou 36 anos de uma triste história.
Não houve nenhuma comemoração ou lembrança específica desta data por parte do governo do Estado, cuja empresa pública de economia mista gerencia o Complexo de Suape, exceto por um informe publicitário ufanista em um dos jornais pernambucanos, enaltecendo as realizações e fazendo autoelogios, destacando os aspectos econômicos e o numero e diversidade de empresas que se agregaram à sua área industrial-portuária.
Com certeza este não é momento de se festejar. Por uma única razão, o empreendimento que foi mostrado como redentor da economia pernambucana, “a joia da coroa”, também chamado de “Eldorado”, está hoje presente nas páginas policiais da mídia nacional, pela corrupção comprovada na construção da Refinaria do Nordeste (RNEST), e pelos desdobramentos dos conflitos sociais e trabalhistas gerados com a desmobilização de mais de 40.000 trabalhadores, entre 2014 e 2016.
Para a implantação das empresas no Complexo houve a expulsão de comunidades inteiras de moradores que residiam naquele local há décadas, sem que uma alternativa adequada de moradia lhes fosse oferecida. Houve também uma devastação ambiental nunca vista no Estado em tão pouco tempo. Para as pessoas diretamente atingidas, invés do progresso tão propalado pela propaganda oficial, a empresa Suape só tem deixado ônus.
Não é de hoje as críticas a este modelo concentrador e predador de desenvolvimento, encampadas pelo Fórum Suape Espaço Socioambiental (www.forumsuape.ning.com) e pelas organizações e pessoas físicas que o compõem. Suape foi, desde o seu início, objeto de polêmicas delimitadoras de fronteiras políticas. Como exemplo, em abril de 1975, economistas, sociólogos, ecologistas, historiadores e geógrafos publicaram um manifesto contra o projeto do Porto de Suape, chamado pela imprensa como o “Manifesto dos Cientistas”, idealizado pelo economista-ecólogo Clovis Cavalcanti, também primeiro signatário do referido manifesto. Cabe destacar o caráter revolucionário e atual do manifesto, que tinha o objetivo de denunciar os impactos sociais e ambientais do empreendimento.
Expansão sem planejamento, crescimento econômico baseado em um “modelo predador”, não inclusivo, com devastação ambiental, com indústrias sujas, continua sendo a marca do complexo de Suape. A atração por indústrias altamente agressoras ao meio ambiente, aliado a perdas e injustiças cometidas (prejuízos, danos físicos e morais, expulsões, expropriações, privações, desgraças, destruições de vidas e de bens), muitas delas permanentes e irreversíveis, enseja uma ampla discussão sobre que tipo de desenvolvimento que queremos.
Afinal, por mais que a propaganda oficial tente esconder, nos 13.500 ha de área circunscrita do Complexo de Suape habitavam mais de 15.000 famílias nativas, que foram tratadas como “invasoras”, sendo a maioria expulsa com truculência dos seus lares, dos sítios onde viviam muito antes das indústrias chegarem por aquelas bandas.
Direitos foram negados. Promessas não foram cumpridas. Indenizações (quando pagas) foram desprezíveis diante da impressionante valorização das terras (atualmente, em média, um ha vale em torno de um milhão de reais).
Mas não foram atingidas somente as populações nativas (pescadores, agricultores familiares, trabalhadores). Os moradores das cidades do entorno do Complexo sofrem as conseqüências decorrentes da falta de planejamento daquele empreendimento.
Problemas com transporte, saúde, aumento da violência e do uso das drogas, gravidez precoce de meninas e adolescentes, carência de saneamento e moradia são algumas das mazelas com as quais convivem os habitantes desses municípios. Enquanto isso, as prometidas melhorias das condições de vida ainda estão no campo das promessas, conforme atestam os indicadores locais de desenvolvimento humano. O crescimento dos indicadores econômicos ocorreu, mas foi insuficiente, e não se refletiu em desenvolvimento sustentável da região.
Já passou do tempo de utilizar a estratégia de somente contar vantagens sobre este empreendimento, e impedir a discussão crítica do modelo adotado, impondo esse modelo, pela força, como opção única.
É inadmissível fechar os olhos para a grande devastação ambiental causada com a derrubada de florestas, o soterramento de manguezais – necessários para manter a vida de muitas espécies – e a poluição de rios e riachos, que permitiam a manutenção do modo de vida de populações inteiras. Além dos trágicos e graves problemas sociais induzidos por uma estratégia que deve ser revista – faz tempo!
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