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Desigualdade Ipojuca SUAPE

BONS EMPREGOS, NÃO PARA IPOJUCA E CIDADES VIZINHAS


Por Miguel Sales, promotor aposentado, membro do Fórum Suape
A revista Veja desta semana (26.02.2014), trás uma matéria especial, mostrando nas páginas 92 a 101, a relação das 10 cidades brasileiras onde estão os bons empregos, oferecendo vagas com salários mensais de 5.000 reais – ou bem mais. E neste contexto Ipojuca figura em 5º lugar. Somente a Petroquímica Suape em breve abrirá cerca de 3.500 postos de trabalho com remuneração superior a 5.000 reais.
À princípio, parece uma excelente notícia, mas infelizmente não é. Pois, a não ser por rara exceção, essa oferta de mão de obra qualificada nem de longe é oferecida para os trabalhadores de Ipojuca e das cidades vizinhas, mas geralmente a pessoas qualificadas vindas de outros estados, e até Países. Não que se tenha nada contra que de qualquer lugar do mundo venha gente trabalhar em Ipojuca, mas o que dói é nesses empregos não serem serem também preenchidos por gente de Ipojuca e de cidades vizinhas.
Suape não vem de ontem, mas há mais de 35 anos, e as indústrias que se estalariam ao ser redor, em sua maioria, era previsível. Mesmo a Refinaria, que é uma máquina que puxa bastantes empresas, de muito tempo fora anunciada.
Em breve, mesmo os empregados de Suape de Ipojuca e cidades vizinhas que trabalham no “eito”, estarão desempregados, pois não exercerão atividades fins das empresas, mas serviços de construções, entre outros, de natureza temporária. Aliás, milhares já vêm sendo desempregados da Refinaria e do Estaleiro Atlântico Sul, como acontecerá com a Petroquímica e as demais.
O que faltou para se absorver a mão de obra qualificada local? Em verdade, os prefeitos nunca investiram em educação de qualidade, ensino universitário, cursos profissionalizantes etc., que deveria ser a prioridade, a fim de nossa gente não ficasse literalmente “a ver navios” – e nada mais. Essas empresas estão trazendo consigo bairros imobiliários com todos os equipamentos urbanos, quando não a escolha é morar no lado melhor de porto de galinhas, apesar da falta de infraestrutura, como denunciado em inúmeras reportagens.
Infelizmente, os prefeitos locais, intencionalmente resolveram investir no atraso, para ficar mais fácil, no período eleitoral, a aquisição de votos por promessas ou irrisórias e temporárias dádivas. Noutras palavras, o eleitor não tendo independência financeira, fica mais fácil negociar o voto ou se contentar com um mal remunerado e temporário cargo comissionado, sem qualquer segurança, oferecido por esse ou aquele prefeito. E com a mudança de prefeito, os comissionados de ontem não são os mesmos de hoje: grande parte, semialfabetizados está desempregada, e sem perspectiva de emprego, ainda que por pequenos salários, de estarem trabalhando em Suape.
Para não ser pessimista, acredito que ainda é tempo de se recuperar algo que fora drasticamente perdido, se não os nativos de Ipojuca, por exemplo, correm o risco de habitarem em um grande favelão.
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Ambiental SUAPE Violações

SUAPE COMO VOCÊ NUNCA VIU – O OUTRO LADO

Por Antonio Resende – Delegado de Policia e professor da Faculdade Fachuca
Em Tupi- Guarani  Suape significa  ” Caminho Sinuoso”. Acompanhamos esse caminho durante anos, na verdade o caminho  do ônus de Suape, ou seja, aquilo que não é mostrado, aquilo que não querem que você leitor saiba, aquilo que não pode ser entendido e divulgado, sob pena de você virar um inimigo do sistema e a Matrix Estatal reagir e mandar seus leões e leoas para lhe devorar. É lógico que Suape trouxe aquecimento da economia , trouxe investimentos, empregos, isso foi o Bônus, todavia não podemos jogar o ônus para debaixo do tapete, senão vejamos: Foram destruídos cerca de 900 mil hectares de mangue para ampliar o Porto de Suape e instalar os estaleiros Atlântico Sul e Promar. Vale ressaltar que Suape foi instalada em uma área de Manguezais, restingas com uma natureza rica de recifes de corais, que são importantes berçários de peixes e crustáceos  e  tudo isso faz parte da segunda maior barreira de corais do mundo.
Segundo relatos de moradores e pescadores estimava-se inicialmente que cerca de 25 mil pessoas seriam desalojadas pelo ônus do  progresso, muitas espécies  morreram   por causa das Dragas. A dragagem  afetou o mangue e aterrou os corais, uma vez que 90 % dos peixes reproduzem no mangue  é de uma clareza solar que a dragagem causou danos ao Ecossistema aquático. Nativos locais alegam que traziam sacos com peixes mortos,com toda essa destruição ambiental os nativos eram raramente ouvidos e  cansados dessa falta de comunicação foram buscar abrigo em ONGS e  na ONU, o mais estranho é que a Agencia Estadual do Meio Ambiente- CPRH, não foi contra as dragagens absurdas! Outra grande reclamação era sobre a temperatura das TERMOELÉTRICAS, que com o exagerado aquecimento causava danos a vida marinha, bem como riscos até mesmo à vida de pescadores, pois muitos vivem de mergulho em Apnéia. Existem países hoje que não aceitam mais TERMOELÉTRICAS, porque são grandes emissores de gases que geram o Efeito Estufa causando grande impacto no Meio Ambiente.
Pescadores do Colônia Z-8 em Audiência Pública pediram o embargo das Famigeradas DRAGAGENS para fins da MIDIÁTICA OBRA DO ENGORDA. Afinal será correto matar o Meio Ambiente de um lugar usando as Dragas para engordar outro local? A finalidade é fazer mídia ou resolver? Afinal o que parece ter engordado mesmo foi a área de atuação do tubarão nas praias e o bolso dos veículos de comunicação que são pagos com Dinheiro Público! Já imaginou o quanto custa o minuto da televisão no horário nobre?  Some isso  com as rádios, Outdoor e outros veículos de comunicação
Não foi só os pescadores locais que foram a ruína econômica pela extrema violação ambiental , mas Comerciantes locais começaram a ter dificuldade em obter peixes na localidade e  foram buscar peixes de fora da área que exerciam suas atividades. Pescadores alegam que Suape deu certa vez uma sexta básica de R$ 79,00 reais com charque, fubá e arroz ? Será que isso resolveu o problema? será que isso trará os peixes de volta ?  Como ficou a ilha de TATUOCA ? Será que em 2015 haverá novos pescadores ? haverá dignidade ? Será que o turismo vai prosperar? Será que os ataques constantes, denominados de “REBELIÃO DOS TUBARÕES não é por conta da MORTE DO MANGUEZAL PELAS DRAGAGENS E PELA AÇÃO DAS TERMOELÉTRICAS EM SUAPE?
Quadro mais ainda desonroso, desmoralizante e covarde foi a condução da expulsão das terras, na ausência de uma negociação amigável muitos moradores procuraram a Delegacia local, narrando que  eram vítimas de equipes de demolição comandadas por Suape. Os moradores  narravam inclusive que se tratava de uma milícia armada que fazia uso da força no local,  traziam vídeos  com a atuação incontestável da suposta equipe de demolição em que trabalhadores eram constantemente agredidos, eram entregues também fotos, depoimentos  e registros de atendimentos médicos , foi instaurado inquérito após ser recebida todas essas informações, pois  entendemos que nesse caso só o juiz pode dizer quem entra ou quem sai, quem pode destruir ou construir em Suape. A população não pode sofrer com ordens ilegítimas , destarte Executor e mandante tem que responder  igualmente por tal violação. O caso foi de uma brutalidade tão incomum que em outubro foi notícia na mídia do Estado a destruição ilegal de casas. Até pouco tempo ninguém ousava falar mal da toda poderosa Suape, a menina dos olhos do Estado ,  no dia 10 de outubro foram ao ar matérias mostrando o por detrás das câmeras de Suape, como foi batizada pela mídia de “DEMOLIÇÕES ILEGAIS DE CASAS”.
O inchaço populacional, dificuldade de mobilidade e a falta de estrutura deveriam ter sido analisados antes para receber um aumento populacional absurdo fruto do progresso de Suape ! Hoje a população próxima de Suape (Cabo de Santo Agostinho, Escada, Recife, Jaboatão, Ipojuca e Porto de Galinhas)  sofrem com o inchamento populacional sem a estrutura adequada, o que refletiu  de forma negativa no turismo local e no exagerado preço dos alugueis  e vendas de imóveis. Recentemente começou uma onda de demissões em SUAPE, a previsão é de ocorra milhares de demissões, nasce então uma nova questão…O que fazer com os que estão sendo demitidos? Há políticas Públicas de aproveitamento desse trabalhador?  Esse desemprego não pode afetar a criminalidade?
Tem uma  pergunta que não sai da minha cabeça e peço ao leitor que reflita comigo….Quanto vale o preço do progresso? Bem, pelo que lemos aqui deu para perceber que quando se fala em Suape nem tudo são flores ,  Será que  quando cessar essas  palmas midiáticas poderemos refletir melhor sobre as mazelas do progresso ? Agora a palavra é sua amigo leitor! FORÇA E HONRA!
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Dragagem SUAPE

NOTÍCIAS DE SUAPE EM JORNAL HOLANDES

Empresa de dragagem “Van Oord” quer receber pagamento do Brasil
A “Van Oord”, empresa neerlandesa de dragagem, está envolvida em um conflito com o Brasil, com relação a um pagamento de €40 milhões. Caso os brasileiros continuem a se recusar a pagar a dívida, esta será paga pelo Tesouro neerlandês.
Desde fevereiro, a “Van Oord” aguarda o pagamento das obras de dragagem em Suape, um porto no Nordeste do Brasil. Do total de €70 milhões, apenas €30 milhões foram pagos. O Governo Federal acusa o Porto de má gestão financeira e de ter cometido erros na adjudicação e, por isso, se recusa a pagar a segunda parte.
A empresa de dragagem fechou um seguro contra inadimplência com a Atradius DSB, agência que fornece seguro de crédito à exportação em nome do Estado neerlandês. Haia está tentando convencer os brasileiros a pagar, mas até agora não obteve sucesso. Pelo contrário, o Governo Federal brasileiro está considerando um pedido de restituição da primeira parcela do pagamento.
Se necessário, o Estado neerlandês pagará a dívida brasileira à “Van Oord”. Kees Rade, Embaixador dos Países Baixos em Brasília, afirmou que “trata-se de um valor altíssimo”, “principalmente agora que o Governo neerlandês está economizando o máximo possível”.
O desenvolvimento desse porto brasileiro está sendo associado a violações de direitos humanos e levando os pescadores locais à falência. Organizações como “Both Ends” e SOMO acham que esses fatores tornam inaceitável a possibilidade de o contribuinte neerlandês ter que arcar com as consequências dessa dívida, mesmo porque a Atradius DSB só pode assegurar projetos que não tenham “conseqüências sociais e/ou ambientais negativas”.
Bert Brunning, Diretor da Atradius, afirmou que a agência está “levando todos os interesses em consideração” e “reforçando o controle de impactos negativos.”
(Fonte: Nederlands Dagblad, 28/11/2013, p. 1, “Baggeraar Van Oord wil geld van Brazilië”, disponível online em: http://www.nd.nl/artikelen/2013/november/28/baggeraar-van-oord-wil-… )
Tradução: Embaixada brasileira na Holanda
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SUAPE

SUAPE DISCUTIDA NO PARLAMENTO HOLANDÊS

Respostas de vice-ministro holandês das Finanças para as questões levantadas no parlamento holandês.  Estas perguntas foram feitas por um deputado do Partido Trabalhista (social-democratas), após a primeira reportagem do jornal holandês sobre esta questão.(tradução livre)
Fonte: Both ENDSData: 6 de dezembro de 2013
1 . Você está familiarizado com a reportagem do jornal “O Brasil se recusa a pagar Van Oord ? “sim
2 . É verdade que a Holanda e o Brasil estão envolvidos em uma disputa comercial que a empresa com sede em Roterdã  Van Oord não foi paga por um grande trabalho de dragagem no porto brasileiro de Suape ?Posso confirmar que atraso de pagamento têm surgido em relação às atividades implementadas pela Van Oord no Brasil. Essas atividades são a dragagem do canal de acesso ao porto de Suape. Van Oord tem segurado o risco de pagamento ao abrigo do mecanismo de seguro de crédito à exportação ( EKV ) do Estado holandês. A questão é, portanto, de um seguro de técnico natureza. Não é uma disputa comercial .
3 . A Van Oord , que devido a um atraso do Brasil nos pagamentos de maio 2013 suspendeu os seus trabalhos no porto , implementou a sua atribuição de dragagem no porto de Suape em tempo útil e em plena conformidade com os acordos feitos ?A partir de contatos com o Brasil verifica-se que as obras foram implementadas em tempo útil e em conformidade com os acordos feitos com Suape. O trabalho foi interrompido como o montante acordado para o trabalho, e que o contrato foi formalmente terminado. Eu não tenho nenhuma razão para supor que há uma disputa entre Suape e Van Oord sobre a implementação da obra.
4 . Que esforços você está fazendo para resolver este diferencia comercial entre a Holanda e o Brasil , e quais são de acordo com você as perspectivas em relação a uma solução oportuna para essa disputa ?Via diferentes canais diplomáticos Holanda e Brasil estão envolvidos em consultas para chegar a uma solução rápida para os pagamentos atrasados ​​. O objetivo é evitar danos na conta do Estado holandês.Eu entendo que é uma questão administrativa complexa no Brasil, em que vários níveis de governo estão envolvidos.
5 . É o padrão do Brasil relacionados com o dano ambiental que Van Oord causou na área do porto e para o qual a empresa incorreu uma multa de € 820,000 ? Se não, por que não? Será que Van Oord paga essa multa?Não tenho conhecimento de uma relação entre o atraso no pagamento e a questão ambiental. A agência ambiental local no Brasil emitiu a multa a que o artigo na Financieel Dagblad se refere a Suape, e não a Van Oord . Entretanto Suape recorreu da multa e está esperando se a a multa será mantida ou retirada na sequência do apelo .
6 . Você tem a intenção de elevar o padrão brasileiro no Clube de Paris, que faz a mediação entre países credores e devedores ? Se sim, quando você vai fazer isso ? Se não, por que não?Sim. Fica acordado internacionalmente que os membros do Clube de Paris, informar-se mutuamente sobre as dificuldades de pagamento que surgiram . No caso dos pagamentos atrasados ​​persistir a Holanda irá relatar isso, então também no Clube de Paris. Este momento está se aproximando rapidamente , em caso de insuficiente perspectiva de uma solução rápida , em algum momento nos próximos meses os atrasos de pagamentos será gerado.
Answers of Dutch deputy minister of Finance to questions raised in Dutch Parliament
Date: 6 December 2013

1.    Are you familiar with the newspaper report “Brazil refuses to pay Van Oord?”
Yes

2.    Is it true that the Netherlands and Brazil are involved in a trade dispute as the Rotterdam-based water construction company Van Oord has not been paid for a large dredging job in the Brazilian port of Suape?
I can confirm that payment arrears have emerged in relation to the activities implemented by Van Oord in Brazil. These activites are the dredging of an access channel in the port of Suape. Van Oord has insured the payment risk under the export credit insurance facility (EKV) of the Dutch State. The issue is therefore of a insurance technical nature. It is not a trade dispute.

3.    Has Van Oord, that due to a Brazilian arrear in payments in May 2013 suspended its work in the port, implemented its dredging assignment in the port of Suape timely and fully in accordance to the agreements made?
From contacts with Brazil it emerges that the works have been implemented timely and in accordance with the agreements made with Suape. The work was stopped as the agreed sum for the work was reached and the contract has formally ended. I have no reason to assume that there is a dispute between Suape and Van Oord about the implementation of the work.

4.    Which efforts are you making to resolve this trade dispute between the Netherlands and Brazil, and what are according to you the prospects regarding a timely solution to this dispute?
Via different diplomatic channels the Netherlands and Brazil are engaging in consultations to reach an early solution to the payment arrears. The aim is to prevent damage at the account of the Dutch State. I understand that it is a complex administrative issue in Brazil in which various levels of government are involved.

5.    Is the default of Brazil related to the environmental damage that Van Oord caused in the port area and for which the company incurred a fine of €820.000? If not, why not? Did Van Oord pay this fine?
I am not aware of a link between the arrears in payment and the environmental issue. A local environmental agency in Brazil issued the fine to which the article in the Financieel Dagblad refers to Suape and not to Van Oord. In the meantime Suape appealed against the fine and is waiting whether the fine will be upheld of withdrawn following the appeal.

6.    Do you have the intention to raise the Brazilian default in the Paris Club that mediates between creditor countries and defaulters? If yes, when will you do this? If no, why not?
Yes. It is internationally agreed that members of the Paris Club inform each other about payment difficulties that emerged. In case the payment arrears would persist the Netherlands will report this then also in the Paris Club. This moment is approaching quickly; in case of insufficient prospect of an early solution, some time in the coming months the payment arrears will be raised.


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SUAPE

SUAPE É NOTÍCIA NA HOLANDA (1) (2)

Artigos publicados na revista Holandesa “de Volkskrant” traduzidos.
(Fonte: “de Volkskrant”, 28/11/13, p. 24-25, “Brazilië weigert betaling 40 mln aan baggeraar” e “Toekomst vissers interesseert de gouverneur niet”, disponíveis online em:

Brasil se recusa a pagar € 40 milhões a empresa de dragagem

A “Van Oord”, empresa neerlandesa de dragagem, está envolvida em um conflito com o Brasil, com relação a um pagamento de €40 milhões. Caso os brasileiros continuem a se recusar a pagar a dívida, esta será paga pelo Tesouro neerlandês.
IPOJUCA – “Uma rápida resolução para esse conflito me parece improvável”, afirmou Kees Rade, o Embaixador dos Países Baixos no Brasil.
Desde fevereiro, a “Van Oord” aguarda o pagamento das obras de dragagem em Suape, um porto no Nordeste do Brasil. Do total de €70 milhões, apenas €30 milhões foram pagos. O Governo Federal acusa o Porto de má gestão financeira e de ter cometido erros na adjudicação. Além disso, se recusa a pagar a segunda parte e está considerando um pedido de restituição da primeira parcela do pagamento.
A empresa de dragagem fechou um seguro contra inadimplência com a Atradius DSB, agência que fornece seguro de crédito à exportação em nome do Estado neerlandês. Haia está tentando convencer os brasileiros a pagar, mas não obteve sucesso até agora.
O desenvolvimento desse porto brasileiro está sendo associado a violações de direitos humanos e levando os pescadores locais à falência. Organizações como “Both Ends” e SOMO acham que esses fatores tornam inaceitável a possibilidade de o contribuinte neerlandês ter que arcar com as consequências dessa dívida. Em um relatório publicado recentemente, as ONGs afirmam que a Atradius DSB só pode assegurar projetos que “não tenham consequências sociais e/ou ambientais negativas”.

O futuro dos pescadores não interessa ao Governador

Graças às obras de dragagem da “Van Oord”, o porto situado em Ipojuca está se tornando interessante para investidores, o que é ótimo para o Governador Eduardo Campos, que é candidato à presidência. Os pescadores e moradores da área, porém, são as vítimas das obras.
IPOJUCA – Quando seis seguranças de empresa particular e um veículo de demolição pararam em frente à casa de José Ferreira (65), ele foi até a porta e se sentou no chão, em uma última tentativa de salvar sua casa. “Eles me ameaçaram com armas, me arrastaram para fora e me levaram para a delegacia de polícia”, diz Ferreira. Quando ele voltou para casa, mais tarde naquele dia, ela já havia sido demolida. “Todos os meus pertences estavam sob os escombros da demolição.”
Assim como Ferreira, outras onze mil pessoas precisam abrir caminho para o desenvolvimento do porto e da área industrial de Suape, parte do município de Ipojuca, no Nordeste do Brasil. A “Van Oord” está envolvida na expansão do porto desde os anos noventa e recebeu apoio do Estado neerlandês sob a forma de um seguro de crédito à exportação. O desenvolvimento do porto, porém, está associado a despejos ilegais, intimidação, destruição de manguezais e aumento de ataques de tubarão.
Desde 1992, quanto teve início o desenvolvimento em larga escala do porto, sessenta ataques de tubarão foram registrados na região, sendo que vinte deles resultaram em mortes. Vale ressaltar que no Brasil inteiro, a média é de apenas quatro ataques por ano.
Segundo biólogos, o desaparecimento dos manguezais é uma das principais causas dos ataques de tubarões. Mangues são ricos em camarões, caranguejos e lagostas, além de constituírem uma área importante para a reprodução de peixes e tubarões. Ainda de acordo com biólogos, os animais estariam desorientados, procurando novas fontes de alimentação. Outra hipótese é baseada no desaparecimento dos recifes, que formam uma barreira natural contra tubarões. No ano passado, a “Van Oord” explodiu novamente parte desses recifes, a fim de aprofundar o canal de acesso ao porto.
“Essas explosões assustaram as lagostas e os peixes”, diz o pescador Enaldo Rodrigues (42). “A ‘Van Oord’ também destruiu todos os manguezais, com consequências desastrosas para a atividade pesqueira”. O barquinho de pesca de Rodrigues balança sobre ondas enormes. “Às vezes, eu pescava 150 kg por dia”, afirma Rodrigues enquanto mantém a direção do leme com o pé descalço, “mas agora eu não consigo isso nem em um mês inteiro”.
“Muitas pessoas precisam abrir caminho para esse porto, e as obras de dragagem afetam temporariamente a atividade pesqueira”, admite Jurgen Nieuwenhoven, Gerente da “Van Oord” no Brasil. “Nosso cliente Suape, porém, está compensando financeiramente os pescadores e arranjando habitação alternativa para os desapossados. Eu tenho a impressão de que isso está sendo feito de forma adequada.”
Cheiro de esgoto
José Ferreira não tem a mesma impressão. A Suape ofereceu €7.000 por sua casa na Ilha de Tatuoca – localizada em meio à zona portuária, onde ele morou por 40 anos -, mas não ofereceu uma habitação alternativa. “Não sei o porquê”, diz Ferreira, que, após a expropriação, foi morar em uma favela perto de Ipojuca com sua esposa deficiente. “Eu acho que eles não me consideram um dos moradores originais.”
No beco estreito onde Ferreira está morando, paira um cheiro permanente de esgoto. As paredes da casa estão mofadas, a umidade percorre teto abaixo. Sua esposa fica deitada na cama com um olhar fixo. Suas mãos magras percorrem as pernas aleijadas. “Eu sempre fui pobre”, diz o ex-pescador. “Mas na ilha, a vida era tranquila; tínhamos árvores frutíferas e um pedacinho de terra. Éramos bem felizes.”
A poucos quilômetros dali mora Maria José da Silva (27). “Eles nos forçaram a sair de casa”, afirma a mulher que morava na mesma ilha até dois anos atrás. Seus seis filhos estão sentados na sala, olhando para a imagem turva em uma televisão antiga. Após o despejo, a família foi morar com a mãe de Maria José em uma casa de 30 m².
“Não nos ofereceram uma habitação alternativa, porque a casa onde morávamos não era nossa”, diz a jovem mãe, que aos 13 anos casou-se com um nativo da ilha. “Nós alugávamos a casa e, portanto, não temos direito a nada”, diz ela enquanto faz um rabo de cavalo nos cabelos cacheados da filha. Através da Justiça, Maria José está tentando conseguir uma casa, mas tem pouca esperança. “Não somos importantes para os juízes.”
Heitor Scalambrini concorda. Ele é professor da Universidade Federal de Pernambuco e coordenador do Fórum Suape, um grupo formado por organizações ambientalistas e movimentos sociais. “É ingênuo da ‘Van Oord’ confiar no sistema legal e nas boas intenções das autoridades portuárias”, diz Scalambrini. “O porto é o orgulho do Governador do estado, Eduardo Campos. Quem está buscando algo através da Justiça vai bater com a cara na parede; abusos são varridos para baixo do tapete”.
A grande maioria do povo pernambucano é a favor da expansão do porto e da área industrial, visto que esses criarão milhares de empregos e já são responsáveis por 10% da renda do Estado. Há cerca de cem empresas no local, e 45 estão a caminho. Graças ao seu porto, Eduardo Campos – que concorrerá à Presidência contra Dilma Rousseff no próximo ano – é o Governador mais popular do Brasil.
Segundo Márcio Stefani, não há casos de abuso. Stefanni é Secretário Estadual de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco e Diretor do Suape, um porto que está inteiramente nas mãos do governo. “Os moradores da área portuária ocuparam as terras sem permissão e, portanto, não têm direito a elas”, diz o Secretário. “Mesmo assim vamos construir habitações substitutas e oferecer compensação pela perda das casas. Nós determinaremos o valor. Se eles não concordarem, podem ir à Justiça.”
Reflorestamento
O desaparecimento do manguezal – resultado do desenvolvimento do porto – está sendo compensado em outro lugar, assegurou Stefani. “Nós mesmos fizemos uma parte do reflorestamento”, confirmou Nieuwenhoven, Gerente da “Van Oord”. “Tive uma surpresa agradável quanto ao rigor do controle feito pelos órgãos ambientais.” Os pescadores ainda não estão se beneficiando com isso, visto que leva anos para que árvores jovens cumpram a mesma função que tinha o manguezal destruído.
O pescador Rodrigues guia seu barco através do porto e acena para os funcionários de um tanque de petroleiro com cerca de 300 m, pertencente à petrolífera estatal Petrobras. “A maioria dos trabalhadores vem de fora, nós não temos a formação adequada”, disse Rodrigues, que é semianalfabeto. “Eu não sou contra o porto, mas acho que ele deve ser bom para todos”, sublinhou Rodrigues.
O Secretário de Estado e Diretor do Porto reconhece que a situação dos pescadores é “sensível”, mas segundo ele, as desvantagens de Suape não pesam contra os benefícios. O porto “proporciona um tremendo crescimento econômico para todo o Estado. Os pescadores também serão beneficiados, e seus filhos terão emprego nas fábricas mais tarde. Precisamos todos da modernização”, afirma ele, “não vivemos mais no século XVII.”
(Fonte: “de Volkskrant”, 28/11/13, p. 24-25, “Brazilië weigert betaling 40 mln aan baggeraar” e “Toekomst vissers interesseert de gouverneur niet”, disponíveis online em:
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SUAPE

SUAPE É NOTICIA NA HOLANDA (1)

Artigo publicado no jornal holandês de Volkskrant pela correspondente na América latina Jornalista Marjolein Van de Water e traduzido para o inglês.
The governor is not interested in the future of fishermen
From our correspondent MARJOLEIN VAN DE WATER − 28/11/13
Due to the dredging work of Van Oord the port of Ipojuca in Brazil is becoming interesting for investors. That suits governor Eduardo Campos very well in his bid for the presidency. But fishermen and residents are screwed.
IPOJUCA – When six private security men and a demolition car stopped in front of his house, Josef Ferreira (65) sat down on the ground in front of the door in a last effort to save his house. ‘They threatened me with their weapons, dragged me away and brought me to the police station’, says Ferreira. When he returned later that day, his house had been razed to the ground. ‘All my stuff was under demolition rubble.’
Ferreira and eleven thousand others have to make way for the development of the port and industrial area of Suape, part of the Ipojuca municipality in the northeast of Brazil. The Dutch dredging company Van Oord is involved in the expansion of the port since the nineties and obtains support for this from the Dutch State in the form of export credit insurances. The development of the port area is accompanied by illegal evictions, intimidations, the destruction of mangrove forests and an increase in shark attacks.
Since 1992, the beginning of the large scale development of the port, 60 shark attacks have been registered in the region, with twenty casualties. In comparison: all over Brazil on average four attacks occur annually.
Biologists state that the disappeared mangrove forests are a major cause for the shark attacks. Mangroves are rich in shrimp, crabs and lobsters and an important breeding ground for fishes and sharks. The animals are disoriented and look for new sources of food, according to the biologists. Another explanation is the disappearance of the reef, a natural barrier to sharks. With the deepening of the access channel Van Oord blasted again a part of the reef with explosives.
‘These explosions chased lobsters and fish away’, says fisherman Enaldo Rodrigues (42). ‘In addition Van Oord destroyed all mangrove forests, with disastrous consequences for the fish stocks.’ Rodrigues’ fishing boat ferociously swings back and forth in the huge waves. ‘In the past I sometimes caught 150 kilos per day’, according to Rodrigues while he holds the wheel straight with his bare foot. ‘Now I even cannot land such a catch over a month’.

‘Many people have to give way to this port and the dredging works negatively impact on the fish stocks temporarily’, admits Jurgen Nieuwenhoven, manager of Van Oord in Brazil. ‘But our client Suape gives compensation to fishermen and takes care of alternative housing for the dispossessed. I have the impression that this is done in a correct manner’.

Sewage smell
Josef Ferreira does not share that impression. Suape offered him € 7,000 for his house on the island of Tatuoca, in the middle of the port area. He lived there for 40 years but does not receive an offer for replacement housing. ‘I do not exactly understand why’, says Ferreira who after the dispossession started to live with his handicapped wife in a slum area, on the edge of Ipojuca. ‘They do not consider me an original resident, I believe’.
In the small alley where Ferreira now lives hangs a penetration sewage smell. The walls of the house are moldy, the moisture runs down along the roof. His wife is lying in bed, staring at the ceiling. Gently her skinny hands are caressing her crippled legs. ‘I always was poor’, say the former fisherman. ‘But on the island life was quiet, we had fruit trees and a small field. We were quite happy.’
Some kilometers away lives Maria José da Silva (27). ‘They used force to expell us from our house’, says the woman who until two years ago lived in the same island. Her six children sit in the living room and stare at a vague image on an old TV-set. After the eviction the family moved in with Da Silva’s mother, in a house of 30 square meters.
‘We do not get replacement living space because the house in which we lived was not owned by us’, tells the young mother, who married an inhabitant of the island at the age of 13. ‘We rented it and therefore are not entitled to anything’, she says while she binds the wild curls of daughter Ana in a tight tail on top of her head. She tries to still get a house via the courts, but has little hope. ‘The judges find us not that important’.
Heitor Scalambrini confirms that. He is professor at the Federal University of Pernambuco and coordinates the Forum Suape, a coalition of environmental organizations and social movements. ‘It is naïve of Van Oord to trust the legal system and the good intentions of the port authorities’, thinks Scalambrini. ‘The port is a prestige object of state governore Eduardo Campos. Those who want to obtain justice in courts run against walls, abuses disappear under the carpet’.
A vast majority of the people of Pernambuco favors the expansion of port and industrial area. It results in tens of thousands of jobs and is currently already good for 10 per cent of the income of the state. More than hundred companies registered themselves there, and 45 more are coming. Thanks to his port Eduardo Campos, who runs against Dilma Rousseff in the presidential election of next year, is the most popular governor in Brazil.
According to minister Márcio Stefanni there are no wrong doings. Stefanni is minister of economic development of Pernambuco and also director of Suape, that is fully government owned. ‘The residents of the port area once upon a time squatted the land and therefore do not have titles’, said the minister. ‘Nevertheless we build replacement houses and give them a compensation for the loss of their house. We determine the price. If they do not agree, they can go to court’.
Reforestation
The mangrove that disappears due to the development of the port is compensated elsewhere, thus assures Stefanni. Nieuwenhoven confirms that: ‘We have had to execute part of the reforestation ourselves’, according to the manager of Van Oord. ‘I was positively surprised how strict the control was of the environmental authorities.’ The fishermen are still far from benefiting from this. It takes years for the young trees to fulfill the same function as the destroyed mangrove.
Fisherman Rodrigues steers his small boat through the port, and waves at the staff of a more than 300 meters long oil tanker of state oil company Petrobras. ‘Most employees come from outside, we do not have the correct education’, according to Rodrigues, himself semi-literate. ‘I am not opposed to the port, but it should benefit everyone’, he says.
Minister and port director Stefanni admits the situation of the fishermen being ‘sensitive’. But according to him the downsides of Suape do not outweigh the advantages. ‘This delivers enormous economic growth for the whole state. Also fishermen will benefit, their children can later go to work in the factories. We all have to modernise’, he says. ‘We no longer live in the 17th century.’
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SUAPE

SUAPE É NOTICIA NA HOLANDA (2)

Artigo publicado no jornal holandês de Volkskrant pela correspondente na América latina Jornalista Marjolein Van de Water e traduzido para o inglês.
Brazil refuses 40 million to Dutch dredging company
By: Marjolein van de Water − 28/11/13
 The Dutch dredging company Van Oord is embroiled in a conflict with Brazil about an arrear in payment of forty million Euros. If the Brazilians continue to refuse to transfer the money, the debt will be paid from the Dutch state coffer.
‘I consider the chance of a quick resolution to this conflict small’, says Kees Rade, the Dutch ambassador to Brazil.
Van Oord waits since February for payment for a dredging job in Suape, a port in the northeast of Brazil. Of the 70 million only 30 million has been paid. The federal government accuses the port of financial mismanagement and errors in the tender. It refuses to pay a second part and also considers recovering its first payment.
The dredging company took an insurance against default with Atradius DSB, who issues export credit insurances on behalf of the Dutch state. The Hague tries to move the Brazilians to pay, but so far without result.
Fishermen lost their livelihoods
The development of the port in Brazil is accompanies by human rights violations and leaves local fishermen without livelihoods. Originations like Both ENDS and SOMO consider it therefore unacceptable that the Dutch tax payer possibly will end up paying for this debt. They indicate in a recent report that Atradius DSB only is allowed to insure projects that have ‘no unacceptable social and ecological impacts’.
Fisherman Enaldo Rodrigues on his boat
Maria José da Silva and her 6 children
A dredging vessel of Van Oord (right)
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EMBAIXADA HOLANDESA RECEBE RELATÓRIO DE CRIMES AMBIENTAIS EM SUAPE

Embaixada Holandesa no Brasil recebe relatório de crimes ambientais em Suape

Fonte: Comissão Pastoral da Terra – Regional Nordeste II
Na manhã desta terça-feira, dia 26/11,  a Comissão Pastoral da Terra (CPT) entregou ao embaixador da Holanda no Brasil, Kees Rade, o relatório e o auto de infração  elaborado pelo CPRH sobre crime ambiental praticado por Suape  na atividade de derrocagem do canal de acesso à bacia de manobras do Porto.
Além do relatório, foram apresentados o panorama jurídico da questão fundiária de Suape, além de denúncias de violações de direitos humanos feitas pela CPT e pelo Fórum Suape, que reune diversas organizações sociais e pesquisadores que atuam em defesa da garantia dos direitos das comunidades atingidas pelo empreendimento.
O que motivou a entrega do relatório ao embaixador da Holanda no Brasil foi o fato de que o país europeu manter relações comerciais e de investimentos com o Porto de Suape, através de várias empresas Holandesas que atuam na área de dragagem e derrocagem. “Além dos crimes ambientais, existem uma série de crimes sociais, com expulsões de centenas de famílias camponesas das terras do entorno de Suape.
O governo Holandês tem a ver com tudo o que está acontecendo na área de abrangência do Porto, uma vez que possui investimentos governamentais e de empresas do país europeu. Co-responsabilizamos todos os envolvidos pelos crimes sócioambientais praticados por Suape”, ressalta Plácido Júnior, da CPT. 
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UM LADO OBSCURO DE SUAPE

Por Miguel Sales (Promotor de Justiça)

Suelene Gomes tem um sítio de quase dois hectares no Engenho Tabatinga, que Suape diz lhe pertencer. Ela herdou o lote de terra de seu pai, e este de seu avô. Suelene, com sua família, lá reside desde nascença. No sítio há uma casa de alvenaria e várias árvores frutíferas, entre estas, três mil pés de bananas.
Suelene, e demais sitiantes de Tabatinga, desde 2008, foi impedida por Suape de cultivar lavouras e criar animais domésticos em seu sítio, sendo prejudicada em sua agricultura familiar, que é incentivada pelo Governo Federal.
Em maio deste ano, ela foi chamada por Suape para desocupar o sítio, sendo-lhe oferecida a irrisória quantia de R$ 21.340,81. Como não a aceitou, Suape pediu liminarmente a reintegração da centenária posse. A ação foi contestada, e segue o ritual da Justiça. Suape com o patrocínio de renomados advogados, ela pelo auspício da justiça gratuita.
Visto assim, o caso de Suelene parece isolado, mas não é isso que acontece. No entorno de Suape mora cerca de dez mil pessoas, muitos parentes de sitiantes, que, igual a ela, foram ou estão sendo ameaçados de perderem os seus sítios por indenizações vis ou injustas.
Os moradores, premidos por Suape, são arrancados de suas raízes, desalojados de seus sítios, e com a “indenização” recebida passam a morar numa favela ou, quando muito, num final de um subúrbio qualquer. Muitos já idosos, sem o sítio, sem emprego, o que fazer? A não ser, como meio de subsistência, ir engrossar a lista do Bolsa Família.
Mas, pelos relatos, não é só a expulsão do sítio por troca de uma ninharia, a qual infelizmente recebe o crivo do Judiciário, ante os argumentos tidos como infalíveis de Suape, que depois passa a vender a terra por vultosa quantia às empresas nacionais ou estrangeiras. Já houve caso em que Suape pediu a terra do sitiante e a arrendou a tradicional fornecedor de cana.

Quando a terra não é ocupada pelo sitiante, ela também compra caro, como aconteceu na compra do terreno da Refinaria que pertencia à Usina Salgado.
Voltando aos relatos de como Suape trata os sitiantes que residem ao seu redor – os quais lá chegaram muito antes de ela existir -, tome-se, por exemplo, o sumário das declarações prestadas, em 2004, pelo sitiante José Gomes, junto à Promotoria de Justiça do Cabo de Santo Agostinho, ele diz que: vigilantes com uma máquina foram até a sua casa para derrubar as suas fruteiras, sem ao menos ouvi-lo, nem respeitando a sua idade e doença, pois já sofreu três derrames.
Declara ainda que: prenderam-no dentro de um carro, e quando ele perguntou pela ordem do juiz, os funcionários de Suape lhe disseram que aquele mandava em seu birô, e ali, era Suape.
Esse modo truculento usado por Suape contra humildes moradores da região – entre os municípios de Ipojuca e do Cabo de Santo Agostinho – foi inúmeras vezes noticiado por jornais e TVs. A última tem por título, “Demolição Ilegal em Suape”, que fora feita por seguranças armados e, segundo dizem, por ordem dos seus “coronéis” – geralmente policiais civis e militares aposentados, e hoje dela funcionários.
Os seguranças de Suape mapeiam a área, divide os Engenhos, como aconteceu em Tabatinga, que passou a ser I, II e III, e ingressam com seus pedidos na Justiça de modo individual para descaracterizar o coletivo conflito agrário. É dividindo que melhor se expulsa, que quase nada se paga, que faz valer a lei do silêncio pela a violência causada aos sitiantes. Muitos presidentes de associações dos Engenhos são cooptados por Suape, para agir em desfavor dos seus associados.
Ninguém discute a importância de Suape, mas o seu desenvolvimento não deve ser desumano e predatório, quer em relação às pessoas ou ao meio ambiente, o qual teve vasta área de mangue devastada, e não recuperada, a não ser no palavrório. Em Tabatinga, por exemplo, se alegou para a retirada dos sitiantes, a tal compensação ambiental. Mas no seu lugar o que se ergue é uma grandiosa fábrica da PAMESA, que vem causando impacto de vizinhança aos moradores locais, inclusive quanto ao direito de passagem.
A rigor não se pode dizer que Suape tem a propriedade tranquila de todas as áreas rurais que ficam em seu entorno. Os engenhos que pertenciam à antiga Cooperativa de Tiriri não podia lhes ter sido vendidos, pois, por cláusula resolutiva, só poderiam se destinar ao assentamento dos agricultores que já eram deles ocupantes.
Porém, ultrapassada essa hipótese, há registro no INCRA onde se menciona que parte das glebas rurais não fora repassada para Suape. E se transferência houvera, não existe comprovação de pagamento pela aquisição da metade das terras, como informado pela Procuradoria Regional da referida autarquia federal.
É por essa razão, que numa reunião realizada em 12.09.2013, na Associação dos Moradores do Engenho Massangana, onde fica o coração de Suape, um representante legal do INCRA, Isaias Valeriano, afirmou que: “há um procedimento administrativo para delimitar a área da União, que após a delimitação, irá cadastrar os agricultores e moradores, para depois passar o título de posse aos cadastrados.”
Já em relação à truculência de Suape, ele disse que ia “comparecer no Complexo de Suape, no intuito de solicitar que os dirigentes de Suape deixem de exercer pressão psicológica, moral e agressões físicas aos moradores do Engenho Massangana e outras comunidades rurais.”
É bom lembrar que o Engenho Massangana foi onde Joaquim Nabuco viveu a sua infância e se inspirou para a causa abolicionista. Lamentavelmente os seus moradores e sitiantes de hoje vivem dias de incertezas quanto à permanência na posse da terra, sem contar com os constrangimentos acima relatados.
Na época, no capítulo “Massangana”, do seu livro “Minha Formação”, Nabuco disse: “A escravidão permanecerá por muito tempo como a característica nacional do Brasil.” Se não no Brasil inteiro, pelo menos em parte e por essas bandas, tal espectro ainda ronda o destino de simples homens do campo.
Infelizmente, o que conta para Suape é o crescimento a qualquer custo, e não o desenvolvimento humano, a valorização da dignidade da pessoa. Afora as ocorrências do dia-a-dia contra os antigos sitiantes, que o digam os velhos moradores da Ilha de Tatuoca, engolida pelo Estaleiro Atlântico Sul, e o algo que restou, pelo o outro, o Promar.
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DEMISSÃO EM MASSA EM SUAPE

MPT faz audiência para discutir desligamento de mais de 40 mil profissionais

Fonte: Blog do Jamildo (4/11/2013)

Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem
Nos próximos dois anos, uma média de 42 mil funcionários, que prestam serviço à Petrobras, por intermédio de empresas contratadas, devem ser desligados. Para discutir a situação dos profissionais, o Ministério Público do Trabalho (MPT) vai realizar nesta quarta-feira (6/11), às 14 horas, audiência pública para tratar da desmobilização de trabalhadores em Suape, em específico os ligados à Refinaria Abreu e Lima. A audiência será na sede do MPT, na Rua Quarenta e Oito, no Espinheiro, Zona Norte do Recife.
De acordo com informações iniciais levantadas pelo MPT, é possível que a desmobilização de trabalhadores da refinaria seja a segunda maior da história, ficando somente atrás da de Brasília. Dos 42 mil funcionários, estima-se que 58% da mão de obra seja pernambucana. Dentre os principais problemas a serem discutidos na audiência, está a observância do cumprimento da legislação trabalhista no momento da rescisão dos contratos de trabalho. O MPT já tem recebido denúncias de trabalhadores que estariam sendo dispensados sem os valores devidos.

Também está entre as prioridades do MPT na audiência tratar de como especificamente está sendo pensada a desmobilização de um ponto mais amplo, que tem relação de como ficará o entorno da região, de como as cidades vizinhas se manterão economicamente, quais as políticas de emprego voltadas para os trabalhadores que hoje estão lá.

A audiência será conduzida pelos procuradores do Trabalho Débora Tito, Lorena Bravo e Rogério Wanderley, com a participação de auditores fiscais do Trabalho. Para participar, foram notificadas a Secretaria do Trabalho, Qualificação e Emprego, além das 20 maiores contratadas da Petrobras, também intimida.
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