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SUAPE Vazamento

VAZAMENTO EM SUAPE ASSUSTA TRABALHADORES

Os funcionários da PetroquímicaSuape (PQS), no Complexo Industrial Portuário de Suape, passaram por um susto na manhã de ontem. Por volta das 9h, um barulho de explosão, seguido por um forte cheiro de gás e uma “chuva” de pó branco, promoveu a rápida evacuação das estações de trabalho da planta de PTA (ácido tereftálico purificado), que está em fase de funcionamento pré-operacional desde janeiro. Cerca de cinco mil trabalhadores teriam sido orientados a se dirigirem a uma área de emergência, munidos de máscaras de gás.

“Essa foi a primeira vez que isso ocorreu e, após uma hora, os técnicos em segurança do trabalho nos informaram que o gás não era tóxico e que podíamos voltar a trabalhar”, comentou um funcionário. “O que nos passaram foi que ocorreu um vazamento em uma tubulação e, por volta das 10h, nos disseram que a situação já estava sob controle. Mesmo assim, a área continuou isolada”, afirmou outro trabalhador. Ainda no fim da manhã, a reportagem escutou um barulho de escapamento de gás próximo à planta.

A assessoria de Imprensa da PQS informou que a unidade segue em fase de testes e que o barulho escutado foi causado pelo acionamento de uma válvula de segurança, devido à alta temperatura e à alta pressão da tubulação. A assessoria explicou, ainda, que “o pó branco observado pelos funcionários não é ácido e nem tóxico”, mas que a área continua isolada para limpeza e em avaliação para saber o que ocasionou o acionamento da válvula. As outras áreas da PQS seguem funcionando normalmente. A PQS disse que o composto que vazou era formado por 80% de água e 20% de ácido tereftálico. Na fase de produção, a concentração será 100% PTA.

Outro funcionário que pediu para não ser identificado disse que algumas pessoas chegaram a passar mal após terem inalado a substância. Ele disse também que “com todos es­ses riscos com produtos químicos e explosões”, nem todos os trabalhadores da planta recebem o adicional de periculosidade de 30% sobre os salários.

Fonte: Blog da Folha de Pernambuco (9/3) 
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SUAPE

SUAPE, TRINTA ANOS DEPOIS

Por Clovis Cavalcanti 
Economista e pesquisador social

No dia 5 de junho corrente fui ao local do porto de Suape para dar uma palestra na Transpetro alusiva ao Dia do Meio Ambiente. Era a primeira vez em vinte anos que ali voltava. Não podia imaginar a amplitude das mudanças que o lugar experimentara com a construção de instalações portuárias e industriais. Conheci toda aquela área de beleza tão especial muito antes de ser concebido o projeto do porto e com ela me familiarizei ao longo de muitos passeios agradáveis. Lembro-me não só da praia e do mangue, mas também de muitos e muitos sítios com fruteiras de todo tipo ali existentes. Suape e o espaço ao seu redor, na verdade, eram fontes importantes de abastecimento de frutas da região metropolitana do Recife. Aprendi sobre isso num trabalho que fiz para a Sudene em 1971 acerca do funcionamento da Ceasa. Pelas informações disponíveis, era de Suape que procedia a maioria dos cajus, mangabas, mangas, cajás, sapotis, jacas e muitas outras frutas que os recifenses tanto apreciavam. O acesso a Suape era difícil, com estradas que ficavam intransitáveis no inverno. Mas isso nunca foi impedimento para que, com minha família, eu fosse ali regularmente. Topei muitos atoleiros, andei com o carro dentro d’água várias vezes, nos enlameávamos: aventuras que valiam a pena. Devido ao bem-estar que me causava esse turismo ecológico, com potencial grande para os amantes de passeios não-convencionais – importante fonte de renda, por exemplo, na Costa Rica –, combati o projeto de Suape. Fui líder, meio sem querer, de um grupo de cientistas pernambucanos que, em abril de 1975, lançou um manifesto chamando a atenção para os custos ambientais da obra que então era apenas uma idéia.

Trinta anos depois, constato que as advertências que fazíamos no manifesto – além de mim, o economista Renato Duarte, o sociólogo Renato Martins e os insignes falecidos Nelson Chaves, José Antonio Gonsalves de Melo, Vasconcelos Sobrinho e Renato Carneiro Campos – estão todas confirmadas. Na ocasião em que o manifesto foi lançado, os defensores do projeto, que incluíam políticos a favor e contra o regime militar, não perdoaram os subscritores do documento. Alegavam que nada do que falávamos fazia sentido, que o porto não iria destruir o meio ambiente. E que se justificava, no dizer do responsável no governo do Estado pela iniciativa, o então secretário Anchieta Hélcias, em suas próprias palavras (estão no Diário de 8.5.75), porque “Suape extinguirá a miséria” (sic). Ainda tentamos, num segundo manifesto, por essa época, alertar para o fato de que dizer “que a obra não vai destruir a paisagem, nem o sítio histórico, tampouco comprometendo o equilíbrio ecológico do litoral sul pernambucano, equivale a” um absurdo. Acrescentávamos: “quem garante… que a remoção de terra, os aterros inevitáveis, a escavação do porto, o lançamento mais tarde de detritos… não alterará de forma radical e definitiva o panorama que circunda Suape atualmente?”

Pois foi isso exatamente o que aconteceu. A paisagem atual de Suape é desoladora. Trata-se de uma área sem beleza, sem vegetação agradável, sem construções elegantes. Com mangues destruídos, a silhueta dos arrecifes esplêndidos que ali havia radicalmente alterada, as fruteiras banidas. Na verdade, Suape mais parece uma base militar de feição horrorosa. Entre minha chegada à cancela da entrada no perímetro do porto e meu ingresso nas instalações da Transpetro, levei 30 minutos. Fui fichado, fotografado, mandado esperar. O número de meu notebook teve que ser anotado Confesso que, em julho de 1970, foi mais fácil vencer as barreiras de arames farpados, baionetas caladas e carros de combate para entrar um dia às 21h na sede a Oban (centro da repressão do regime militar em São Paulo), à procura de meu irmão Cláudio, ali detido. Bom, Suape é vítima de uma regra imposta pelo governo norte-americano, explicaram-me, depois do 11 de Setembro. Tudo bem. Mas a sensação que se tem em Suape não engrandece. Pior: contou-me o motorista que me conduziu ao local que uma senhora que trabalha na cozinha do restaurante da Transpetro, moradora, quase diria “secular”, da região, pois ali vive com seis filhos e muitos netos desde que se entende de gente, está desesperada porque vai ter que sair do lugar. É que os interesses maiores da nova refinaria que vai para Suape impõem essa solução embrutecida. Desastre ambiental, desastre humano – quanto custa o “progresso”?

Artigo de opinião publicado no Diário de Pernambuco (21.6.2007)

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SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL

Clóvis Cavalcanti
Fundação Joaquim Nabuco & Universidade Federal de Pernambuco


Resumo da palestra proferida no V Congresso Brasileiro de Agroecologia:

Agroecologia e Territórios Sustentáveis

Recife, setembro de 2007

Toda atividade humana, qualquer que seja ela, incide irrecorrivelmente no ecossistema quer pelo lado da extração de recursos (caso em que a natureza funciona como fonte), quer pelo do lançamento de dejetos sob a forma de matéria ou energia degradada (caso em que o meio ambiente atua como cesta de lixo). Percebido desse ângulo, é evidente que o processo econômico – que opera dentro de um subsistema aberto envolvido pelo ecossistema global – tem que respeitar limites (quer os do fornecimento de recursos, quer os da absorção de dejetos, além dos da própria tecnologia). Daí, a noção de desenvolvimento sustentável: trata-se de promover a economia (e o bem-estar dos humanos) sem causar estresses que o sistema ecológico não possa assimilar.

Na perspectiva da sustentabilidade ambiental, o tipo de processo econômico que importa é aquele que produz bens e serviços levando em conta simultaneamente todos os custos (ou males) que lhes são inevitavelmente associados. Um olhar para as interconexões evidentes do sistema econômico com o ecológico, sem isolar um do outro, permite perceber de que modo é possível chegar-se a um mundo (sustentável) onde a vida não se veja ameaçada de extinção (nem seja considerada como uma externalidade). Esta é a tarefa para um modelo de desenvolvimento novo, muita vezes considerado utópico, que estamos chamando – por cortesia dos ecólogos, de quem se tomou emprestada a noção – de sustentável. É tarefa também para uma ciência da economia de fundamentos ecológicos.

No âmbito da realidade dos processos naturais, que oferece a moldura última que abriga a economia, só pode durar para sempre aquilo que se comporta de acordo com os princípios de funcionamento do sistema natural (dentre os quais desponta o da frugalidade).

Dá-se ao tema da sustentabilidade, muitas vezes, porém, um significado que contradiz sua própria essência, transformando-o em autêntico oximoro (como, com mais razão, na infeliz expressão “crescimento sustentável”). Ou seja, passivo ambiental crescente e sempre mais infelicidade humana. Crescer, na perspectiva da macroeconomia, é sempre possível (além de desejável), embora a teoria microeconômica mostre que o ótimo da produção impõe limites ao crescimento de uma firma – fixando a escala que satisfaz às regras da maximização do lucro. Por que o mesmo não deveria valer para economias nacionais, regionais ou estados e cidades? Será que, do ponto de vista das grandes economias, como inclusive a global, qualquer escala serve?

A preocupação quanto aos problemas ambientais mundiais, na verdade, pede mais do que a economia pode oferecer. Precisa-se, de fato, de indicadores econômicos – ou ecológico-econômicos – que incorporem estimativas de degradação ambiental (e também humana) e depleção de recursos: indicadores de desenvolvimento sustentável. Estes teriam que ser obtidos subtraindo-se do PIB o valor estimado dos recursos naturais esgotados e degradados (áreas florestais em diminuição, erosão do solo, mangues cortados para a criação de camarão, jazidas minerais que se esgotam, etc.).

O sistema de contas nacionais contabiliza corretamente a depreciação do capital feito pelo homem (máquinas, fábricas) como um item do balanço negativo na determinação da renda nacional, mas deixa de considerar a depreciação ou depleção do capital natural (árvores, minerais, solo, água). O consumo de tais ativos é contado como renda, o que faz com que a verdadeira renda nacional seja assim sobreestimada. Dessa forma, o desempenho econômico de um país ou região, em determinado período, pode aparecer, por exemplo, com uma robustez medida pelos critérios econômicos usuais que é totalmente falsa.

O Brasil, com sua multiplicidade de projetos de carcinocultura, turismo, resorts, loteamentos, expansão urbana, estradas costeiras, uma refinaria de petróleo em Pernambuco (Suape), hidrelétricas na Amazônia e muitos outros serve de triste ilustração de um desenvolvimento desordenado que tem efeitos destrutivos sérios (muitos deles humanos) inteiramente ignorados – ao mesmo tempo que apenas as virtudes dos projetos são decantadas e louvadas de todas as maneiras, até mesmo em propaganda oficial.

Quando se atribuem preços aos recursos naturais – o que acontece com aqueles que têm mercado como o petróleo –, tais valores constituem invariavelmente uma subestimação. Na contabilidade econômica nacional tradicional, um valor zero é implicitamente conferido a todos os recursos da natureza, dando-lhes a condição de “bens livres”.

O perigo de atribuir-se valor monetário a bens e serviços ecológicos é tanto de levar, por um lado, a que se acredite que eles valem aquilo que os cálculos mostram, quanto de fazer pensar, por outro, que ativos naturais possam ser assim somados a ativos construídos pelos humanos (ambos referidos à mesma base em dinheiro), tornando-os substituíveis. Na essência do conceito, porém, a sustentabilidade ecológica deve ser vista como manutenção de estoques físicos de capital natural, não a de seus correspondentes valores monetários.

Encarando o processo econômico sob tal ótica, uma economia ecológica implica mudança fundamental na percepção dos problemas de alocação de recursos e de como eles devem ser tratados, do mesmo modo que uma revisão da dinâmica do crescimento econômico. Para tentar enfrentar essa realidade, o campo de trabalho, para ser relevante, deve basear-se em hipóteses e teorias compartilhadas por um conjunto amplo de profissionais, como uma empreitada (ou cometimento) entre cientistas naturais e sociais, junto com os atores sociais envolvidos em ações concretas de promoção do desenvolvimento. Assim pode-se chegar a novo entendimento da realidade humana, tirando dele lições para fins de análise e política.

Um novo entendimento dessa ordem deve incorporar referências como a da abordagem sistêmica (systems approach) ou teoria geral de sistemas; como a das matemáticas não-lineares; como a da termodinâmica de não-equilíbrio (non-equilibrium thermodynamics); como a da economia como uma ciência da vida. Requer-se, com efeito, uma compreensão profunda da forma como a atividade econômica depende de processos biogeofísicos, com os feedbacks que existem entre uma e outros.

Tudo isso vai conduzir à discussão do problema da sustentabilidade das interações entre
sistemas econômicos (humanos) e ecológicos, o que impõe a necessidade de uma visão holística – uma visão que vá além das fronteiras territoriais normais das disciplinas acadêmicas.

A necessidade de informação sobre interações entre a economia e o ecossistema tem como finalidade derradeira a identificação de políticas capazes de mitigar os impactos destrutivos sobre o ambiente de medidas para a realização do bem-estar social. Ou seja, em última análise, o sentido de uma economia ecológica é o de uma economia política da ecologia.

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THOSE AFFECTED BY THE SUAPE PORT AND INDUSTRIAL COMPLEX

Heitor Scalambrini Costa
Professor at the Federal University of Pernambuco

Pernambuco is experiencing a situation, similar to many others that occur in the country and with respect to the model adopted by predatory development. Who pays for “progress” at the local level are the native people, forced to leave their homes, creating major social problems. And the environment also pays a high price, where they are discharging toxic products and destroying the vegetation, this reflex in animal life, in rivers and streams. This local activity has been added negatively to so many others, which occur in the national territory, and on the entire planet.

It is noted that the society ceased to be mesmerized by the economic growth at all costs (expressed in larger monetary values of GDP, which does not take into account the environmental costs). And what you observe is a conflict between the superior economic interest and the collective interest of the population, the environment and its ecosystems, finally, of all the events in the plan of life. In this clash, without the participation of civil society, money has won inexorably.

With the megalomania of the works of the Suape Port and Industrial Complex, it is evident the effects of a disorderly growth, reflexes of serious destructiveness, affecting mainly the indigenous people, farmers, which end up being entirely ignored, becoming invisible to the eyes of society. Especially, with the role of propaganda which only highlights the virtues of economic projects.

The surrounding residents accumulate complaints against the authority of the Port of Suape, and they are witnesses of a process that has created poverty and desolation. There are reported broken promises, manipulation and pressure on the inhabitants of the area, that consists of 22 gadgets (13,500 ha and approximately 15,000 families) where the Complex is located, the lack of information, intransigence in the negotiations and intolerance to deal with the population.

The evacuation of this territory by the State has occurred in a gruesome way, without “friendly” negotiation with the residents. Many times, using what is called in the region “armed militias” for the execution of the processes of reintegration of possession against the small rural producers. It is a farce to call it “negotiating” to set the compensation to be paid and correct details of evacuating the residents. Complaints and more complaints are constant, some revealed by the media, but nothing is done. Without doubt, one of the reasons these arbitrary expulsions is the overvaluation, speculation in the price of land, which is very disputed by business groups.

The process of “expropriation”, has been characterized by expropriation and trespass, with the State Constitution and with the march of involuntary resettlement-MRI of Pernambuco Project Sustainable Rural-PRS (available in http://www.prorural.pe.gov.br/arquivos/marco_reassentamento.pdf), whose goal is the treatment of the issues that involve the change or unintentional loss of place of residence, the loss of income or means of subsistence, as a result of implementation of projects.

Articles of the Magna Law and the guidelines of the MRI/PRS are being violated, socially and environmentally. For example, article 139 in the constitution, says that the State and municipalities must promote economic development, combining freedom of initiative with the higher principles of social justice, with the purpose of ensuring the elevation of the level of life and well-being of the population. Also article 210 which deals with the protection of the environment is disrespected, as well as article 211 which prohibits the State, in the form of the law, granting any benefit, tax incentives or credit, to physical or legal people, with activities, that pollute the environment.

Farmers evicted, have no idea where they can reestablish their productive system ensuring their quality of life. On the contrary, they are losing interest in life, being constrained with the actions of police, armed men that make them feel like real bandits. In addition to the conditions of a worthy life, for these farmers, their condition of existence and other goods that are immaterial are being removed. And even those that try their luck in cities can’t purchase any property with the derisory compensation of Suape.

Therefore, it is urgent before the “social cauldron” explodes, a new format of the negotiating process, review of the compensations, the withdrawal of armed militias, the land regularization of these residents and the immediate implementation of the project “morador” (Law 13,175 of 27 December 2006) which guarantees the right to public politician, for farmers who live in the vicinity of Suape.

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OS ATINGIDOS PELO COMPLEXO DE SUAPE

Heitor Scalambrini Costa
Professor da Universidade Federal de Pernambuco

Em Pernambuco vivencia-se uma situação, análoga a tantas outras que ocorrem no País e diz respeito ao modelo predatório adotado de desenvolvimento. Quem paga pelo “progresso” a nível local são as populações nativas, obrigadas a saírem de suas moradias, criando grandes problemas sociais. E também o meio ambiente, onde são despejados produtos tóxicos e suprimida a vegetação, com reflexos na vida animal, nos rios e riachos. Esta ação local acaba se somando negativamente a tantas outras que estão sendo realizadas em todo o território nacional, e em todo o planeta.

Constata-se que a sociedade deixou-se hipnotizar pelo crescimento econômico a todo custo (expresso em maiores valores monetário do PIB, que não leva em conta os custos ambientais). E o que se verifica é um conflito entre o interesse econômico predominante e o interesse coletivo da população, do meio ambiente com seus ecossistemas, enfim, de todas as manifestações no plano da vida. Neste embate, sem a participação da sociedade, o dinheiro tem vencido inexoravelmente.

Com a megalomania das obras do Complexo Industrial e Portuário de Suape são evidentes os efeitos de um crescimento desordenado, de reflexos destrutivos sérios, afetando principalmente as populações nativas, agricultores, que acabam sendo inteiramente ignorados, tornando invisíveis aos olhos da sociedade. Sobretudo pelo papel da propaganda oficial, que apenas destaca as virtudes econômicas dos projetos.

Os moradores do entorno acumulam reclamações contra a Autoridade do Porto de Suape, e são testemunhas de um processo que tem gerado pobreza e desolação. São relatadas promessas não cumpridas, manipulação e pressão sobre os moradores da área constituída de 22 engenhos (13.500 ha e aproximadamente 15.000 famílias) onde situa-se o Complexo, a falta de informação, intransigência nas negociações e intolerância ao lidar com a população.

A desocupação deste território pelo Estado tem ocorrido de forma truculenta, sem negociação “amigável” com os moradores. Muitas vezes, recorrendo, ao que se denomina na região de “milícias armadas” para a execução dos processos de reintegração de posse contra os pequenos produtores rurais. É uma farsa a chamada “negociação” para definir a indenização a ser paga e acertos nos detalhes da saída dos moradores. Denúncias e mais denúncias são constantes, algumas divulgadas pela mídia, mas nada é feito. Sem dúvida, um dos motivos destas expulsões arbitrárias está na sobrevalorização, na especulação do preço da terra, que é muito disputada por grupos empresariais.

O processo de “desapropriação”, tem se caracterizado por expropriação e esbulho, com a Constituição Estadual e com o Marco de Reassentamento Involuntário-MRI do Projeto Pernambuco Rural Sustentável-PRS (disponível em http://www.prorural.pe.gov.br/arquivos/marco_reassentamento.pdf), cujo objetivo é o tratamento das questões que envolvem a mudança ou perda involuntária do local de moradia, a perda de renda ou meios de subsistência, em decorrência da implementação de projetos.

Artigos da Lei Magna e as diretrizes do MRI/PRS estão sendo violados, social e ambientalmente. Por exemplo, o artigo constitucional 139 que diz que o Estado e os municípios devem promover o desenvolvimento econômico, conciliando a liberdade de iniciativa com os princípios superiores da justiça social, com a finalidade de assegurar a elevação do nível de vida e bem-estar da população. Também o artigo 210 que trata da proteção ao meio ambiente é desrespeitado, assim como o artigo 211 que veda ao Estado, na forma da lei, conceder qualquer benefício, incentivos fiscais ou creditícios, às pessoas físicas ou jurídicas que, com suas atividades poluam o meio ambiente.

Os agricultores despejados, não têm noção de onde irão restabelecer seu sistema produtivo garantindo sua qualidade de vida. Pelo contrário, estão perdendo o gosto pela vida, sendo constrangidos com a ação da polícia, homens armados que os fazem sentir verdadeiros bandidos. Além das condições de vida digna estão retirando desses agricultores, sua condição de existência e outros bens que são de ordem imaterial. E mesmo aqueles que se aventurarem morar nas cidades, não poderão adquirir nenhum imóvel com as irrisórias indenizações pagas por Suape.

Portanto, é urgente antes que o “caldeirão social” exploda, um novo formato do processo negocial, a revisão das indenizações, a retirada das milícias armadas, a regularização fundiária destes moradores e a implementação imediata do projeto Morador (Lei 13.175 de 27 de dezembro de 2006) que garante o direito a políticas públicas para os agricultores que vivem no entorno de Suape.

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