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AUDITORIAS APONTAM FAVORECIMENTO A EMPREITEIRAS NA OBRA DA RNEST

Relatório elaborado pela Petrobras aponta lucro indevido do Consórcio Alusa-CBM
Por Eduardo Bresciani e Vinicius Sassine – O Globo
10/07/2014
Hans von Manteuffe l/ 24-07-2013 / Agência O Globo
Abreu e Lima. Orçamento saltou de US$ 2,3 bilhões para mais de US$ 20 bilhões, valor estimado que será gasto até novembro deste ano

BRASÍLIA — Auditorias internas da Petrobras revelam que a construção da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, contou com projeções de lucro acima do mercado por fornecedores, favorecimento em licitações, contratações sem concorrência e sem disputa e pagamentos a mais a empreiteiras. Os relatórios inéditos, obtidos pelo GLOBO, foram elaborados entre 2011 e 2014 e detalham supostas irregularidades num empreendimento cujo orçamento saltou de US$ 2,3 bilhões para mais de US$ 20 bilhões, valor do gasto total estimado até novembro deste ano, data prevista para o início do funcionamento da refinaria. O superfaturamento em Abreu e Lima, segundo as estimativas mais recentes do Tribunal de Contas da União (TCU), ultrapassa R$ 1,1 bilhão.
Um relatório de sete páginas, elaborado por três auditores da Petrobras, apontou um lucro indevido projetado pelo Consórcio Alusa-CBM, responsável por um contrato de R$ 651,7 milhões. Para implantar a unidade da carteira de enxofre da refinaria, o consórcio estimou um lucro de 12%, inclusive para a elaboração do projeto, delegada a outra empresa. Os auditores compararam, então, esses ganhos com o “ranking” das 14 maiores construtoras, cuja margem média de lucro era de 7%, “sendo que 60% dessas empresas apresentaram percentuais inferiores ou iguais a 6%”.
A unidade responsável justificou que as propostas se referem a contratos por preço global e não poderiam ser analisadas pontualmente. Os auditores discordaram: “O fato de o contrato ser por preço global não impede a análise da composição de seu valor, ainda na licitação, visando à negociação de condições mais vantajosas para a Petrobras, inclusive com possível enquadramento de suas parcelas ao praticado no mercado”. Não há informação se os lucros exacerbados foram pagos.
Outra equipe de três auditores lançou suspeita sobre um segundo contrato com a Alusa. A empresa foi contratada por R$ 921 milhões para realizar do projeto executivo à implementação da casa de força da refinaria. A Alusa, porém, não atendia aos requisitos expressos no edital de licitação. Na ocasião, em 2008, foram encaminhados convites a 12 empresas. A empreiteira só conseguiu participar após enviar e-mail a um gerente da área de engenharia demonstrando interesse em disputar.
A Petrobras justificou a inclusão como uma forma de aumentar a concorrência: “Apesar de a Alusa não atender integralmente aos critérios estabelecidos inicialmente para o convite, ela possuía capacitação, porte adequado e experiência na prestação de serviços semelhantes na Petrobras. Considerou-se, ainda, que a inclusão dela no processo poderia aumentar a competitividade no certame”.
Os auditores não se deram por satisfeitos. O relatório destacou que 12 concorrentes já participavam e que a flexibilização dos critérios deveria ter sido estendida a outras empresas. “Uma vez aberta a excepcionalidade para essa empresa, outras que estavam nas mesmas condições deveriam ter sido convidadas não só para conferir isonomia ao processo, como, também, para aumentar a competitividade e evitar questionamentos”, argumentaram.
Questionamentos ao processo licitatório foram feitos também em um certame vencido pela Jaraguá Empreendimentos, citada na Operação Lava-Jato da Polícia Federal (PF) como uma das que repassaram recursos para uma empresa de fachada do doleiro Alberto Youssef. Os dois auditores que assinam este relatório observaram que a empresa venceu uma concorrência de R$ 13,3 milhões para o fornecimentos de equipamentos de energia na qual nenhum concorrente participou. A Petrobras convidou 16 empresas, mas só a Jaraguá apresentou proposta. A equipe observou que o TCU já determinou à Petrobras que devem existir pelo menos três propostas válidas para um processo licitatório ter continuidade.
Um contrato de R$ 2,7 bilhões com o Consórcio Ipojuca, formado pela Construtora Queiroz Galvão e pela Iesa Óleo e Gás, teve reajustes de preços antes do previsto na parceria com a Petrobras. As empreiteiras são responsáveis pela implantação de tubovias de interligação. Os auditores apontaram um “desembolso indevido” de R$ 6 milhões, e pediram a devolução do dinheiro.
Outra iniciativa criticada foi o aumento de itens e a manutenção do preço unitário, o que levou a um “acréscimo de R$ 245 milhões”. “Considerando que os itens destacados representam os maiores volumes das medições, essa situação pode induzir à percepção de antecipação de recursos com vantagem financeira para a contratada”, citou o relatório. O consórcio deveria instalar um sistema de tratamento de efluentes, o que não foi feito e implicou custo adicional de R$ 15 milhões.
Relatórios apontaram ainda repasses de recursos a fornecedores contratados antes da prestação de serviços e sem atualização dos valores nos pagamentos, além de reajustes inadequados, que levaram a pagamentos a mais. Estes recursos só foram ressarcidos à Petrobras após o trabalho da fiscalização. A auditoria questionou o fato de a Petrobras ter deixado de cobrar multas previstas em contrato, de até 10% do valor total, por atrasos na obra e desmobilização de mão de obra. Isso ocorreu em dois contratos que ultrapassavam R$ 1,3 bilhão, mas a Petrobras preferiu apenas repactuar os prazos com os fornecedores.
Em resposta ao GLOBO, a Petrobras afirmou que o consórcio Alusa-CBM não lucrou a mais na refinaria. “O consórcio foi vencedor da licitação, apresentando o menor preço e com a sua proposta atendendo a estimativa da Petrobras”, disse por meio da assessoria de imprensa. A estatal negou favorecimento a empreiteiras e disse que a contratação direta de equipamentos especiais está prevista em decreto sobre licitação simplificada de 1998. Reajustes e desembolsos tidos como indevidos atenderam a condições contratuais, segundo a empresa.
A Alusa Engenharia divulgou nota nesta quinta-feira para refutar “completamente” as suspeitas levantadas nas auditorias internas e para dizer que desconhece as investigações feitas. “Todos os contratos são absolutamente regulares e estão de acordo com o objeto da contratação. As margens de lucro apontadas pela reportagem nem de longe correspondem à realidade”, sustentou a nota da assessoria de imprensa. A empresa também afirmou que “preencheu todos os requisitos para participar da concorrência e disputou o certame em igualdade de condições com as demais empresas”.
O Consórcio Ipojuca também não respondeu aos questionamentos enviados. O jornal tentou contato com a Jaraguá, mas, devido ao feriado em São Paulo ontem, não conseguiu falar no escritório da empresa.
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SUAPE: PROMESSAS NÃO CUMPRIDAS (2)

Suape: promessas não cumpridas (2)
Por Heitor Scalambrini Costa  – Professor da Universidade Federal de Pernambuco e Coordenador Geral do Fórum Suape – Espaço Socioambiental
 O Complexo Industrial Portuário de Suape (CIPS), chamado por segmentos da sociedade pernambucana de “joia da coroa”, “locomotiva do desenvolvimento”, “poupança do povo”, “redenção do Nordeste”, e “Eldorado”, entre outros, vive momentos de desnudamento de uma realidade cruel.
Movimentos sociais, ao longo dos anos, têm denunciado questões referentes à ação da empresa Suape – como a imoralidade dos procedimentos judiciais que tramitam na Vara Privativa da Fazenda Pública da Comarca do Cabo de Santo Agostinho; o desvio de verbas públicas, através do ajuizamento de ações judiciais e simulação de audiências não realizadas nessa mesma Vara da Fazenda; os danos ambientais e sociais causados pela empresa; a continuada violação de direitos humanos; o tráfico de influência no Poder Judiciário de Pernambuco; a ausência do Ministério Público nos procedimentos de remoção/expulsão de milhares de famílias da área; e a falta de legitimidade da empresa Suape como proprietária das terras que hoje abrigam o Complexo.
Com a atração de inúmeras empresas, como refinaria, estaleiros, termoelétricas, siderúrgica e petroquímica, o que se verifica há alguns anos é o completo desrespeito às leis vigentes por parte da empresa gestora do Complexo; é a falta de responsabilidade social das empresas que lá se instalaram; e, principalmente, a visão anacrônica do governo estadual, responsável pela degradação ambiental daquele território. Os reflexos desta política obstinada, que considera a natureza um entrave ao crescimento econômico, inclui a interrupção drástica e dramática dos modos de vida da população local – ferindo direitos adquiridos de pescadores, marisqueiras e agricultores familiares, expulsos de suas moradias, abandonados sem condições de trabalho ou qualquer assistência social digna desse nome.
O mantra mais utilizado pelo governo estadual em suas ações de marketing político, que o tem projetado nacionalmente, é a geração de empregos e o aumento da renda proporcionado pela implantação desse Complexo Portuário e Industrial. Sem dúvida, cresceu muito o emprego de baixa qualidade, temporário, com salários irrisórios, devido às obras de construção dos empreendimentos, atraindo tanto trabalhadores pernambucanos como de outras regiões do país. Todavia, agora, com o término desta etapa de construção civil, os responsáveis se vangloriaram e manipularam a opinião pública, “lavam as mãos” perante o comportamento de empresas que não cumprem suas responsabilidades sociais e trabalhistas para com os seus empregados. Um comportamento no mínimo irresponsável.
A promessa de emprego abundante, usada na propaganda política, se tornou um verdadeiro calvário para os trabalhadores. O Ministério Público do Trabalho (MPT) estima que as empresas do Complexo vão demitir mais de 50 mil trabalhadores entre 2014 e 2016, em particular, aqueles que trabalharam na construção da Refinaria e de outras obras da Petrobrás.
Na tentativa de fazer valer os direitos legítimos daqueles que com sua força física ajudaram na construção de Suape, e preocupado com o desemprego em massa, o MPT criou, em dezembro de 2013, o Fórum para Recolocação da Mão de Obra de Suape (REMOS), tentando assim minimizar o que já estava acontecendo: demissões em larga escala, calotes das empresas, como o não pagamento de salários, um total desrespeito a direitos básicos da classe trabalhadora.
O que se verifica atualmente no território de Suape é a barbárie nas relações entre o capital e o trabalho, com a omissão do governo do Estado e da Empresa Suape. Sem tirar, obviamente, a responsabilidade da Petrobrás que contratou os consórcios de empresas para a realização das obras. Os responsáveis pelo descalabro existente não se manifestam diante da gravidade da situação. Fazem de conta que não é com eles.
A situação é explosiva e muito tensa. Diante da falta de cooperação das empresas que insistem nas irregularidades, o Fórum REMOS foi desfeito no inicio do mês (4/6) pelo MPT. Os trabalhadores, devido à falta de pagamentos dos salários e das garantias que lhes concede as leis trabalhistas, estão sendo despejados de onde vivem, não tendo sequer dinheiro para suprir suas necessidades materiais de sobrevivência. São relatadas situações em que famílias perderam o direito ao plano de saúde, com todas as consequências que isto implica.
Revoltados com a demora no atendimento de seus legítimos direitos, as vias de acesso ao Complexo têm sido tomadas por estes trabalhadores, que denunciam o abandono a que estão submetidos. Os órgãos de repressão, chamados para “garantir a ordem”, espancam e prendem trabalhadores em violentos e injustificados embates.
Promessas de trabalho. Promessas de vida melhor. Promessas e mais promessas, agora desmascaradas, desnudam a realidade da “gestão moderna e eficiente” do governo de Pernambuco, cuja propaganda cínica segue à risca a Lei de Ricupero: “No governo é assim: o que é bom à gente mostra; o que é ruim a gente esconde”.
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MORDOMIA COM DINHEIRO PÚBLICO PATROCINADO POR SUAPE

Empresa Suape compra ingressos por R$ 745 mil para grupo de executivos assistirem a Copa na Arena Pernambuco
Blog do Jamildo – 05/06/2014
Uma ação de “relacionamento” organizada pela administração do Porto de Suape levará executivos considerados estratégicos para assistir aos jogos da Copa do Mundo, na Arena Pernambuco, em camarotes vips. O espaço reservado, que abrigará 18 assentos, sairá pela bagatela de R$  745 mil. A informação foi divulgada nesta quinta-feira (5) pelo jornal Folha de S. Paulo.
Segundo a reportagem, a administração do Porto irá selecionar executivos de empresas estratégicas para irem ao cinco jogos realizados no estádio e visitarem o complexo. Dois representantes do Porto vão ciceronear os convidados ilustres. A cada jogo, o grupo vai mudar.
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PROTOCOLADA NO CPRH DENUNCIA SOBRE SUBSTANCIA TÓXICA ENCONTRADA NO PORTO DE SUAPE

Eis mensagem recebida da Ouvidoria do CPRH (Agência Estadual do meio Ambiente):
Acusamos o recebimento de sua  Denúncia , protocolada sob o número  201416481, a qual foi encaminhada ao setor:  UCFI – UN. CONTROLE DE FONTES INDUSTRIAIS .
Por último, agradecemos sua participação na melhoria da qualidade dos serviços prestados pelo Governo de Pernambuco, apresentando sua manifestação.
  
Atenciosamente,
Márcio Silveira de Azevedo
Ouvidor da CPRH
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AINDA SOBRE A DENUNCIA A DIRETORIA DE PORTOS E COSTAS

Em resposta a sua consulta, incumbiu-me o Diretor de Portos e Costas de informá-lo que a Diretoria de Portos e Costas (DPC), por meio da Portaria Nº 76/2007, aprovou a Norma da Autoridade               Marítima para o Controle de Sistemas Anti-incrustantes Danosos em Embarcações – NORMAM-23/DPC. Essa Norma aplica-se às embarcações brasileiras cujas obras vivas necessitam ser pintadas com sistemas anti-incrustantes e às embarcações estrangeiras que docarem no Brasil, para pintura das obras vivas, ou que estiverem afretadas em regime de AIT (Atestado de Inscrição Temporária).

 Ainda, em 2010, o Congresso Nacional por meio do Decreto Legislativo nº 797/2010 aprovou a Convenção Internacional sobre Controle de Sistemas Antiincrustantes Danosos em Navios (2001),     que tem como propósito reduzir ou eliminar os efeitos nocivos ao meio ambiente marinho e à saúde humana causados por sistemas anti-incrustantes.

 Assim, baseada nesses dois instrumentos normativos, a Marinha do Brasil, por meio de seus Agentes da Autoridade Marítima, impõe medidas apropriadas, durante as Inspeções Navais, para que os navios que estão sujeitos às disposições dessas normas cumpram as exigências legais por elas estabelecidas.

 A Inspeção Naval deverá limitar-se a:

(a) verificação, quando requerido, da existência a bordo de um Certificado Internacional de Sistema Anti-incrustante válido, ou uma Declaração sobre Sistema Anti-incrustante; e/ou

(b) coleta de uma pequena amostra do sistema anti-incrustante do navio, que não afete a integridade, estrutura ou operação do sistema anti-incrustante, de acordo com as diretrizes elaboradas pela IMO (Organização Marítima Internacional na sigla em inglês). No entanto, o tempo necessário para processar os resultados de tal amostra não deverá ser usado como motivo para impedir os movimentos e a partida do navio.

Caso haja motivos claros para acreditar que o navio esteja violando a Convenção AFS (Sistemas Anti-incrustantes na sigla em inglês) ou a NORMAM-23, uma inspeção detalhada poderá ser realizada, levando em conta as diretrizes elaboradas pela IMO.

Como o próprio artigo estima, 95% da indústria naval que aplica os sistemas anti-incrustantes trabalham em estrita observância da lei.

De acordo com informações prestadas por especialista no assunto, do Instituto de Estudos do Mar Almirante Paulo Moreira, da Marinha, também citado no artigo, o TBT tem em sua estrutura base o estanho (Sn), um metal persistente que se une muito bem aos compostos orgânicos presentes no ambiente marinho. Ou seja, ele perdurará no ambiente marinho por muitos anos e será sempre identificado em pesquisas químicas realizadas em áreas mais costeiras, principalmente naquelas com maiores concentrações de embarcações.

 A afirmativa contida no artigo, do oceanógrafo Marcos Fernandez da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), de que “pesquisas recentes comprovam aumento da concentração de TBT em áreas próximas a estaleiros e marinas no sudeste e no nordeste”, infelizmente não foi acompanhada de outras informações e detalhes que pudessem esclarecer como foi possível ao autor da afirmativa chegar a essa conclusão. Não obstante, a possibilidade de uso do TBT por estaleiros de pequeno porte, ou mesmo clandestinos, pode vir a ser responsável por essa ocorrência, caso ela se confirme.

 Entretanto, a Autoridade Marítima não possui competência legal ou técnica para vistoriar esses estaleiros, a fim de verificar as suas práticas com relação aos sistemas anti-incrustantes.

 Assim sendo, a fim de que possa ser levada adiante a investigação sobre essa possibilidade, a DPC orientará os representantes locais da Autoridade Marítima para que façam contato com os órgãos ambientais das regiões onde o estudo apontou elevação dos níveis de concentração de TBT, a fim de que esses possam proceder às averiguações necessárias.

 Desse modo esperamos contribuir para o esclarecimento e autuação daqueles que, eventualmente, estejam agindo em desacordo com a legislação.

Atenciosamente.

DIRETORIA DE PORTOS E COSTAS
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FÓRUM DENUNCIA SUBSTÂNCIA TÓXICA ENCONTRADA NO PORTO DE SUAPE

No dia 11 de fevereiro de 2014 a Revista Ciência e Hoje publicou artigo de Henrique Kugler intitulado “Silencio dos Mares”, reproduzido neste portal.
O referido artigo denuncia que a substância química mais tóxica sintetizada pelo ser humano (já banido em mais de 170 países), e usado para evitar bioincrustação em cascos de navios, havia sido detectado em proporções altíssimas no porto de Suape e do Recife.
O Fórum Suape denunciou e pediu providencias a Agencia Estadual de meio Ambiente (CPRH) através de sua ouvidoria (até o momento não obteve resposta) e a Diretoria de Portos e Costas(DPC) da Marinha do Brasil.
Abaixo repassamos a resposta da DPC ao Fórum Suape, para seu representante legal:
Prezado Sr. Heitor Costa,
Agradeço pelas informações encaminhadas ao fale conosco da DPC, trazendo importante matéria publicada na Revista Ciência Hoje. 
Participo a Vossa Senhoria que o seu questionamento foi encaminhado ao setor afeto ao tema, que consolidará os aspectos pertinentes aos esclarecimentos necessários.
Atenciosamente,
Diretoria de Portos e Costas
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TEXTO TRADUZIDO. PUBLICADO NO THE GUARDIAM.COM (original neste portal)

Comunidades de marisqueiras do Brasil são marcadas pela poluição industrial
Edinilda de Ponto dos Carvalhos, com pouco mais de cinquenta anos, é marisqueira, ou pescadora artesanal, em Suape desde muito jovem. Recentemente, segundo ela, seu trabalho  vem se tornando mais duro.
“Existem produtos químicos na água. Não possuem cheiro, mas matam todas as coisas” diz ela. Enilda acredita que a poluição vem do complexo portuário próximo no litoral sul de Pernambuco, estado no Nordeste do Brasil, considerada uma região de desenvolvimento econômico central.
Outra marisqueira, Valéria Maria de Alcântara, diz: “O barro produz coceiras por causa do óleo e dos dejetos, restos que ficam na água do mar. Isto queima a pele.”
De acordo com um programa de treinamento do estado, as mulheres compreendem 5.200 dos 8.700 pescadores daquela comunidade pesqueira. Elas trabalham duro para pescar mariscos na água ou no manguezal do entorno.
Nesta manhã de sol, Edinilda e mais 20 outras marisqueiras resolveram falar sobre a crise em suas vidas devido à poluição e depredação dos manguezais. “Pescadoras que antes retiravam de 20 a 30 quilos de conchas, agora, durante toda uma semana, chegam a 3 quilos”, diz Valéria sentada em uma cadeira de metal em seu terraço.
Centenas, se não milhares, de outras pescadoras ao longo da costa de Pernambuco dividem essa experiência. Tradicionalmente, o pescado das marisqueiras dava para o sustento de suas famílias, e qualquer excedente era comercializado em mercadinhos locais, complementando a renda familiar. Valéria diz que agora ela precisa trabalhar nas cozinhas dos bares locais nos finais de semana para complementar a renda por conta da queda em sua produção. 
“Na história da pesca no Brasil, a atividade das mulheres tem sido invizibilizada”, diz Laurineide Santana. “O que essas mulheres produzem não entra na estatística oficial da pesca.” 
Ela afirma que as políticas do governo marginalizam ainda mais o trabalho das mulheres, e que  só a partir de 1980, quando o Brasil adotou a nova Constituição, é que as trabalhadoras rurais tiveram um reconhecimento mínimo e adquiriram direito a pensão. 
Santana, que nasceu em uma família de pescadores, atua no apoia às comunidades pesqueiras nos estados do norte/nordeste do Brasil. Ela faz parte do Conselho Pastoral dos Pescadores (CPP), um grupo católico que atua na organização social de pescadores artesanais em todo o país.  Em particular, Laurineide trabalha com mulheres no intuito de tornar visível a atividade desses grupos e seus resultados, elevando a autoestima das pescadoras. 
Entre 2007 e 2010, o então presidente Luís Inácio Lula da Silva disponibilizou para Suape 1,4 bilhões de reais para garantir o desenvolvimento econômico do complexo portuário e o crescimento no estado de Pernambuco, seguido de demais investimentos privados.
O complexo está instalado no litoral sul do Recife, capital do estado, e possui mais de 100 empreendimentos, incluindo uma refinaria, um polo petroquímico e muitos empreendimentos imobiliários. A expansão tem criado milhares de vagas de empregos, a maioria temporários, contudo vem danificando o meio ambiente e as práticas de sobrevivência tradicionais e locais.
Em setembro de 2013, a secretaria de meio ambiente do estado multou o Porto e o Complexo industrial em 2,5 milhões de reais por causar dos danos ao meio ambiente ocasionados, como o uso de dinamite em áreas de corais próximas ao Porto. 
Uma porta voz do Porto estimou em 10% a contribuição de Suape com o pib pernambucano. Os gestores municipais próximos ao porto introduziram impostos especiais para a indústria, mas ninguém foi capaz de dizer o quanto que esses impostos retornam para melhoria local da comunidade ou como o dinheiro vem sendo empregado. 
“Suape é um exemplo atual do modelo de desenvolvimento adotado pelo governo brasileiro”, afirma a secretaria executiva do CPP Nacional Maria José. “Esse é um modelo de desenvolvimento baseado no consumo, exploração e concentração de recursos.”
O CPP vem trabalhando com outras organizações para coletar assinaturas suficientes para que um projeto de lei de iniciativa popular de proteção e reconhecimento de áreas tradicionais da pesca artesanal em comunidades brasileiras seja apresentado ao Congresso Nacional 
 “Essas populações possuem uma qualidade de vida muito superior, ainda que em condições de pobreza, que é o que tem oferecido o modelo brasileiro de industrialização”, diz Maria José.
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SUAPE: PROMESSAS NÃO CUMPRIDAS (1)

Por Heitor Scalambrini Costa, Professor da Universidade Federal de Pernambuco e Coordenador geral do Fórum Suape Espaço Socioambiental
Promessas são compromissos assumidos por quem as faz. Seus ouvintes, em princípio, acreditam que serão cumpridas. Na política, lamentavelmente, não é assim. Faz parte de nossa cultura prometer algo que muitas vezes, sabe-se de antemão, não será cumprido. Mesmo assim se promete.
Em Pernambuco, de onde se “fala para o mundo”, se propagandeia que aqui nasceu a “nova política”. Que em nada difere da “antiga” praticada desde sempre. Todavia os marqueteiros batem nesta tecla, tentando arregimentar votos para o governador, pré-candidato na disputa presidencial.
Aqui se promete muito mais. E se cumpre menos ainda (será esta a “nova política”?). Vejamos o caso emblemático do Complexo Industrial Portuário de Suape, para alguns a redenção de Pernambuco, quiçá do Nordeste e do Brasil.
No modelo adotado busca-se atrair refinarias, estaleiros, termoelétricas e petroquímicas – empresas que estão no topo das que mais agridem o meio ambiente. Acontece que o território do Complexo era habitado, há mais de meio século, por mais de 15 mil famílias nativas, todas dependentes da agricultura familiar e da pesca. Para se livrar desses posseiros indesejados, se iniciou um processo de expulsão com sérios impactos socioambientais. E é aí que começam as promessas, tanto para os moradores como para a sociedade pernambucana, visando justificar a insanidade da brutalidade que se cometia, contra o meio ambiente e contra os moradores da região. Algumas dessas promessas são citadas a seguir.
Em 2006 foi lançado o projeto do território Estratégico de Suape, integrado pelos municípios do Cabo de Santo Agostinho, Ipojuca, Jaboatão dos Guararapes, Escada, Moreno, Ribeirão e Sirinhaém. O objetivo seria planejar o desenvolvimento desse território e evitar os impactos negativos da chegada dos grandes empreendimentos à Suape. Assim, se promoveria a ocupação ordenada do território de Suape, evitando-se danos sociais e ambientais. Transcorridos oito anos, o programa não passou da fase de planejamento e os problemas que poderia prevenir acabaram acontecendo, pois os empreendimentos chegaram e as ações prometidas não. Ademais, as demandas sociais se multiplicam, como habitação, saneamento, mobilidade, saúde, segurança e meio ambiente. O que houve neste período foi unicamente o aumento das expulsões de milhares de pessoas que habitavam a região.
Outro projeto de grande repercussão na mídia pernambucana foi o lançamento do programa Suape Sustentável, em junho de 2011. A proposta original era para desenvolver uma gestão integrada do Território de Suape, com a participação das administrações estadual e municipal, das empresas e universidades. O que se viu foi a continuidade do que já vinha sendo feito. Frustração para quem esperava um mínimo de planejamento naquele território.
Na lista dessas ações estava a construção da agrovila Nova Tatuoca, prometida em 2007 aos moradores que foram expulsos para dar abrigo ao polo naval. Os ilhéus foram expulsos e nada de novas moradias. Novas promessas foram feitas e as primeiras unidades seriam entregues em dezembro de 2012, sendo a vila totalmente entregue até março de 2013. Nada! Agora é dito na imprensa que um conjunto de 73 casas, cada uma com menos de 40 m2, será entregue antes que o governador deixe o cargo para concorrer à presidência da República. Todavia, denuncias apontam que além da fragilidade e precariedades destas construções, não haverá saneamento básico, e os dejetos das casas serão despejados diretamente no mangue.
Na área ambiental o desastre é calamitoso. A Assembleia Legislativa de Pernambuco autorizou diversos projetos de desmatamento. O mais devastador, contido na Lei nº 1.496, de 27 de abril de 2010, autorizou a supressão de vegetação permanente, correspondente a uma área de 17 ha de Mata Atlântica, 508 ha de mangue e 166 ha de restinga. Até hoje os moradores procuram os locais que Suape diz que reflorestou, propagandeando ter “zerado” o déficit ambiental naquele território. Também se arrasta há anos a construção do Centro de Tecnologia Ambiental (CTA), outra promessa dos gestores do Complexo de Suape.
Só mais uma, dentre tantas promessas não cumpridas, a relacionada à reforma da Estação de trem de Massangana e à chegada do VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) até o complexo de Suape, que permanece no limbo, sem data para início nem para conclusão.
Bem, as promessas dos administradores de Suape e do governo do Estado ao longo dos anos mostram que fazê-las rende frutos, pois os que prometem são bem vistos e acabam sendo “premiados” com novas posições no governo do Estado (seria essa a “nova política”?).
E enquanto nada do prometido acontece, “corre solta” a propaganda com verbas públicas em Pernambuco. 
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DENUNCIA DE PROCEDIMENTO IRREGULAR DE DESCARGA DE ÓLEO EM SUAPE É INDEFERIDA

Em 22 de setembro de 2013 recebemos denuncia do SINDIPETRO-PE/PB que em Suape estaria ocorrendo uma irregularidade com relação a uma operação de descarga de óleo combustível do tipo Bunker (MF-380) do navio Alpine Liberty, atracado  no PGL1-B, onde o mesmo estaria descarregando este produto da Petrobras para o Terminal Tequimar (privado).
Acontece que o correto nesta operação, segundo o procedimento da Petrobras e da Transpetro é de o navio nesta condição, estar cercado com flutuantes (boias), pois em um eventual vazamento, o produto no mar ficará contido no cerco e infelizmente não esta.
Este fato é mais um desrespeito e descumprimento de procedimentos, além da precarização dos serviços que envolvem as empresas privadas que prestam serviço para a Petrobras.
O Fórum Suape tomou as providências cabíveis denunciando este fato as autoridades.
No dia 28 de fevereiro de 2014, transcorrido 5 meses da denuncia recebemos do Excelentíssimo Promotor de Justiça Cível de Ipojuca, Dr. Paulo César do Nascimento, resposta que transcrevemos abaixo.
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE PERNAMBUCO
2ª Promotoria de Justiça Cível de Ipojuca
Curadoria do Meio Ambiente
NOTÍCIA DE FATO ARQUIMEDES 2013/1333123
Assunto: irregularidade na operação de descarga de produto químico para a petrobrás no terminal Tcmar no Porto de Suape
Denunciante: Heitor Scalambrini Costa
 PROMOÇÃO   DE  INDEFERIMENTO
                                     Trata-se de denúncia na qual relata o denunciante a ocorrência de  irregularidade na operação de descarga de óleo, bunker (MF-380) do navio Alpne Liberty, que estaria atracado no PGL1-b, no Complexo Industrial Portuário de Suape, descarregando o produto da Petrobrás para o Terminal Tecmar, sem que o navio estivesse cercado com flutuantes (boias), para em caso de vazamento, o produto no mar ficar contido no cerco, alegando ainda que tal irregularidade já ocorreu em outras ocasiões.
                                    Foram requisitadas informações ao Complexo Portuário de Suape, bem como a CPRH a respeito dos fatos alegados na denúncia.
                                    Em resposta a requisição do MP tanto o Complexo de Suape quanto a CPRH   informaram que a Norma de Autoridade Marítima para tráfego e Permanência de Embarcações em Águas Jurisdicionais Brasileiras – NORMAM – 08 da Diretoria de Portos e Costas da Marinha do Brasil ao estabelecer os procedimentos para transferência de óleo entre embarcações em áreas portuárias estabelece que apenas a transferência de óleo entre embarcações em áreas portuárias, deverá manter uma embarcação dedicada junto ao local de transferência durante todo o transcorrer da operação, dotada de barreias de contenção de óleo  (oil boom) em quantidade adequada e pessoal, e apenas no período noturno deverão ser lançadas barreiras de contenção na água,  ocorrendo que a transferência ora denunciada não foi realizada entre embarcações e sim entre uma embarcação e um terminal, bem como foi realizada durante o dia.
                                    Tendo ainda o órgão ambiental concluído que a denúncia não possui fundamento.                                 
                                   Assim, considerando que o órgão ambiental não detectou qualquer irregularidade na operação de descarga de óleo mencionada na denúncia, não vislumbro a necessidade de intervenção do Ministério Público, inexistindo assim fundamento para instauração de procedimento investigação.                       
                        Deste modo e ante o acima exposto, o Ministério Público do Estado, por seu Representante legal que o presente subscreve, indefere o pedido de instauração de Procedimentocom fulcro no art. 14, § 2º da Lei nº. 8.429/92, ressalvando a possibilidade de abertura de investigação na hipótese de surgirem novos elementos.
                                    Determino ainda que seja dada ciência do presente despacho ao denunciante a fim de que possa, querendo, exercer seu direito de recurso, nos termos do artigo 5º, § 1º, da Resolução CSMP 001/2012 e após decorrido o prazo da notificação arquive-se.
                                    Determino finalmente que seja retirada cópia do documento de fl. 08 a fim de que sejam analisados os fatos nele constantes para fins de verificar da ocorrência de outras irregularidades cometidas por Suape.
 Ipojuca, 18 de fevereiro de 2014
  Paulo César do Nascimento
Promotor de Justiça
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NO SILÊNCIO DOS MARES

Apesar de banido em mais de 170 países, o TBT, uma das substâncias químicas mais tóxicas já sintetizadas pelo ser humano, é usado clandestinamente nas águas do litoral brasileiro, o que tem provocado severos impactos na fauna marinha.
Revista Ciência Hoje (Publicado em 11/02/2014)
Por: Henrique Kugler
No silêncio dos mares

Tintas tóxicas ainda são indispensáveis à indústria náutica. Usadas para evitar problemas de bioincrustação, elas há décadas ameaçam o equilíbrio dos ecossistemas marinhos. (imagem: Sxc.hu)
Imensidão ora plácida, ora feroz. Assim foram vistos os oceanos da Terra por homens de todas as épocas e todas as latitudes. Mas o azul dos mares revelaria algo mais que profundezas insólitas ou limites desconhecidos. A partir da década de 1980, cientistas de numerosas nações perceberam que a fauna marinha dava um alerta inequívoco: malformações de origem genética em mexilhões; distúrbios hormonais graves em ostras; estranhezas as mais variadas em lulas, polvos e moluscos de diferentes espécies.
O que estaria por trás dessas aberrações? Aos quadros de poluição generalizada a que a civilização subjugava seus mares, somava-se o uso, na navegação, de uma das substâncias químicas mais tóxicas já sintetizadas pelo ser humano: o TBT. Apesar de banido em mais de 170 países, ele ainda é usado, ilegalmente, nas águas do litoral brasileiro.
Cracas, mariscos, algas e todos aqueles bichos grudentos podem reduzir a velocidade de um navio em até 50%. Como? Esses inoportunos animais tendem a se fixar no casco das embarcações, aumentando o atrito entre a superfície flutuante e as águas. Isso prejudica significativamente o desempenho de qualquer barco. E não se trata de um problema moderno – os portugueses já relatavam esses percalços, quando, nas velhas naus, lançavam-se às suas grandes jornadas exploratórias (ver ‘História das cracas’).
História das cracas
“Povos do passado já conviviam com problemas de navegação e sabiam dos reveses causados pelas bioincrustações”, conta Geraldo Magela. Fenícios e cartaginenses, entre 1500 e 1300 a.C., revestiam os cascos de seus barcos com misturas à base de óleo de baleia, chumbo ou cobre. A receita parecia surtir efeito. Tempos depois, pelos idos dos séculos 17 e 18, era corriqueiro o uso de arsênio, mercúrio e cobre para combater os moluscos oportunistas que pegavam carona sem autorização.
Em 1625, o inglês William Beale patenteou o primeiro agente anti-incrustante: era uma mistura de arsênio, cobre e goma em pó. “Mas, a partir de meados do século 18, cascos de madeira foram substituídos por cascos metálicos; isso tornou mais frequente o uso de agentes químicos anti-incrustantes”, diz Magela. A primeira formulação prática de uso amplamente disseminado é de 1854. Ao final do século 19, mais de 300 patentes já haviam sido registradas.
Eis que, para a redenção dos marujos, a ciência do século 20 agraciou o setor naval com uma promissora tecnologia: as tintas anti-incrustantes, também conhecidas como tintas envenenadas. Com biocidas em sua formulação, elas impedem que qualquer forma de vida se acople às superfícies submersas no mar. Navios; boias de navegação; tubulações marinhas; mesmo sofisticados sistemas de exploração de petróleo. “Tudo o que está submerso no oceano é sujeito à incrustação de organismos marinhos”, diz o biólogo Ricardo Coutinho, do Laboratório de Bioincrustação do Instituto de Estudos do Mar Almirante Paulo Moreira (IEAPM). O mercado para essas novas tintas, pois, anunciava-se promissor.
Nos ecossistemas marinhos costeiros, algumas formas de vida passaram a apresentar malformações de origem genética, deformações graves, distúrbios morfológicos e sexuais
Não deu outra. A partir da década de 1950, tintas anti-incrustantes tornaram-se item fundamental para a indústria náutica. Para navios que singravam os mares em longas rotas comerciais, a economia de combustível chegaria a milhões de dólares ao cabo de poucos anos. Com essas novas tintas, empresas de prospecção de petróleo também deixaram de dispender boas cifras na manutenção de sistemas submersos. Era muito dinheiro em jogo.
Mas um singelo detalhe passou despercebido. Em meados da década de 1980, pesquisadores de vários países começaram a perceber que, nos ecossistemas marinhos costeiros, algumas formas de vida passaram a apresentar bizarrices as mais diversas – malformações de origem genética, deformações graves, distúrbios morfológicos e sexuais. Tais estranhezas estavam a acontecer em frequência cada vez maior. Não demorou para que o nexo causal fosse estabelecido. As modernas tintas anti-incrustantes exerciam, de fato, severos impactos na fauna marinha, e o que parecia solução mágica à navegação logo se tornou desafio ecológico sem precedente na história dos mares.

Mares contaminados

As tintas anti-incrustantes usadas a partir da década de 1960 tinham em sua formulação o que os químicos chamam de compostos organoestânicos – aqueles baseados na interação entre átomos de carbono e estanho. Entre eles figura um notório vilão: o tributilestanho, vulgo TBT. É uma das substâncias mais tóxicas já sintetizadas pelo ser humano. “Ela pode afetar processos endócrinos em fêmeas da fauna marinha, fazendo-as adquirir características masculinas como aparecimento de pênis”, explica o químico Geraldo Magela, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). É um distúrbio conhecido como imposex.
Molusco com imposex
Molusco ‘Stramonita haemastoma’ com ‘imposex’ – distúrbio que ocasiona o aparecimento de caracteres masculinos, como pênis e canal deferente, em fêmeas da espécie. (foto: Ítalo Braga Castro)
Os bichos mais afetados – não só pelo TBT, mas por organoestânicos em geral – são os gastrópodes, bivalves e cefalópodes. Caramujos, ostras, mexilhões, lulas e polvos são alguns exemplos (ver ‘Moluscos carismáticos’). “Além disso, o TBT tem sido apontado na literatura científica como supressor imunológico [inibe a resposta do sistema de defesa do organismo] em mamíferos; ele pode estar afetando populações de cetáceos em diversos locais do mundo, pois os torna mais suscetíveis a doenças e parasitas”, afirma o oceanógrafo Marcos Fernandez, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). “Encalhes em massa de golfinhos têm mostrado altas concentrações de TBT nos animais mortos.”
Moluscos carismáticos
Das infindáveis problemáticas ambientais contemporâneas, a questão das tintas anti-incrustantes provavelmente é novidade para o leitor. Dada a gravidade do tema – contaminação química dos oceanos, da vida marinha e do ser humano –, não deveria ele estar na agenda de discussões públicas do país?
A imprensa tem dado pouco ou nenhum espaço à questão. “Talvez porque moluscos não tenham o apelo popular que têm os carismáticos golfinhos e as graciosas baleias, por exemplo”, considera Ítalo Castro. “Mas esses pequenos organismos têm grande importância, pois são bioindicadores”, ensina o pesquisador. Uma vez que apresentam determinada anomalia, todos os demais seres expostos ao mesmo quadro de contaminação podem sofrer danos também. O mais temível dos quadros – que tais contaminantes cheguem ao ser humano – normalmente é mera questão de tempo.
E quanto ao homem? “Amostras de fígado, rim, coração e estômago já revelaram a presença dessa substância no ser humano também; provavelmente devido ao consumo de frutos do mar”, preocupa-se Magela. É o que biólogos chamam de biomagnificação. Substâncias presentes em níveis mais baixos da cadeia alimentar são eventualmente transmitidas em níveis mais elevados – do mexilhão ao ser humano, por exemplo, é apenas um passo. Pois nos alimentamos desses animais. “Estudos in vitro e in vivo com mamíferos têm mostrado que o TBT também oferece potencial de risco a populações humanas”, ressalta Fernandez.

Banimento além-mar

Foi em 1982. Os franceses notaram que tintas anti-incrustantes causavam danos sérios ao cultivo de ostras na baía de Arcachon, sudoeste da França. Assim, proibiram seu uso em embarcações de pequeno porte.
Medidas restritivas também foram adotadas pelos britânicos em 1987; e pelos estadunidenses em 1988. Em 2001, a Organização Marítima Internacional (IMO) aprovou a Convenção Internacional sobre Controle de Sistemas Anti-incrustantes, da qual o Brasil é signatário. Com o documento, mais de 170 países decidiram que o uso do TBT em tintas marítimas estaria proibido a partir de 2003 – as nações teriam prazo de cinco anos para adaptação. Finalmente, em 2008, passou a vigorar o banimento integral. Em janeiro daquele ano, a União Europeia decretou que nenhuma embarcação de grande porte, oriunda de qualquer pátria, poderia adentrar seus portos caso estivesse tratada com tintas à base do famigerado composto químico.
Alguns países, no entanto, perduram alheios à problemática. Com vista grossa às convenções internacionais, Bangladesh, Paquistão, Sri Lanka, Coreia, Taiwan, Malásia e Índia ainda não exercem controle sobre o uso de tintas marítimas protetoras. “Tampouco são signatários de qualquer acordo internacional acerca do tema”, acentua Magela.
No Brasil, é proibido usar TBT na pintura de embarcações. Mas ele é legalmente produzido e comercializado no país para outras finalidades
No Brasil, a Marinha foi a primeira instituição a tomar medidas responsáveis em relação ao tema: nos idos de 2003, suspendera o uso do TBT em todas as suas embarcações. Depois disso, a legislação seguiu na carona, com a publicação da portaria N. 76/DPC, de 30 de julho de 2007.
Quadro atual: por aqui, é proibido usar TBT na pintura de embarcações. “Apesar disso, ele é legalmente produzido e comercializado no país para outras finalidades”, alerta o químico da UFMG. “Inclusive para a produção clandestina de tintas.”

Denúncia

Ciência Hoje noticia algo grave: há prova inequívoca de uso recente de TBT – o mais perigoso dos organoestânicos – em pleno litoral brasileiro.
Com a proibição do uso da substância em atividades navais, esperava-se que os níveis de contaminação nos ecossistemas marinhos fossem cada vez mais diminutos. De fato, tais índices têm decrescido consideravelmente em diversas partes do mundo – inclusive na maior parte do litoral do Brasil. “Entretanto, contrariando as expectativas, pesquisas recentes comprovam aumento da concentração de TBT em áreas próximas a estaleiros e marinas no Sudeste e no Nordeste”, revela Fernandez. As áreas mais críticas são Paraty (RJ), RECIFE (PE) e SUAPE (PE).
O biólogo Ítalo Braga Castro e o oceanógrafo Gilberto Fillmann, da Universidade Federal do Rio Grande (Furg), também constataram resultados semelhantes – não só na costa brasileira, mas em diferentes regiões do litoral sul-americano (segmentos da costa do Peru e da Venezuela, a propósito, são particularmente preocupantes).
Confira o mapa interativo preparado pela CH On-line com as áreas críticas de contaminação por TBT no litoral sul-americano. Ao clicar sobre cada ponto, o leitor tem informações detalhadas sobre os problemas apurados em cada localidade.
Os dados mais recentes foram coletados entre 2011 e 2013. Com técnicas avançadas de cromatografia, a equipe identificou em Paraty quantidades na faixa dos 200 nanogramas de TBT para cada grama (ngSn/g) de amostra de sedimento marinho ou de tecido de molusco. No litoral de Recife, foram cerca de 400; em Suape, 150. São todos valores considerados altos – “suficientes para induzir imposex em algumas espécies da fauna marinha”, alerta Castro. Fillmann confirma que “são números próximos dos níveis críticos, de acordo com os padrões da legislação brasileira”.
Soa o alarme: é certo, portanto, que, apesar da proibição, o TBT continua a ser disseminado ilegalmente nos ecossistemas marinhos.
Mas como? A aposta dos pesquisadores é que ele seja usado clandestinamente na formulação de tintas anti-incrustantes em estaleiros e marinas de pequeno porte, onde a fiscalização tende a ser inexistente ou ineficaz. Mas há um ponto cego na investigação. Pois, segundo os pesquisadores, não há como identificar precisamente a origem do TBT que está sendo emitido de forma ilegal – pois, para isso, seriam necessárias aferições diretas nos cascos de cada uma das embarcações que circulam pelas áreas avaliadas.
“É bastante provável que estaleiros e marinas façam seus ‘coquetéis’ de biocidas para pintar as embarcações; e sobre isso não há controle”, aponta Gilberto Fillmann. Agravante: no Brasil, tintas anti-incrustantes não referenciam no rótulo os biocidas contidos na formulação. “Nem os próprios estaleiros sabem o que estão usando”, diz o oceanógrafo da Furg. “Mas é certo que as grandes empresas do setor, que dominam 95% desse mercado, não usam mais TBT”, garante Ricardo Coutinho. “Quanto a empresas de fundo de quintal, no entanto, nada podemos garantir.”
Porto de Suape
No complexo portuário de Suape (PE), pesquisadores supõem que o TBT seja usado nas pequenas embarcações que prestam suporte às operações. (foto: Suape/ Divulgação)
No Brasil, um dos principais fabricantes de TBT é a Cesbra Química S.A. Detalhe: ela o faz à beira do rio Paraíba do Sul, fonte majoritária de abastecimento de água para a capital carioca. “Jamais entendi o processo de licenciamento ambiental desse empreendimento”, matuta Fernandez. A reportagem procurou a empresa – indagando-a sobre como anda o fluxo de produção e comércio de organoestânicos. Por email, uma resposta lacônica: “No momento estamos totalmente voltados para a produção de biodiesel”.
Se for verdade, o sítio da companhia na internet está desatualizado. Pois nele consta o rol de produtos que ela comercializa; e o TBT é um deles. “O Óxido de Tributilestanho Cesbra é um produto químico orgânico de estanho, fabricado sob rigoroso controle de qualidade e com alto poder biocida contra fungos, bactérias e algas”, lê-se na página virtual da empresa. Lá o cliente ainda encontra uma curiosa indicação de uso: “É utilizado em tintas como agente anti-incrustante.”

Rotas alternativas

“O setor náutico se vê em uma verdadeira sinuca”, revelam os pesquisadores. Não há alternativa totalmente segura para substituir as tintas à base de TBT. “Existem atualmente 20 biocidas em uso na indústria naval”, contabiliza Fernandez. Todos permitidos por lei. Em termos de ecotoxicologia, porém, estão longe de ser soluções ideais (ver ‘Rede’). “Alguns são derivados de defensivos agrícolas; são compostos organoclorados, ou organometálicos de cobre, zinco e manganês; há também triazinas”, elenca o oceanógrafo da Uerj.
Rede
Doze universidades brasileiras estão envolvidas na investigação do impacto das tintas anti-incrustantes – sob os auspícios da Rede Nacional de Estudos em Anti-incrustantes (RNEA), liderada por pesquisadores da Furg e financiada pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep). Em novembro último, o grupo se reuniu em Rio Grande (RS) para finalizar a primeira etapa de um audacioso projeto: o levantamento de dados de toda a costa brasileira que resultou no panorama mais completo já elaborado no país acerca da problemática dos anti-incrustantes.
Outro caminho possível é o uso de compostos à base de silicone ou teflon. Funcionam a contento, em princípio, mas tornam-se dispendiosos e pouco práticos uma vez que são frágeis e requerem substituição frequente. Há, ainda, uma terceira via, que é a utilização de biocidas naturais. Diversos vêm sendo testados. Mas resultados práticos replicáveis em escala industrial ainda são utopia.
Há outra alternativa, digamos, um tanto mais ousada. “É simplesmente o não uso de substâncias químicas anti-incrustantes”, cita Fernandez. Segundo ele, existem esquemas construtivos que, com base em princípios físicos, podem dar conta do recado. “Abordagens alternativas como microrrugosidades na superfície de contato podem formar uma espécie de barreira física para a fixação dos organismos marinhos”, explana o pesquisador.
Superfície com bioincrustação
Superfície acometida por bioincrustação. Biólogos acreditavam que espécies exóticas invasoras eram transportadas na água de lastro dos navios. Mas, na verdade, mais de 60% da fauna invasora viaja na forma de bioincrustação. (foto: Wikimedia Commons)
No mundo, há mais de uma centena de grupos de estudo dedicados ao combate a bioincrustações. “É um problema de difícil solução que acompanha a humanidade desde que ela começou a navegar”, diz Coutinho. “Infelizmente, não temos perspectiva de curto prazo para solucionar esse desafio.”

Globalização: a via marítima

Interessante lembrete geopolítico: “A globalização cultural e econômica é feita pela internet; mas a globalização física é feita a navio”, pondera Fernandez. Dinheiro e influências imateriais transferem-se por vias eletrônicas, é verdade. Mas minérios, grãos, equipamentos e produtos em geral são transferidos entre as nações quase sempre por navio.
“Por isso, as embarcações são os agentes físicos da globalização.” Em um mundo cada vez mais globalizado – para o bem e para o mal – é evidente que esses fluxos serão cada vez mais intensos. “E tem seus cascos envenenados a maior parte dos grandes navios que hoje singram os mares da Terra.”
Esta reportagem, publicada na CH 311, inaugura a série especial ‘Oceanos envenenados’, que irá ao ar esta semana na CH On-line. Clique no ícone a seguir para baixar o arquivo em PDF do texto. PDF aberto (gif)
Henrique Kugler
Ciência Hoje/ RJ
Sugestões de leitura
CASTRO, I.B., WESTPHAL, E.; FILLMANN G. ‘Tintas anti-incrustantes de terceira geração: novos biocidas no ambiente aquático’ in Química Nova. Vol. 34, n. 6, 2011.
ALMEIDA, E.; DIAMANTINO, T.; SOUSA, O. ‘Breve história das tintas antivegetativas’ in Corrosão e protecção de materiais. Vol. 26, n.1, 2007.
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