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SUAPE

DEMISSÕES EM SUAPE

Demissões em Suape afetam ritmo do comércio varejista no Grande Recife

Constatação foi feita em pesquisa que avaliou expectativas para fim do ano.
No pico das obras, Refinaria teve 47 mil operários; atualmente são 22,5 mil.

Renan Holanda Do G1 PE 11/12/2014 

Comércio no Centro do Recife na véspera do Dia dos Pais (Foto: Reprodução/ TV Globo)

Consumidor da RMR deve gastar, em média, R$ 784 com
as compras de fim de ano (Foto: Reprodução/ TV Globo)
Protestos e seguidas audiências na Justiça trouxeram à tona o impasse envolvendo as demissões em massa de operários que atuaram em grandes empreendimentos no estado, sobretudo no Complexo de Suape, no Grande Recife. Esse processo de desmobilização de mão de obra, no entanto, tem gerado repercussão negativa não só entre os milhares de trabalhadores afetados: o mercado consumidor da Região Metropolitana também sentiu o baque. Pelo menos é o que aponta uma sondagem do Instituto Fecomércio com as expectativas do comércio varejista para este fim de ano. Nesta quinta (11), operários que atuaram na construção da Refinaria Abreu e Lima começaram a acertar as rescisões dos contratos de trabalho.
De acordo com o estudo, a própria conjuntura econômica nacional, com crescimento da inflação e queda no ritmo de crescimento da renda, tem afetado o ritmo no varejo. Em Pernambuco, a conclusão da fase de implantação de empreendimentos estruturadores em vários municípios se soma a esses fatores, já tendo afetado o ritmo de vendas no meio do ano. Um levantamento feito pelo Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias de Construção de Estradas, Pavimentação e Obras de Terraplenagem em Geral (Sintepav-PE) a pedido do G1 constatou que, apenas no segundo semestre de 2014, cerca de 5 mil demissões, a maioria de Suape, foram homologadas na sede da entidade, na Zona Oeste do Recife.
Segundo o sindicato, esse quantitativo é ainda maior, já que o levantamento não incluiu as demissões homologadas em subsedes como Ipojuca e Salgueiro, por exemplo. “A Alusa [terceirizada que presta serviço a Petrobras] mesmo não vem recebendo os créditos e por conta disso são quase 5 mil trabalhadores sem receber. Tudo isso causa um grande impacto, atrasa as contas, não tem como gastar no comércio em pleno final de ano”, lamenta o presidente do Sintepav-PE, Aldo Amaral. Entre setembro e outubro, foram 4,7 mil desligamentos na Alusa.
O estudo da Fecomércio revelou que o valor médio que o consumidor pernambucano deve gastar com as comemorações de fim de ano é de R$ 922,80. Na Região Metropolitana do Recife, contudo, esse valor cai para R$ 784. Em Salgueiro, onde também há grandes empreendimentos sendo tocados, a quantia é ainda menor: R$ 718,33. Na cidade, as obras da Transposição já cortaram algo em torno de 400 trabalhadores desde outubro. Diariamente, entre dez e 15 operários são demitidos. No quesito expectativas de compra, os municípios do Agreste ficaram nas melhores posições. Em Garanhuns, o valor médio que o consumidor pretende gastar é de R$ 1.405,77. Santa Cruz do Capibaribe vem logo em seguida, com R$ 1.057,48.
Gráfico descreve o valor médio que os consumidores pretendem gastar com as compras de fim de ano (Foto: Reprodução)Gráfico descreve o valor médio que os consumidores pretendem gastar com as compras de fim de ano (Foto: Reprodução)
Para o coordenador da pesquisa, o economista e consultor da Ceplan, Osmil Galindo, outro fator importante envolvendo a desmobilização de mão de obra precisa ser levado em conta. “A maioria desses trabalhadores veio de fora, e muita gente voltou de onde veio. Muita gente da Refinaria veio da Bahia, tem muita mão de obra que veio do interior. Eles voltam para as terras deles. Talvez o comércio estivesse um pouco despreparado para isso”, explica. Galindo também lembra que, embora as atenções estejam muito voltadas para Suape, o município de Goiana também deve passar pelo mesmo problema. Segundo ele, a indústria de vidros Vivix já concluiu a sua fábrica e o mesmo aconteceu com as primeiras etapas da instalação da Hemobrás.
Mesmo com todos esses problemas, os empresários do varejo pernambucano tentam manter o otimismo. No primeiro fim de semana de dezembro, que caiu exatamente junto a um feriado na segunda-feira no Recife (Dia de Nossa Senhora da Conceição), as vendas foram satisfatórias. “O mês começou bem. A gente sabe que só dá para tirar uma média quando o mês acaba, mas esse início positivo já é um termômetro do que deve vir pela frente”, comemora o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) do Recife, Eduardo Catão.
A pesquisa encomendada pela Fecomércio, por outro lado, revela um certo ceticismo do empresariado no que diz respeito à expectativa de vendas para este fim de ano com relação a 2013. A maioria acredita que as vendas serão menores ou, no melhor cenário, iguais ao ano passado. Em média, a expectativa de alta para dezembro é de somente 3,2%. Com relação ao balanço total do ano, os empresários acreditam que o resultado deve ficar 1,5% inferior ao alcançado em 2013.
Futuro
Com a conclusão desses grandes empreendimentos, não só há a desmobilização da mão de obra como também uma mudança no perfil dos novos trabalhadores, mais qualificados e especializados. Na Refinaria Abreu e Lima, as obras já atingiram 90,66%, segundo dados de outubro. De acordo a Petrobras, 22,5 mil trabalhadores atuam na obra. O pico máximo de ocupação, em 2012, foi de 47 mil operários.
No início do mês, o governador João Lyra Neto (PSB) se comprometeu a tentar interceder pelos funcionários que prestaram serviço na construção da Refinaria, ainda que o poder público estadual não seja responsável diretamente pela questão. O governo mostrou disposição também em acionar a Secretaria de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos para ver o que pode ser feito pelos trabalhadores que estão sem ter onde morar.
“Nós vamos ver os caminhos que podemos trilhar para poder ajudar a construir uma estratégia junto ao Tribunal Regional do Trabalho e ao Ministério Público do Trabalho. É preciso encontrar uma solução, vamos percorrer todas essas instâncias”, disse o governador na ocasião.

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