O Fórum Suape promoveu um debate sobre a civilização do Petróleo e a lógica do desenvolvimento pautado em mega empreendimentos como o Complexo de Suape. Todos os exemplos semelhantes capazes de em determinado momento gerar o boom do desenvolvimento, também trazem em si a paradoxal capacidade de gerar grandes bolsões de frustração e depressão, de acentuar a desigualdade e a miséria.
Em geral tais empreendimentos buscam vender uma imagem que o coloque no rol das iniciativas
“modernas”, sustentáveis e mitigadoras dos impactos ambientais. Navegando pelo site do CIPS podemos observar muito bem esse esforço de amenizar a imagem de empresa causadora de enormes impactos ambientais. Ao mesmo tempo que a poluição das águas ou a ação da dragagem vem causando danos irreparáveis aos organismos da fauna marinha e estuarina, o CIPS procura demonstrar através da sua Diretoria de Meio Ambiente e Sustentabilidade que tem trabalhado no desenvolvimento de protocolos que, por exemplo, apresentem orientações gerais de procedimentos de compensação e mitigação dos impactos ambientais.
A página do CIPS na internet também vende a imagem de como a empresa promove a sustentabilidade das operações de gestão de resíduos sólidos, bem como preserva o meio ambiente e a qualidade de vida da população, contribuindo com soluções para os aspectos sociais, econômicos, sanitários e ambientais envolvidos na questão. No entanto, na comunidade de Cepovo encontramos um ponto de lançamento de efluente que recebe água de uma Estação de Tratamento de Esgoto da Compesa. A água de tom esverdeado está matando mariscos, siris, guaiamuns, caranguejos, peixes. Na unidade de tratamento de esgoto de Gaibu a vazão processada é de 12 a 14 litros por segundo. O tratamento do esgoto é realizado em dois reatores anaeróbicos de fluxo ascendente com cinco difusores cada, num período de sete a oito horas de retenção. Em seguida é enviado a uma lagoa primária e retido durante sete dias, depois é canalizado para uma lagoa secundária ou lagoa de maturação e daí é despejado diretamente no Riacho Tiriri.
O processo de tratamento chega a eliminar de setenta a noventa por cento de coliformes fecais. Periodicamente, no Riacho Tiriri são realizadas coletas à jusante e montante, sendo medidos parâmetros como DBO, condutividade, PH, oxigênio diluído, temperatura e sólidos em suspensão. Visitamos a Lagoa do Cavalo, jusante do ponto de lançamento da unidade de tratamento de esgoto, tudo o que é despejado nesse ponto vai direto para o Rio Massangana. O alto índice de poluição está destruindo todas as espécies marinhas que antes serviam como ganha pão da população pescadora da região. A fiscalização é feita a cada dois meses pela CPRH, agência estadual de meio ambiente, porém a falta de transparência e de informação leva a comunidade ao desconhecimento e ao receio das pessoas em relação ao tratamento do esgoto e a qualidade da água.
Na maioria dos discursos oficiais é decantada a importância econômica do Complexo de Suape. Sabemos que o CIPS é maior do que muitas cidades, no tamanho, e na participação do produto interno bruto do Estado de Pernambuco. Ocupa uma área de 13.500 hectares, com 28 comunidades (engenhos) e a presença de 7 mil famílias. “O Complexo Industrial Portuário de Suape desenvolve diversas ações no seu território, a fim de garantir que os três pilares da sustentabilidade (social, econômica e ambiental) coexistam e interajam, colaborando com o crescimento econômico de Pernambuco”, afirma a propaganda enganosa oficial. Mas é inegável que ao longo dos anos este empreendimento tem deixado um rastro de violência contra as pessoas que já moravam no território, que mantinham modos de vida integrados com o ambiente e com a natureza local.
Agricultores e agricultoras foram expulsos e perderam suas terras diante da violência praticada pelo CIPS. Efeitos da falta de transparência, falta de diálogo, da mentira e da violência foram e são constantes, deixando enorme passivo ambiental e frustrações. Verificou-se o aprofundamento das demandas sociais, a favelização, o desemprego, da violência e da crise nas cidades do entorno do Complexo. Qual o preço a ser pago por essa civilização do petróleo? É possível pensar e aprofundar a busca de outras matrizes e fontes energéticas que não poluam nem destruam a natureza? Qual a saída ou quais as saídas?
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