O estuário da Bacia do Pina, confluência de quatro rios que cortam o Recife, está contaminado por derivados de petróleo. Pesquisadores da Universidade Federal de Pernambuco encontraram no local hidrocarbonetos aromáticos, substâncias que podem provocar câncer, em quantidades até sete vezes acima do permitido. Um alerta, segundo eles, para as agências de controle ambiental, hoje, Dia Mundial da Água.
O Rio Tejipió é o que apresenta índices mais elevados de compostos aromáticos, de acordo com o levantamento, feito por equipe dos Departamentos de Zoologia e Oceanografia da UFPE. O valor aceitável desse tipo de hidrocarbonetos, segundo a literatura científica, é de um micrograma por litro. Na desembocadura do Tejipió, a quantidade chegou a 7,41 microgramas por litro.
A coordenadora da pesquisa, a química Eliete Zanardi Lamardo (foto), lembra que o Tejipió corta o Distrito Industrial do Curado, em Jaboatão dos Guararapes, município vizinho ao Recife. Segundo ela, hidrocarbonetos aromáticos são provenientes de efluentes de indústrias e também domésticos. Lava-jatos, limpeza de motores, troca de óleo de automóveis e máquinas estão entre as fontes poluidoras.
As amostras foram recolhidas em nove estações, no período seco e no chuvoso, sempre na maré vazante. Dessa forma, os pesquisadores evitaram que a diluição provocada pela água do mar, que entra no estuário na maré alta, interferisse no levantamento. Os resultados fazem parte do trabalho de conclusão do curso da bióloga Nicole Favrod, ano passado.
Os pontos de coleta diretamente relacionados aos rios são a foz do braço do Capibaribe, do Tejipió, do Jordão e do Pina. Os outros estão na altura do descarte da Estação de Tratamento de Esgoto da Companhia Pernambucana de Saneamento (Compesa) na Cabanga, numa das marinas de Brasília Teimosa, na foz do Capibaribe e Beberibe, nos armazéns do Porto do Recife e na boca da barra, por onde os navios entram e saem.
Para surpresa dos pesquisadores, a análise da amostra coletada no porto não indicou índices elevados de hidrocarbonetos de petróleo dissolvidos na água. “Isso não quer dizer que a movimentação dos navios não contribua, mas que os índices desses compostos aromáticos nos efluentes industriais e domésticos dos rios é maior”, explica Eliete, coordenadora do Laboratório de Compostos Orgânicos em Ecossistemas Costeiros e Marinhos (OrganoMAR), do Departamento de Oceanografia da UFPE.
Os resultados, na opinião da pesquisadora, devem ser levados em consideração pela Agência Estadual de de Meio Ambiente (CPRH) e Compesa. “É necessária a realização de estudos sobre a ecotoxicidade em animais aquáticos”, sugere Eliete, “além do monitoramento sistemático desses compostos na região”.
EFEITOS
Hidrocarbonetos aromáticos, além de indicadores de poluição por petróleo, têm reconhecida ação carcinogênica. Resultados preliminares de estudos feitos com peixes na UFPE mostram que esses compostos influenciam ainda no comportamento dos animais. A substância, afirma Eliete, interfere na natação dos peixes, causando uma espécie de desorientação.
Outro efeito observado está relacionado ao sistema visual. “Se não enxerga direito, o animal não é capaz de identificar suas presas, o que dificulta a alimentação, e também seus predadores, o que o torna mais suscetível à predação”, detalha. Nos testes, realizados no Laboratório de Ecotoxicologia Aquática da UFPE, vinculado ao Departamento de Zoologia, o composto é colocado na água. A absorção pelos peixes se dá pela respiração, feita nas brânquias.