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Pescadores e quilombolas bloqueiam acesso a SUAPE por 6 horas: Entenda o que tá em jogo

Pescadores e quilombolas bloqueiam acesso a SUAPE por 6 horas: entenda o que tá em jogo
Foto: Arnaldo Sete/marco Zero.

Na manhã de ontem (4), cerca de 150 pescadores do Cabo de Santo Agostinho e Ipojuca e quilombolas da Comunidade de Mercês realizaram protesto contra SUAPE e empresas instaladas no Complexo Industrial Portuário. Durante 6 horas trancaram as vias de acesso ao Porto, na Curva do Boi, reivindicando serem escutados em um conjunto de cinco pautas, organizadas em formato de carta.

Os manifestantes denunciavam violações de direitos e crimes por parte de SUAPE e empresas, como despejo de efluentes em rios, dragagens em períodos ilegais e ações de reintegração de posse contra moradores do Quilombo de Mercês e de outras comunidades que existem na área desde muito antes da instalação do Complexo.

Foto: Chico Ludermir/Fórum Suape
Foto: Chico Ludermir/Fórum Suape

Dentre as demandas, pescadores exigiam o pagamento do auxílio dragagem para 89 trabalhadores da pesca que tiveram seus pedidos indeferidos e os quilombolas demandavam a garantia de permanência, frente às ameaças de projeto “Raízes em Movimento” que prevê a remoção de toda a comunidade de seu território.

Diante da intransigência de SUAPE para negociação, o ato, que se iniciou às 6h, estendeu-se até o meio dia. Sob ameaça de intervenção do Batalhão de Choque da Polícia Militar, uma comissão formada por 15 pessoas, entre pescadores, quilombolas e membros do Fórum Suape se reuniu com a direção da empresa, no Centro Administrativo. A partir de então, o trânsito foi liberado.

Na reunião, foi deliberado um calendário de encontros que começa na próxima sexta-feira (8), debatendo o projeto “Raízes em Movimento”. Além disso, a ata do documento assinada por representantes de ambas as partes determina que SUAPE solicitará uma reunião com a presença do Ministério Público Federal para acompanhar as tratativas para o pagamento de todos os 89 pescadores e encaminhar o pagamento dos auxílios.

O transtorno de um dia “útil” de SUAPE não é nada comparado ao impacto na vida das comunidades afetadas por suas obras. Pescadores perderam sua subsistência, manguezais foram devastados, rios estão sendo poluídos e um quilombo tem seu território ameaçado.

Enquanto os diretos estiverem sendo violados, protestar é um dever.

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Curso de Formação de Juristas Populares: Conhecendo os nossos direitos socioambientais e defendendo nossos territórios

Estamos felizes que você chegou por aqui 🌻

O “Curso de Formação de Juristas Populares: conhecendo os nossos direitos socioambientais e defendendo nossos territóriosé um espaço promovido pelo Fórum Suape para a formação de lideranças e moradores/as dos territórios afetados pelos empreendimentos instalados no Complexo Industrial Portuário de Suape (CIPS): pescadores/as artesanais, agricultores/as, extrativistas e quilombolas. Vamos discutir temas relacionados aos direitos das comunidades frente ao avanço predatório do poder econômico sobre os territórios, tais como: o direito à consulta e ao consentimento prévio, livre, informado e de boa-fé; procedimentos de licenciamento ambiental de grandes empreendimentos; direitos de comunidades tradicionais; racismo ambiental; monitoramento popular em meio ambiente e saúde; mudanças climáticas e transição energética.

A iniciativa é completamente gratuita e busca contribuir com a luta desses/as defensores/as de direitos humanos, incentivando processos autônomos de construção política, a qualificação da atuação desses atores nos espaços de poder e a replicação dos saberes nos seus territórios, visando o fortalecimento coletivo de toda a comunidade.

Haverá ajuda de custo para a passagem dos participantes e certificação para àqueles que participarem de quatro dos cinco encontros.

🗓️ O curso vai acontecer em cinco encontros realizados presencialmente no auditório do Centro das Mulheres do Cabo, entre os meses de fevereiro e abril.

 ⚠️ As vagas são limitadas e será dada prioridade aos/às moradores/as das comunidades afetadas pelos empreendimentos instalados no Complexo Industrial Portuário de SUAPE (CIPS).

Vamos juntos e juntas?

Se precisar de auxílio para inscrição, procure o @ForumSuape no Instagram e nos mande uma mensagem, que estamos prontos para te ajudar

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Para atrair empresas para SUAPE, a prefeitura do Cabo sacrifica os cofres públicos e o povo cabense

A Prefeitura do Cabo de Santo Agostinho apresentou um projeto de lei municipal que prevê a criação de incentivos fiscais para empresas que vierem a se instalar na Zona Industrial do Complexo de Suape. 

O Projeto de Lei de n.º 26, de 06 de novembro de 2023, apresentado à Câmara de Vereadores para ser votado, isenta parcialmente as empresas do Complexo de pagarem impostos durante o período de 1º de novembro de 2023 a 31 de dezembro de 2038. São mais de 15 anos de isenção. No caso de alguns impostos, como, por exemplo, o IPTU, a isenção chega a 50%.

Para serem contempladas pelo benefício, o Projeto de Lei determina apenas que as empresas destinem um pequeno valor para projetos promovidos pelo Município do Cabo, no âmbito da cultura e dos esportes e para um fundo de proteção aos direitos das crianças e adolescentes.

A concessão de isenções fiscais é uma prática comum adotada por governos e consiste em abrir mão de receber impostos para atrair empresas. O esperado é que os ganhos indiretos possam compensar a diminuição do valor arrecadado em imposto. No entanto, isso dificilmente acontecerá a partir do referido Projeto de Lei.

O Cabo de Santo Agostinho é o município mais afetado pela instalação de empresas no Complexo de Suape, porque é nele onde se situa a maior parte do parque industrial. Há décadas, comunidades e entidades da sociedade civil denunciam graves impactos no campo da segurança pública e do direito à moradia decorrentes da instalação e expansão  do Complexo. Grandes indústrias, como a refinaria Abreu e Lima, promoveram a migração em massa de pessoas de todo o país para trabalharem como mão-obra precarizada na construção civil. Esse boom populacional, bem como a expulsão de comunidades para a instalação dessas empresas,  ocasionaram uma sobrecarga nos serviços públicos, um grave déficit habitacional e, consequentemente, uma queda na qualidade de vida local e um aumento exorbitante da violência. Desde os anos 2000, o Cabo está no ranking dos municípios mais violentos do Brasil, segundo o Mapa da Violência. Além disso, as obras de infraestrutura do Porto de Suape e a instalação de indústrias de grande porte também sacrificam vastas áreas de mata atlântica, restinga e mangue, além de afetarem o ecossistema marinho e habitat de espécies em extinção.

PL beneficia a instalação de farmacêutica em áreas de sítios no Engenho Jurissaca

A criação do Projeto de Lei coincide também com o anúncio da vinda da indústria farmacêutica Blau ao Complexo de Suape para ser instalada, mais especificamente, no Engenho Jurissaca, definido pelo Plano Diretor da empresa SUAPE como Zona Industrial. Enquanto a Prefeitura pretende facilitar a instalação da empresa farmacêutica na localidade, a comunidade do Engenho Jurissaca aguarda desde 2011 o pagamento de indenização pelos seus sítios. Em 2011, SUAPE prometeu indenizá-las e reassentá-las para que saíssem de seus sítios, diante das tratativas para instalação de uma siderúrgica na área. A siderúrgica acabou não se instalando e SUAPE recusou-se a pagar as indenizações, apesar de ter chegado a determinar a saída das famílias. Algumas saíram, na esperança de serem indenizadas em 90 dias, e outras permaneceram. As que permaneceram na terra, no entanto, relatam que vêm sendo sistematicamente impedidas de continuarem a usar seus sítios. As famílias são tratadas como se nunca tivessem existido ali. 

Contrapartidas substanciais são necessárias

Percebemos, portanto, que, historicamente, o ônus suportado pelo Município do Cabo e pelos cabenses com a vinda do Complexo Industrial Portuário de Suape é bastante significativo. A gestão do Cabo age como uma anfitriã permissiva, que oferece o que tem de melhor a quem só quer bagunçar toda a casa  e não se responsabilizar por nada. Quem no final paga essa conta é o povo cabense, as comunidades diretamente desalojadas e o meio ambiente. 

Ao não cobrar imposto de empresas que pretendem faturar milhões no Complexo de Suape, menos dinheiro o Município arrecada para destinar a ações voltadas à população.

É preciso mudar de postura e cobrar a fatura de décadas de degradação social e ambiental promovida pelo Complexo de Suape e pelas empresas nele instaladas. É preciso condicionar a instalação de novos empreendimentos a contrapartidas que envolvam investimentos maciços em moradia, educação, saúde, segurança pública e preservação ambiental. E, no caso da farmacêutica Blau, que se beneficiará desse projeto de Lei, que se exija, para a sua instalação, a regularização da situação das famílias de Jurissaca.

 

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Jurissaca cobra fim das violações a SUAPE

Moradores do engenho foram à sede da empresa reivindicar justiça e pagamento de indenizações

Na tarde desta terça-feira (5/12), uma comissão de nove agricultores e agricultoras do Engenho Jurissaca, no Cabo de Santo Agostinho, compareceu à sede administrativa da empresa SUAPE, onde foram recebidos pelo diretor-executivo de gestão fundiária, Paulo Teixeira. A Comissão estava acompanhada do vereador e presidente da Câmara Legislativa do Cabo, Ricardinho, do advogado Ezequiel e da presidenta da Sociedade de Pequenos Agricultores de Ponte dos Carvalhos, Vera Domingos.

A reunião teve como objetivo tratar – mais uma vez – sobre a situação insustentável pela qual vêm passando, há 13 anos, famílias do Engenho Jurissaca, impedidas injustamente por SUAPE de exercerem os direitos de posse no local. Os agricultores e agricultoras presentes narraram as injustiças pelas quais vêm passando, que são fruto de abusos e negligências das várias gestões que assumiram a empresa ao longo dos últimos anos, e reivindicaram, novamente,  o fim das violações praticadas por SUAPE e o direito de serem indenizadas para poderem reconstruir suas vidas em outro local.

“São histórias de pessoas que se entregaram a vida toda à terra e à agricultura, e que se veem desprezados e desrespeitados por SUAPE. Nós seguiremos na luta”, afirmou Vera Domingos, representante dos moradores do Engenho. O diretor da empresa se comprometeu a receber os agricultores em uma nova reunião no próximo dia 14/12, para dar um retorno às reivindicações da comunidade.


Entenda o caso:

Trabalhadores protestam contra privatização ilegal em Maracaípe

O Fórum Suape está acompanhado o caso.
Acompanhe junto com a gente.

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Trabalhadores protestam contra privatização ilegal em Maracaípe

Em audiência pública realizada na última segunda-feira (27/11), pescadores denunciaram construção de muros e perseguição em praia do Litoral Sul

Na manhã da última segunda-feira (27/11), na Câmara de Vereadores de Ipojuca, aconteceu a audiência pública para tratar sobre os muros cercamentos construídos de forma irregular no Pontal de Maracaípe em áreas que configuram terras públicas da União e áreas de preservação permanente (APPs). Na audiência, grupos de pescadoras, barraqueiros e jangadeiros relataram a privatização do manguezal e de áreas de praia pela família Fragoso, que, além de ser uma grande proprietária de terras no município, possui diversos empreendimentos do ramo hoteleiro. 

“O mangue está fechado. Nós nos sentimos encurraladas. Precisamos agora percorrer uma distância imensa para pescar, porque não podemos mais usar os atalhos dentro do mangue. Esse caminhos são usados por nós há gerações, pelos nossos pais e nossos avós”, desabafou Helena Nascimento, conhecida como Leninha, pescadora artesanal, durante a audiência. Além da privatização, os relatos também apontaram violências e coações. Os moradores locais denunciaram a presença de homens armados circulando nesse território, como uma forma de intimidar e reforçar o impedimento ilegal imposto às comunidades pesqueiras e a outros moradores e trabalhadores.

O conjunto de depoimentos evidenciou  ainda um processo de criminalização de lideranças, numa tentativa de minar a luta comunitária. O barraqueiro conhecido como Betinho sofreu uma ação penal para não se aproximar da área e anda hoje com uma tornozeleira eletrônica. Ana Paula, barraqueira, manifestou seu inconformismo: “Há muito tempo venho me sentindo ameaçada e encurralada. Queremos apenas o direito de trabalhar”.  

“Estamos diante de uma conduta que viola o direito tradicional de passagem e o direito de usar e usufruir bens naturais localizados em terras públicas, direitos esses que são exercidos por gerações e gerações de pescadores e pescadoras”, analisou Mariana Vidal, advogada e integrante da coordenação executiva do Fórum Suape, que também participou do debate. Aos gritos de aclamação, Mariana instou o Município de Ipojuca e a CPRH a exercerem seu poder de polícia para promover a demolição de um muro construído ilegalmente em meio ao mangue e restaurar a passagem na região. “Essa é uma tentativa de usurpar territórios coletivos para transformá-los em patrimônio particular, concentrando para si o acesso à terra, à água e à paisagem natural”, completou a advogada. 

Presente na audiência, a Senadora Teresa Leitão se comprometeu a levar a questão à Secretaria do Patrimônio da União e ao Ministério da Pesca. Já a CPRH, diante de diversos questionamentos, firmou o compromisso de rever posicionamentos quanto à autorização concedida para a construção de um dos muros que vem gerando o cerceamento de passagem.

Veja a transmissão completa da audiência a seguir:

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Ativistas negras vão à COP 28 em Dubai para propor soluções para a crise climática

Um grupo de ativistas negras brasileiras, que compõem a Rede Vozes Negras pelo Clima, irá à COP, que, em sua 28.ª edição, acontece em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, de 30 de novembro a 12 de dezembro. Com o apoio da Anistia Internacional Brasil, o grupo é formado por lideranças femininas de favelas, de quilombos, de OSCs e de comunidades pesqueiras, ribeirinhas e afro-religiosas, e busca ser uma plataforma para ampliar as vozes de mulheres negras diretamente atingidas pela crise climática e pelo racismo ambiental. O Fórum Suape faz parte da rede por meio da sua Coordenadora Geral Simone Lourenço.

Elas têm muito a dizer, propor e agir. Suas vivências, histórias e propostas precisam estar presentes nas respostas à crise climática e ao racismo ambiental.

A Rede Vozes Negras pelo Clima teve início em de março de 2023, mês que marca as lutas das mulheres no mundo inteiro por justiça e igualdade. Os ciclos de encontros de compartilhamento de conhecimentos e informações entre todas as suas participantes incentivou-lhes a levar o debate ao maior evento de discussão climática do mundo, a Conferência das Partes (COP) da Organização das Nações Unidas, além de outros espaços de debates e decisões.

Uma delegação formada por nove mulheres negras, de oito estados do Brasil, está se preparando para ir à Dubai, pautar o racismo e o sexismo ainda tão presentes e propor soluções já empregadas em seus territórios para o enfrentamento à crise climática. Nas palavras das mulheres que compõem a rede, a crise climática tem cor, gênero e endereço e são as mulheres que carregam a crise climática nas costas.

O Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) divulgou em outubro o resultado da seleção de painéis que deverão integrar a programação do Pavilhão Brasil na COP 28. A rede Vozes Negras pelo Clima e a Anistia Internacional Brasil ficarão responsáveis pelo Painel “Nada sobre nós sem nós: perspectivas de Mulheres Negras sobre raça, gênero e território na elaboração das políticas de ação climática com justiça racial e socioambiental”, que acontecerá no dia 03 de dezembro.

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Jurissaca: há mais de 10 anos lutando por dignidade, contra os abusos de SUAPE

As famílias agricultoras do Engenho Jurissaca, distrito de Ponte dos Carvalhos, no Cabo de Santo Agostinho, vêm pelejando há mais de uma década na luta por dignidade. Vivendo há anos sob o jugo de SUAPE e sendo submetidas a uma série de humilhações e abusos, as famílias vêm se organizando para dar um basta.

Segundo elas, SUAPE destrói plantações, tapa cacimbas d’água, impede a instalação de energia elétrica, destrói cercamentos dos sítios e permite que bois (introduzidos na área por pessoas desconhecidas) transitem livremente e destruam as suas plantações. Para agravar essa situação, a instalação de empresas nas proximidades, como a Achè e a Cone, provocou o aterro de cursos d’água e a alteração do sistema natural de drenagem da área, fazendo com que a água da chuva, que antes tinha para onde escoar, hoje fique represada, inundando por meses o território e impedindo as famílias de plantarem. “Nós só temos outubro, novembro e dezembro para plantar, e janeiro e fevereiro para colher. Nos outros meses do ano, fica tudo alagado”, afirmou Maria, agricultora de Jurissaca. Segundo Vera, presidenta da Sociedade de Pequenos Agricultores de Ponte dos Carvalhos, “a água fica ‘morando’ meses nos nossos sítios, e isso é algo que se intensificou de 2018 para cá”.

visita da articulação

A situação, que antes já era difícil, se tornou insustentável, e os posseiros de Jurissaca vêm reivindicando há anos uma indenização justa para poderem reconstruir suas vidas como agricultores em outro local, onde possam ter paz e dignidade. SUAPE, no entanto, ao mesmo tempo em que torna a vida das famílias insuportável no local, vem se recusando a pagar-lhes uma indenização, com o intuito de forçá-las a sair do local sem receber nada.

Essa é uma tática que a empresa utiliza largamente sobre os territórios para os quais quer se expandir. Inviabiliza de todos os modos possíveis a vida da comunidade, impedindo-a inclusive de exercer o seu ofício tradicional (seja agricultura ou pesca) e de ter acesso a direitos básicos, como água e energia elétrica. Foi assim em Tatuoca, Serraria, Massangana, Boa Vista, Mercês e muitos outros. E é assim em Jurissaca. O que agrava a situação é que o relevo e o sistema de drenagem foi alterado com a instalação de empresas, e o território permanece a maior parte do ano inundado, impossibilitando o plantio.

Esse cenário de injustiças e violações, que permanece impune por todos esses anos, foi compartilhado com o Prefeito do Município, Keko, que, na última terça-feira, 31, visitou o território e se reuniu com agricultores e agricultoras dos Engenhos Ilha e Jurissaca na sede de sua associação. Na ocasião, o Prefeito se comprometeu a mediar o diálogo com a empresa SUAPE e a farmacêutica Blau, que tem planos de se instalar na área, para que todas as famílias sejam indenizadas o mais rápido possível, e de maneira justa. Ao mesmo tempo, se comprometeu também em atender às reivindicações da comunidade do Engenho Ilha, para que haja melhoria das estradas e da iluminação pública, abastecimento de água, apoio à agricultura, e para que a expedição de licenças ambientais esteja condicionada à preservação do sistema de drenagem natural, dentre outras reivindicações.

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Comunidades questionam concessão do Parque Armando de Holanda à iniciativa privada

(Foto: Arquivo/DP)

O Parque Metropolitano Armando de Holanda Cavalcanti (PMAHC), no Cabo de Santo Agostinho, está ameaçado de privatização. Em julho deste ano a empresa pública SUAPE, que é responsável pela gestão do PMAHC desde o final da década de 1970, abriu um processo de consulta pública visando transferir a administração do Parque para empresas do setor privado. Reconhecido por seu valor histórico, arqueológico, natural e turístico, o Armando de Holanda conta com 260 hectares, dentro dos quais habitam e trabalham comunidades que já viviam e usavam o território antes de sua demarcação. A proposta de mudança na gestão tem revoltado os moradores do território que apontam um aprofundamento de um processo de gentrificação e privatização de um espaço comum.

Depois de longos anos de uma gestão negligente e, por muitas vezes, repressora com os moradores, a empresa tornou pública, por meio de audiência realizada no último dia 26 de julho, no seu Centro Administrativo, a sua intenção de transferir à iniciativa privada a responsabilidade de gerir parte do espaço, que soma 120 hectares. Dentro dessa área estão construções históricas como a Igreja Nossa Senhora de Nazaré e o Convento das Carmelitas, tombadas pelo IPHAN. 

As implicações dessa concessão para as comunidades que vivem e fazem uso desse território são enormes. A área onde pretende-se instalar o empreendimento é uma zona de livre circulação de pescadores artesanais que residem e trabalham na região, assim como dos próprios moradores das comunidades situadas nas imediações. Para Edinaldo Rodrigues, presidente da Associação de Pescadores e Pescadoras em Atividade do Cabo de Santo Agostinho, a mudança faz parte de projeto continuado de expulsão de moradores e pescadores do território e que o discurso de “inclusão” é mera propaganda. Nal já acompanhou de perto diversas remoções forçadas e relata que, há muito, o clima é de cerceamento de circulação. “Isso machuca nossa alma. Nossos pais, avós e tataravós estão enterrados nesse chão”, afirma. 

Frente a mais um projeto ancorado na lógica dos grandes empreendimentos que tanto já custaram aos moradores da região do Complexo Portuário, as comunidades situadas na área do PMAHC e nas redondezas reivindicam uma participação ativa na tomada de decisão sobre os rumos da gestão desse território. Na audiência pública na qual o projeto foi apresentado, representantes das comunidades e organizações da sociedade civil presentes protestaram contra a privatização. Os presentes denunciaram o histórico de violências e violações de direito praticadas por SUAPE e questionaram a validade do espaço para fins de consulta. “Não reconhecemos a legitimidade dessa audiência pública”, afirmou João Victor, advogado do Fórum Suape, organização que há mais de uma década tem prestado apoio às comunidades afetadas pelas ações do Complexo Industrial Portuário. Segundo ele, a empresa não tem competência legal para convocar um mecanismo deste tipo; além disso, pontuou que a ausência de órgãos competentes como Ministério Público, Defensoria Pública, Iphan e Fundarpe fazem da audiência ilegítima. 

Eu vejo esse empreendimento como um predador“, afirmou Maria Sueli, moradora local, ao microfone, durante a “audiência pública”. Para ela, existem outras formas de gerir aquele espaço: “O que eu realmente queria era um projeto de economia sustentável e que contemplasse de fato as comunidades do entorno“, completa. Assim como ela, diversos moradores expressaram sua preocupação e insatisfação com o projeto e com a precária participação popular na construção da proposta. Representantes das comunidades e de organizações populares com atuação na região vêm se articulando com a Câmara de Vereadores do Cabo de Santo Agostinho para que seja convocada uma audiência pública para debater o tema.

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Campanha

De Mãos Dadas

Sobre o projeto

O projeto “De Mãos Dadas Criamos Correnteza: populações costeiras fortalecidas na luta por justiça socioambiental e climática.” tem seu início em 2022 e segue ao longo de três anos. No objetivo principal de colaborar para o fortalecimento de uma democracia pluralista, participativa e representativa no Brasil, queremos olhar para alguns acordos internacionais sobre meio ambiente, clima e direitos humanos que o Brasil assina junto com tantos outros países, e fazer com que esses direitos e deveres sejam socializados com as comunidades impactadas pelo descumprimento e junto ao campo ambientalista e a sociedade como um todo.

O projeto abrange os estados de   Ceará, Pernambuco e Rio de Janeiro, abarcando duas regiões brasileiras (nordeste e sudeste), totalizando 11 municípios, 20 comunidades e movimentos sociais com os quais estamos juntos pela melhora da eficácia das ações de incidência política, sobretudo no enfrentamento aos megaempreendimentos que se instalam na zona costeira e ameaçam modos de vida, justiça climática, soberania alimentar, biodiversidade, os territórios e as vidas de modo geral, com impacto sobretudo para as mulheres e as comunidades tradicionais.

Em “Zona Costeira” apresentamos um pouco essa região, tão visada pelos interesses econômicos externos  e tão rica em vida, história, espiritualidade, sem deixar de fora os interesses do modelo hegemônico global economicista e degradador. Em “Casos Emblemáticos” você conhecerá um pouco sobre três desses empreendimentos, um em cada estado, que a contrário do prometido desenvolvimento, tem destruído a sociobiodiversidade e os direitos. Em “Territórios de Mãos Dadas” você conhecerá um pouco sobre as comunidades e movimentos que constroem essa correnteza, percebendo o quanto temos que aprender com esses povos na lida com a vida e o planeta, e em como são importantes para preservação também dos ecossistemas. Em “Publicações” encontrará cartilhas, vídeos e estudos dos casos emblemáticos, para utilizar, se apropriar e vir dar suas mãos com as nossas em busca de justiça socioambiental e climática!

Acompanhe o projeto pelo site:
https://demaosdadas.org.br/


Leia também:
Projeto “De Mãos Dadas Criamos Correnteza” lança edital CRIANDO CORRENTEZA de apoio a pequenos projetos de organizações locais


O projeto “De Mãos Dadas Criamos Correnteza: populações costeiras fortalecidas na luta por justiça socioambiental e climática.” foi criado e é mantido com o apoio financeiro da União Europeia. O conteúdo deste site e de todos os produtos publicados pelo projeto são da exclusiva responsabilidade do Instituto Terramar, do Fórum Suape e do Instituto PACS e não reflete necessariamente a posição da União Europeia.

Instituto PACS

Somos uma equipe multidisciplinar de maioria de mulheres, formada por educadoras(es) populares, comunicadoras(es), cientistas sociais, internacionalistas, biólogas(os), psicólogas(os), economistas, pesquisadoras(es), administradoras(es) e militantes. Junto a coletividades auto-organizadas e outras parceiras, partimos, desde os territórios, do debate crítico ao modelo de desenvolvimento capitalista, racista e patriarcal, na direção do fortalecimento de alternativas de justiça econômica, social e ambiental.

Instituto Terramar

O Instituto Terramar é uma Organização da Sociedade Civil sem fins lucrativos de caráter socioambiental. Seu objetivo social é contribuir para a Justiça Ambiental na Zona Costeira do Ceará. Sua atuação está voltada, principalmente, para a garantia de direitos coletivos e individuais de comunidades tradicionais costeiras do Ceará, em especial os direitos ao meio ambiente, ao território, à diversidade cultural, ao trabalho e ao exercício político.

Forum Suape

Um grupo de ativistas, pesquisadores, lideranças comunitárias e organizações da sociedade civil se articularam a partir de 2011 e criaram o Fórum Suape, um movimento em busca do fortalecimento das comunidades tradicionais atingidas pela implantação e expansão do Complexo Industrial Portuário de Suape (CIPS). O agravamento dos conflitos e violações de direitos na região demandava ações mais sistemáticas e estruturadas, o que levou o movimento a repensar sua estrutura de funcionamento, institucionalizando-se, em 2013, como “Associação Fórum Suape | Espaço Socioambiental”.

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Fórum Suape participa de Ato contra Marco Temporal

No dia 05/06, dia internacional do meio ambiente, movimentos indígenas e aliados realizaram ato no Recife contra o Projeto de Lei que pretende firmar a tese do marco temporal para a demarcação de terras indígenas, segundo o qual os povos originários só têm direito às terras que já eram tradicionalmente ocupadas por eles no dia da promulgação da Constituição Federal, em 5 de outubro de 1988.

A tese desconsidera a realidade dos povos indígenas no Brasil, submetidos por séculos a uma política de extermínio, expulsões de suas terras e apagamento cultural. O PL foi aprovado na Câmara dos Deputados e segue agora para o Senado como PL 2.093. Se aprovado, ferirá de morte o direito originário dos povos desta terra.

Fórum participa de Ato em Recife contra Marco Temporal
Ato realizado no dia 5 de junho. Foto: Acervo/Fórum Suape

O ato foi realizado pela Articulação Indígena de Mulheres em Contexto Urbano de Pernambuco (AIMCUPE) e pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) junto a diversos movimentos sociais.

Com muito toré e falas de luta, o ato teve início às 15 horas na Praça do Derby, de onde saiu em marcha pela Av. Conde da Boa Vista, até a Av. Guararapes.

Manifestantes carregavam faixas e cartazes com “Não ao Marco Temporal”, “Defender povos indígenas é defender a vida”, “Sangue indígena, nenhum a mais, direito indígena, nenhum a menos” e “Antes do Brasil da coroa já existia o Brasil do Cocar”.

De acordo com Jarluzia Tapuia, Diretora de Povos do DCE da UFPE, “estamos na luta pelo planeta, o PL é um projeto que compromete o futuro da humanidade, não apenas dos povos indígenas”.

O Fórum Suape se soma à luta contra a tese do marco temporal, por entender que ela representa uma sentença de morte contra os povos indígenas, contra o meio ambiente e contra o futuro da humanidade. Defender a demarcação de terras indígenas é defender a preservação da diversidade biológica e sociocultural do planeta. É defender florestas de pé. É, enfim, defender a vida.

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